Kiev está pronto a negociar se Moscovo mostrar “boa-fé”, diz Kuleba em visita à China
O chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kuleba, disse esta quarta-feira na China que Kiev está disponível para negociar com Moscovo, mas só se os russos estiverem preparados para o fazer de “boa-fé”. Algo que duvida que estejam. Do lado do Kremlin, o porta-voz Dmitry Peskov defendeu que a mensagem “está em uníssono” com a posição russa, lembrando que Moscovo nunca recusou dialogar. Mas lembrou que é preciso saber os detalhes.
“Kuleba reafirmou [...] que está pronto a envolver o lado russo no processo de negociação numa determinada fase, quando a Rússia estiver pronta para negociar de boa-fé, mas enfatizou que tal prontidão não é atualmente observada no lado russo”, lê-se no comunicado do seu ministério, após um encontro de mais de três horas com o homólogo chinês, Wang Yi, em Cantão.
Kuleba é o mais alto responsável ucraniano a visitar a China desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022. Pequim nunca condenou a invasão, considerando fundamental a parceria com Moscovo num contrapeso à ordem mundial liberal liderada pelos EUA. Em junho, antes da Cimeira para a Paz na Ucrânia, que se realizou na Suíça (sem a presença de Moscovo), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou Pequim de ajudar os russos a pressionar outros países para que não estivessem presentes. A China negou a acusação.
Do lado chinês, Wang Yi assegurou esta quarta-feira que Pequim vai “continuar a desempenhar um papel construtivo” na retoma das negociações de paz. “A China considera que a resolução de todos os diferendos deve ser levada à mesa das negociações, mais cedo ou mais tarde. A resolução de qualquer litígio deve ser sempre alcançada através de meios políticos”, disse, segundo o comunicado divulgado pelo seu ministério.
Wang lembrou ainda que “tanto a Ucrânia como a Rússia mostraram sinais de vontade de negociar a vários níveis”, embora reconhecendo que “as condições e o momento não são ainda os mais adequados”. O líder russo, Vladimir Putin, disse em junho que a Rússia estava disponível para acabar a guerra apenas se a Ucrânia aceitar virar as costas à NATO e abdicar das quatro regiões anexadas por Moscovo. Algo que Kiev rejeitou.
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