Espanha. Red Elétrica descarta apagão provocado por ciberataque. Sánchez mantém todas as hipóteses em aberto
O primeiro-ministro espanhol disse esta terça-feira que ainda não há explicação para o apagão na Península Ibérica e nenhuma hipótese está descartada, depois de a empresa que gere a rede elétrica do país ter rejeitado a possibilidade de ciberataque.
"O Governo de Espanha vai chegar ao fundo deste assunto" e, perante as conclusões, vai fazer reformas e adotar as medidas necessárias "para que não volte a acontecer", assim como "exigir todas as responsabilidades pertinentes aos operadores privados", assegurou Pedro Sánchez, numa conferência de imprensa em Madrid.
Sánchez insistiu diversas vezes que o Governo espanhol tem como prioridade, depois de "consolidar o restabelecimento do sistema elétrico a 100%", "descobrir o que aconteceu" nos "cinco segundos" que levaram ao apagão de segunda-feira.
O líder do executivo disse esperar ter os primeiros resultados das investigações e análises em curso nas próximas horas ou dias e realçou que, para já, todas as hipóteses se mantêm em aberto.
Para isso, o Governo espanhol criou uma "comissão de análise técnica independente dos operadores privados" para chegar às suas próprias conclusões, e pediu também um relatório aos organismos competentes da União Europeia (UE).
Sánchez disse não questionar a primeira conclusão da empresa Red Eléctrica de Espanha (REE), que gere a rede de eletricidade do país, que disse hoje que está descartada a possibilidade de um ciberataque aos sistemas de controlo da companhia.
"Mas a responsabilidade do Governo de Espanha é fazer uma análise independente" e "usar todos os mecanismos para examinar todos os registos", sem "descartar nenhuma hipótese até ter resultados", afirmou o primeiro-ministro.
Sánchez prometeu que todos os resultados das investigações serão tornados públicos de imediato e enviados ao parlamento.
"Transparência absoluta", garantiu o líder do Governo, que sublinhou estar em causa a "confiança nas instituições".
O Governo espanhol é "consciente de que há perguntas" em relação ao apagão por responder, e "é o primeiro interessado" em as esclarecer, disse Sánchez, que revelou que irá ao parlamento no dia 07 de maio para dar mais explicações sobre esta "crise de eletricidade".
Sánchez voltou a alertar para a desinformação que está a circular em relação ao apagão e alertou para a "enorme complexidade do sistema elétrico", sendo necessário tempo para fazer uma "análise e um diagnóstico claro e certeiro".
Sobre os boatos e desinformação que andam a circular, realçou que não existem neste momento "provas conclusivas" de que o apagão se deveu a um ciberataque ou a uma experiência e negou que tenha havido "um problema de excesso de renováveis", de "uma sobreprocura sem resposta” ou de "falta de energia nuclear".
O consumo de eletricidade no momento do apagão era "relativamente baixo e bastante normal", como também aconteceu nos dias prévios, pelo que havia "grande disponibilidade" de eletricidade na segunda-feira.
Red Elétrica descarta que apagão tenha sido provocado por ciberataque
Já a empresa espanhola Red Elétrica descartou esta terça-feira que o apagão da véspera tenha sido provocado por um ciberataque.
"Podemos concluir que não houve intrusão na rede elétrica", disse o diretor de operações, Eduardo Prieto, em conferência de imprensa.
Segundo o diretor da REE, a empresa trabalhou desde segunda-feira com o Instituo Nacional de Cibersegurança de Espanha, que está na tutela do Centro Nacional de Inteligência.
"E esta manhã podemos concluir que efetivamente não houve nenhum tipo de intrusão nos sistemas de controlo da Red Elétrica que possa ter provocado o incidente", afirmou.
O jornal ABC já avançara que a investigação espanhola ao apagão não encontrara, pelo menos até ao momento, qualquer evidência de que a rede eléctrica de Espanha tenha sido afetada por um ciberataque.
De acordo com as fontes “latamente fidedignas” deste jornal não há qualquer evidência de que tenha acontecido um ataque, o que não significa que não tenha ocorrido. Estados Unidos, Rússia, China e Israel seriam, segundo o ABC, os únicos países a conseguir esse feito.
Segundo Pedro Sánchez revelou na segunda-feira, houve "uma forte oscilação, em termos técnicos, no sistema elétrico europeu, que desencadeou a interrupção do abastecimento em toda a Península Ibérica e algumas zonas do sul de França".
"Às 12h33, e durante cinco segundos, 15 gigawatts de energia que estava a ser produzida desapareceram repentinamente do sistema. É algo que nunca aconteceu antes", disse o primeiro-ministro espanhol. "Quinze gigawatts equivalem a aproximadamente 60% do consumo do país nesse momento", detalhou, prometendo uma investigação para determinar o que o provocou.
Em Portugal, o Centro Nacional de Cibersegurança também revelou na segunda-feira que não foram identificados até àquele momento indícios que apontassem para um ciberataque na falha na rede elétrica.
A vice-presidente executiva da Comissão Europeia Teresa Ribera também disse na segunda-feira não existirem nessa altura provas de ciberataque no corte maciço no abastecimento elétrico na Península Ibérica, falando porém numa “das maiores falhas no sistema” na União Europeia (UE).
“Não estamos a descartar nada de momento, mas não há provas de qualquer tipo de problema de cibersegurança. Estamos atentos a tudo e a principal prioridade é, obviamente, restaurar o sistema elétrico e avaliar e compreender o que aconteceu”, declarou a responsável no executivo comunitário pela pasta de Transição Limpa, Justa e Competitiva, Teresa Ribera, à imprensa em Bruxelas.
Tribunal de Espanha vai investigar possibilidade de ter sido ciberataque
Apesar da explicações da empresa espanhola Red Elétrica, o juiz do Tribunal Nacional espanhol José Luis Calama anunciou ter iniciado uma investigação preliminar para apurar se o apagão de segunda-feira da rede elétrica espanhola pode ter sido um ciberataque às infraestruturas críticas espanholas.
Caso se comprovasse esse cenário, o ato constituiria um crime de terrorismo, explicou.
O anúncio foi feito pouco depois de a empresa responsável pela gestão da rede elétrica de Espanha ter descartado a possibilidade de o apagão, que também afetou Portugal e o sul de França, ter sido provocado por um ato de sabotagem cibernética à companhia.