Ao contrário da primeira tranche de documentos do chamado ficheiro Epstein, divulgada na sexta-feira (19 de dezembro), a segunda leva de revelações inclui várias referências ao presidente dos EUA, Donald Trump. Mas o Departamento de Justiça apressou-se a dizer que as quase 30 mil novas páginas contêm “alegações falsas e sensacionalistas” contra ele que “foram submetidas ao FBI pouco antes da eleição de 2020” e que “se tivessem o mínimo de credibilidade, certamente já teriam sido usadas como arma” contra Trump. Um dos documentos em que aparece o nome do presidente é de uma denúncia feita por telefone ao FBI, a 27 de outubro de 2020, onde surge a frase “Donald J. Trump tinha-a violado junto com Jeffrey Epstein”. É o relato de uma conversa, não uma denúncia em nome próprio, sendo que a vítima em causa terá sido encontrada morta com um tiro na cabeça. O relato, cheio de informações tapadas, é confuso.Uma das principais referências a Trump (há muitas que são apenas recortes de jornais) é num email de um assistente do procurador de Nova Iorque (tanto o nome do remetente como o do destinatário estão censurados, mas o cargo surge na assinatura), datado de 7 de janeiro de 2020. O presidente, que conheceu Jeffrey Epstein nos anos 1990 e cortou relações antes de este ter problemas com a justiça devido ao abuso e tráfico de menores, surge listado como passageiro do avião privado do antigo amigo em oito ocasiões - “muitas mais vezes do que tinha sido divulgado antes (ou de que sabíamos)”. O email, citado pela BBC, indica que Trump “consta como passageiro em pelo menos oito voos entre 1993 e 1996, incluindo pelo menos quatro voos em que Maxwell também esteve presente”, referindo-se à antiga namorada de Epstein. Ghislaine Maxwell foi condenada a 20 anos de prisão por tráfico sexual e conspiração pelo seu papel como cúmplice do pedófilo, que morreu na prisão em agosto de 2019 antes de ser julgado. Os documentos divulgados esta terça-feira (23 de dezembro) incluem também um vídeo falso que alegadamente mostra o seu suicídio.Ainda em relação aos voos, o email diz que Trump viajou em algumas ocasiões com Marla Maples, a sua segunda mulher, a sua filha Tiffany e o seu filho Eric. "Num voo em 1993, ele e Epstein são os únicos dois passageiros listados; noutro, os únicos três passageiros são Epstein, Trump e uma pessoa de 20 anos na altura", refere a BBC, indicando que o nome dessa pessoa está censurado. O Departamento de Justiça tem que proteger as alegadas vítimas, não sendo certo que se trate de uma. O texto do email continua: “Noutros dois voos, duas das passageiras eram mulheres que poderiam ser testemunhas num caso que envolvia Maxwell.”Trump reagiu pela primeira vez à divulgação dos ficheiros Epstein na segunda-feira (22 de dezembro) à noite, referindo-se à primeira tranche onde havia várias fotografias do ex-presidente Bill Clinton. Trump queixou-se que as revelações possam estar a prejudicar pessoas que o “conheceram de forma inocente”. O presidente, que na campanha se rodeou de pessoas que prometeram revelar o ficheiro, tentou depois passá-lo como uma “farsa” e evitar que viesse a público. Foi preciso uma lei do Congresso para que estes documentos fossem revelados.O “Homem Invisível”As últimas revelações trazem também mais más notícias para André Mountbatten-Windsor. O príncipe já teve que abdicar dos títulos devido à sua relação com Epstein e nestes documentos há um email de 2001 em que o “Homem Invisível” - que assina apenas com um A e surge na lista de endereços de Epstein como sendo André - pergunta a Ghislaine Maxwell se já “lhe encontrou novos amigos inapropriados”. Ou pode ser “novas amigas inapropriadas”, uma vez que a palavra inglesa friends não tem género.Noutro email com o mesmo “Homem Invisível”, sobre uma viagem ao Peru, há referência que ele quer “ver as vistas”, referindo-se a “vistas com duas pernas (leia-se inteligentes, divertidas e de boas famílias)” e “ficará feliz”. André tem negado repetidamente qualquer crime.