A ofensiva de Israel mergulhou Gaza numa crise humanitária, com a ONU a relatar fome generalizada (arquivo).
A ofensiva de Israel mergulhou Gaza numa crise humanitária, com a ONU a relatar fome generalizada (arquivo).EPA/HAITHAM IMAD

Israel interrompe combates em três zonas de Gaza face à fome. Camiões já estão a entrar no território

Forças armadas israelitas indicaram que vão estabelecer corredores humanitários para "facilitar a movimentação segura das caravanas da ONU que entregam alimentos e medicamentos à população".
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As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) anunciaram este domingo, 27, uma "pausa tática" nos combates em três zonas da Faixa de Gaza, no âmbito das medidas para lidar com o agravamento da situação humanitária.

O exército israelita afirmou que iria interromper as atividades em Muwasi, Deir al-Balah e na Cidade de Gaza, das 10:00 às 20:00 (das 08:00 às 18:00 em Lisboa), até novas ordens.

Os militares disseram ainda que não tinham atualmente operações no terreno nestas três áreas, mas admitiram que houve combates e ataques em cada uma delas nas últimas semanas.

Em comunicado, as IDF indicaram que vão estabelecer corredores humanitários designados para "facilitar a movimentação segura das caravanas da ONU que entregam alimentos e medicamentos à população".

O anúncio surge após meses de alertas de especialistas sobre a fome, devido a restrições israelitas à ajuda humanitária. As críticas internacionais, incluindo de aliados de Israel, aumentaram com a morte de centenas de palestinianos nas últimas semanas, quando tentavam chegar aos locais de distribuição de alimentos.

Também hoje, horas antes as IDF retomaram os lançamentos aéreos de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.

"Em conformidade com as orientações da liderança política, as IDF realizaram recentemente um lançamento aéreo de ajuda humanitária como parte dos esforços para permitir e facilitar a entrada de ajuda na Faixa de Gaza", afirmou o exército.

De acordo com um comunicado, publicado na plataforma de mensagens Telegram, o lançamento aéreo, realizado em coordenação com organismos internacionais e o COGAT (organismo israelita que gere os assuntos civis), incluiu sete paletes com farinha, açúcar e alimentos enlatados.

O objetivo é “refutar a falsa alegação de fome deliberada na Faixa”, afirmaram as IDF, em comunicado.

A retoma do lançamento aéreo de ajuda humanitária surge horas depois de um comando naval de Israel intercetado o navio Handala, da Flotilha da Liberdade, com 21 tripulantes a bordo, incluindo dois espanhóis, e garantiu que todos estão seguros e a caminho da costa israelita.

A Coligação da Flotilha da Liberdade denunciou a interceção, ocorrida a menos de 100 quilómetros da costa de Gaza, como ilegal, uma vez que o navio se encontrava em águas internacionais a caminho de romper o bloqueio israelita ao enclave com um carregamento de ajuda humanitária. Concluiu, por isso, que os seus passageiros foram sequestrados.

O navio "transportava um carregamento de ajuda humanitária crucial para os palestinianos em Gaza, incluindo leite infantil, fraldas, alimentos e medicamentos", acrescentou a ONG.

Camiões atravessaram a fronteira

Dezenas de camiões com ajuda humanitária atravessaram já a fronteira egípcia de Rafah em direção à Faixa de Gaza, após Israel anunciar a “pausa tática”, e os Emirados Árabes Unidos pretendem retomar a ajuda aérea aquele território “imediatamente”.

“Dezenas de camiões egípcios com ajuda humanitária começaram a sair do lado egípcio da passagem de Rafah na manhã de domingo em direção à Faixa de Gaza. Os camiões transportam grandes quantidades de alimentos, farinha e suprimentos essenciais para infraestruturas, como parte dos esforços contínuos do Egito para aliviar a crise humanitária que se agrava na Faixa", avançaram televisões estatais egípcias, como a Al Qahera News e a ExtraNews.

Ambas as emissoras mostraram imagens ao vivo dos camiões a deixar o território egípcio, embora não tenham indicado, até ao momento, o número de veículos que estão a atravessar a fronteira.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos (EAU), Abdullah bin Zayed Al Nahyan, garantiu que o seu país retomará a ajuda aérea a Gaza “imediatamente”, após a situação humanitária na Faixa ter atingido “um estágio crítico e sem precedentes”.

“Os lançamentos aéreos serão retomados imediatamente, mais uma vez. O nosso compromisso de aliviar o sofrimento e prestar apoio é firme e inabalável”, afirmou nas últimas horas o chefe da diplomacia dos Emirados na sua conta oficial no X.

Sustentando que “a situação humanitária em Gaza atingiu um nível crítico e sem precedentes”, assegurou que os Emirados Árabes Unidos “continuam na vanguarda dos esforços para prestar assistência vital ao povo palestino”: “Garantiremos que a ajuda essencial chegue aos mais necessitados, seja por terra, ar ou mar”, disse.

Os Emirados, que em 2020 normalizaram as relações com Israel, continuam a enviar ajuda ao enclave palestiniano através de várias iniciativas humanitárias.

De acordo com a televisão estatal egípcia Al Qahera News, nos últimos quatro dias entraram em Kerem Shalom (Israel), para inspeção, um total de 458 camiões que transportavam vários tipos de alimentos e ajuda humanitária, incluindo leite em pó para bebés e farinha.

Segundo o canal, esses produtos estavam armazenados na zona logística de Rafah, localizada na península do Sinai egípcio — no leste do Egito e na fronteira com Gaza —, já há “muito tempo”, mas as autoridades egípcias não permitem que “nenhum dos produtos seja transportado sem verificar a data de validade e se é próprio para consumo humano”.

No sábado, o governo de Gaza alertou que, se nos próximos dias não entrar leite em pó e suplementos nutricionais, mais de cem mil crianças em Gaza correm o risco de morrer de desnutrição.

O número total de vítimas por desnutrição desde o início da ofensiva israelita contra a Faixa de Gaza, em 7 de outubro de 2023, ascende a 127, das quais 85 eram crianças, de acordo com dados do departamento de Saúde de Gaza.

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