Emmanuel Macron deu até esta quarta-feira à noite, 8 de outubro, a Sébastien Lecornu, o seu primeiro-ministro demissionário, para se reunir com os líderes partidários e tentar encontrar uma solução para este novo capítulo da crise política que a França vive desde junho de 2024, quando o presidente deitou a perder a maioria que o apoiava no Parlamento e convocou umas legislativas antecipadas depois da extrema-direita ter saído vencedora nas eleições europeias. Sébastien Lecornu traçou duas prioridades - a aprovação do Orçamento de Estado e para a Segurança Social, bem como o futuro da Nova Caledónia - para as negociações, referindo no X que “todos os presentes concordaram com estas duas urgências e manifestaram a vontade de encontrar uma solução rápida”. No entanto, a possibilidade de ter sucesso na sua missão é muito reduzida. Macron, que já vai no seu terceiro chefe de governo no espaço de um ano (num total de sete desde que tomou posse em 2017) e que se tem recusado a convocar novas eleições, estará pronto para “assumir as suas responsabilidades” em caso de fracasso, segundo uma fonte do Eliseu, aparentemente aludindo à convocação de novas eleições legislativas. A verdade é que o presidente francês - que esta terça-feira esteve reunido, em separado, com os líderes da Assembleia Nacional e do Senado - já tem pouca margem de manobra para resolver esta crise, ainda para mais numa altura em que os seus aliados começam a romper fileiras. .Orçamento e Nova Caledónia, as prioridades de Lecornu nas negociações para salvar o governo em França.Édouard Philippe, o primeiro chefe de governo de Macron e atual líder do Horizontes, afirmou esta terça-feira, 7 de outubro, que o presidente deveria demitir-se antes do final do seu mandato (que termina em 2027), e não “de imediato”, reforçando que é a ele que cabe “encontrar uma solução” para a crise política. Na opinião do líder do Horizontes, que tem apoiado Macron no Parlamento e já anunciou a sua intenção de se candidatar ao Eliseu, o presidente faria bem “se, por exemplo, nomeasse um primeiro-ministro com a tarefa de gerir os assuntos atuais e elaborar um orçamento, e fazer com que esse orçamento fosse adotado”. Depois disso, Macron, prosseguiu Philippe, deveria “anunciar que está a organizar uma eleição presidencial antecipada, o que significa que sairá imediatamente após o orçamento” ser aprovado.“Não vamos prolongar o que estamos a viver nos últimos seis meses. Mais dezoito meses é tempo a mais e é prejudicial para a França”, referiu ainda o antigo primeiro-ministro à RTL, antes do seu encontro com Lecornu. Gabriel Attal, outro antigo primeiro-ministro de Macron, mostrou-se esta terça-feira, 7 de outubro, contra a ideia de presidenciais antecipadas lançada por Philippe, defendendo que “o que é necessário hoje não é acrescentar uma crise à crise. É resolver a crise”. Mesmo assim, o atual líder do Renascimento, o partido presidencial, não poupa críticas a Emmanuel Macron, afirmando que “precisamos simplesmente de ter a mente clara”. “A clareza exige que digamos que foram tomadas decisões incompreensíveis”, acrescentou Attal, apelando a uma “mudança de método” por parte de Macron e a “negociações sinceras, honestas e de boa-fé, sem provocações ou ameaças”. No dia anterior, Attal já havia dito que “como muitos franceses, já não compreendo as decisões do presidente da República: houve a dissolução e, desde então, houve decisões que dão a impressão de uma forma de determinação para manter o controlo”.Bruno Retailleau, presidente de Os Republicanos e ministro do Interior cessante, é dado como o principal impulsionador da queda do governo de Lecornu, ao criticar a sua composição, alegando que esta não espelhava a prometida “profunda rutura” com a política passada. Ontem, seguiu a mesma linha de pensamento, declarando que não descartava o regresso do seu partido ao governo, mas com “uma condição”. “Que seja um governo a que eu chamaria coabitação” com o governo de Macron. “Hoje só há duas soluções para avançar: um governo de coabitação ou a dissolução”, acrescentou.Socialistas, comunistas e ecologistas disseram ontem numa declaração conjunta que “Macron deve nomear um primeiro-ministro e um governo de esquerda e verde”, enquanto que a França Insubmissa, de extrema-esquerda, insiste na destituição do presidente. Do lado da extrema-direita, Marine Le Pen e Jordan Bardella recusaram ontem encontrar-se com Lecornu, alegando que “estas enésimas negociações já não visam proteger os interesses do povo francês, mas sim os do próprio presidente da República”, reiterando “a sua exigência de dissolução” do Parlamento.Uma sondagem da Elabe conhecida na segunda-feira mostra que 47% dos franceses acredita que Macron é o responsável pela atual situação política e 37% diz que é uma responsabilidade coletiva. Quanto à solução para a crise, 51% refere que a demissão do presidente resolveria o problema e 42% aponta que a crise seria desbloqueada com novas legislativas..França. Macron adia para quarta-feira o passo seguinte da crise política que criou