Giorgio Armani, em 2024, não resistiu ao desafio de tecer um comentário sobre a primeira-ministra italiana: “Acredito que Giorgia Meloni tem dois atributos corporais bastante fortes. Ela não os tem, mas é como se tivesse.” O estilista falecido no mês passado não aprofundou o tema, mas um dos atributos será a estatura. Apesar de medir entre 158 e 163 centímetros, consoante as fontes, e de este ser um tema sensível (no ano passado uma jornalista foi condenada por, entre outras mensagens nas redes sociais, ter dito que a chefe do governo mede 1,20m), a líder dos Irmãos de Itália já deu provas da sua estatura política. Depois de se ter apresentado como a alternativa aos executivos disfuncionais do Movimento Cinco Estrelas, ou de soluções tecnocráticas como a encabeçada por Mario Draghi, a líder da extrema-direita resistiu a três anos de governação, mantendo a sua popularidade em alta e com alguns indicadores económicos positivos. A volatilidade do cargo de primeiro-ministro em Itália era tão elevado que os mercados financeiros, na pior das hipóteses, reagiam com indiferença à troca. Meloni impôs estabilidade e o 68.º governo é já o terceiro com mais dias de vida, atrás do segundo e do quarto executivos do seu antigo aliado Silvio Berlusconi. A que se deve este feito? Mérito da própria, que ao chegar ao poder não deixou cair a sua mensagem tradicionalista e conservadora, antes adaptou-a com cautela, pragmatismo e discrição, fosse no palco europeu, fosse na política doméstica - o oposto da postura do seu principal aliado internacional, Donald Trump - com a meta de transformar as instituições por dentro. Os opositores afirmam que a sua presença externa se resume a uma maior visibilidade vazia de influência, ao ponto de Maurizio Landini, secretário-geral da maior confederação sindical, CGIL, a ter comparado a uma “cortesã” depois de a ver na cimeira da paz de Sharm el-Sheik, onde Trump a qualificou de "bonita". . O governo que reúne Irmãos de Itália, Liga e Força Itália publicou um documento de 68 páginas a detalhar os sucessos de três anos: da taxa de desemprego mais baixa desde 2007 (6%), ao nível de investimento em obras públicas (mais 61% face a 2022), ou ao défice do Produto Interno Bruto, que deverá ficar no limite previsto pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento da UE (3%), depois de ter atingido 8,1% em 2022. Para atingir estes resultados, Meloni socorreu-se do ministro do Desenvolvimento Económico do governo Draghi, Giancarlo Giorgetti, o qual prosseguiu as políticas de cortes nas despesas - e que remontam ao governo de Mario Monti (2011-2013), o agora senador que a elogiou na quarta-feira por “manter a disciplina nas contas públicas”. Como ministro da Economia e das Finanças, Giorgetti tem reduzido a despesa pública em áreas como a saúde, a investigação ou a cultura, ou ao retirar o rendimento aos 2,5 milhões de italianos mais desfavorecidos, mas baixou a carga fiscal dos pequenos empresários e aumentou pensões. Para de futuro introduzir cortes nos impostos e mais benefícios sociais e assim devolver algum poder de compra às classes mais modestas, Meloni e Giorgetti planeiam arcar 11 mil milhões de euros aos bancos e às seguradoras nos próximos três anos, segundo o Financial Times. Um tema que tem provocado tensões máximas na coligação depois da falhada taxa aos lucros dos bancos.Mas não há só números positivos em Itália. O país continua com uma dívida de 135% do PIB, a produção industrial caiu 7,5% nos três anos, e a contínua emigração aliada à crise demográfica obrigam o executivo, tão avesso à imigração - e que gastou milhões num plano derrotado pelos tribunais para enviar imigrantes para a Albânia - a permitir a entrada de meio milhão de pessoas. Prevê-se um crescimento do PIB de 0,5% enquanto o país beneficia do cheque mais gordo da UE no que toca ao Plano de Recuperação e Resiliência: 194 mil milhões de euros. “O único crescimento que temos deve-se ao PRR. Sem ele, estaríamos em recessão”, afirma o antigo ministro Carlo Calenda à Reuters. Líder do partido centrista Ação, Calenda lamenta que o dinheiro tenha sido distribuído pelos municípios, “muito dele em projetos totalmente inúteis”. Pior, afirmam especialistas, é que Meloni está a deitar fora a oportunidade para realizar reformas estruturais.