O programa nuclear do Irão esteve na origem dos ataques de Israel e dos EUA em junho.
O programa nuclear do Irão esteve na origem dos ataques de Israel e dos EUA em junho. EPA / ABEDIN TAHERKENAREH

Irão manda regressar embaixadores em França, Alemanha e Reino Unido depois de anúncio de novas sanções

Os três países acusam o Irão de incumprimento do acordo alcançado em 2015 que estabelece limites ao programa nuclear.
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O Irão mandou regressar, este sábado, dia 27 de setembro, os seus embaixadores em França, na Alemanha e no Reino Unido, na sequência do anúncio, pelos três países europeus, de que anúncio iam repor sanções a Teerão pelo seu programa nuclear.

Os três Estados europeus - o designado grupo E3 - tinham avançado com aquilo a que os diplomatas chamam sanções ‘snapback’ contra o Irão, por não cooperar com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) e não cumprir os compromissos de limitação do programa nuclear previstos no acordo alcançado em 2015.

O acordo, que limitava o programa iraniano, foi abandonado pelos Estados Unidos em 2018, sendo que o Irão acusa o E3 de não cumprir a sua parte do acordo.

A decisão do Irão foi noticiada este sábado pela agência de notícias estatal iraniana IRNA, na qual é adiantado que os embaixadores foram chamados de volta para consultas.

As sanções deverão ser retomadas às 00:00 TMG (01:00 em Lisboa) de domingo.

A medida irá congelar novamente os ativos iranianos no estrangeiro, interromper os negócios de armas com Teerão e penalizar qualquer desenvolvimento do programa de mísseis balísticos do Irão, entre outras medidas.

As resoluções da ONU visam conter o enriquecimento de urânio e o programa de mísseis iraniano e autorizar inspeções de aviões e navios da República Islâmica, bem como o congelamento de ativos económicos iranianos em todo o mundo e proibições de viagens a indivíduos e entidades.

Teerão defende que estas sanções da ONU deveriam ser “focadas na não-proliferação nuclear e militar” e não na economia.

Na intervenção feita na sexta-feira no debate geral da Assembleia Geral das Nações Unidas, o Presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, reiterou que Teerão “nunca procurou nem procurará” obter armas nucleares, rejeitando as acusações ocidentais nesse sentido.

Também o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão disse na sexta-feira, no Conselho de Segurança da ONU, que a reimposição de sanções internacionais é “legalmente nula e sem efeito”.

“A posição do Irão em relação ao E3, que desencadearam o processo de reimposição de sanções, é clara e consistente: esta é legalmente nula e sem efeito e politicamente perigosa”, afirmou Abbas Araghchi.

Entretanto, e segundo a agência de notícias internacional Associated Press, os ativistas iranianos temem uma crescente onda de repressão dentro da República Islâmica, que já terá executado mais pessoas este ano do que nas últimas três décadas.

Enquanto a economia, já em muitas dificuldades, do Irão se prepara para a reimposição das sanções das Nações Unidas, são as pessoas comuns têm cada vez menos acesso aos alimentos de que necessitam para sobreviver, avisam.

A moeda iraniana já está num mínimo histórico, aumentando a pressão sobre os preços dos alimentos e tornando a vida quotidiana ainda mais desafiante.

As preocupações passam ainda pela possibilidade de novos combates entre o Irão e Israel — bem como, potencialmente, com os Estados Unidos —, uma vez que os locais de lançamento de mísseis atingidos durante a guerra de 12 dias em junho parecem estar a ser reconstruídos.

Israel e os Estados Unidos bombardearam em junho as instalações nucleares iranianas, visando atrasar o enriquecimento por Teerão de urânio com teor suficiente para produção de armas nucleares.

A campanha de bombardeamentos teve o seu ponto alto a 22 de junho, quando a Força Aérea e a Marinha norte-americanas atacaram as três mais importantes instalações nucleares iranianas: as centrais de enriquecimento de combustível de Fordow e Natanz e o Centro de Tecnologia Nuclear de Isfahan.

O resultado do ataque não é consensual, com os governos norte-americano e israelita a reivindicarem uma destruição do programa nuclear iraniano, e outras fontes a darem conta de apenas um atraso ligeiro, de alguns meses, até Teerão dispor de urânio para bombas atómicas.

O Irão já está sujeito a inúmeras sanções dos EUA que limitam a capacidade do país persa de negociar com outros países e, especialmente, vender petróleo, gás e derivados.

Apesar disso, a República Islâmica produz 4,8 milhões de barris por dia de petróleo bruto e gás natural e exporta 2,6 milhões de barris por dia, principalmente para a China, de acordo com um relatório de junho da Agência Internacional de Energia.

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