Guerra na Ucrânia chega à península coreana
Pressionada no ano passado pelo aliado norte-americano para fornecer militarmente a Ucrânia, a Coreia do Sul ateve-se à sua legislação, que proíbe o envio de armas e munições para países em conflito. Consequência direta da assinatura do pacto de defesa mútua entre a Rússia e a Coreia do Norte, na quarta-feira, Seul disse agora que vai rever essa limitação. Pouco depois, o líder russo respondeu na mesma moeda, admitindo que poderá transferir armas para a ditadura do norte da península coreana.
O governo da Coreia do Sul, através do conselheiro para a segurança nacional, Chang Ho-jin, declarou que vai reconsiderar a sua posição sobre o fornecimento de armas à Ucrânia, tendo também condenado o “tratado estratégico” assinado durante a cimeira entre os líderes da Rússia e da Coreia do Norte, Vladimir Putin e Kim Jong-un. “Tencionamos reconsiderar a questão do fornecimento de armas à Ucrânia”, disse Chang.
A lei do comércio externo da Coreia do Sul proíbe a exportação de armas para partes em conflito, e proíbe a reexportação para países terceiros sem a sua autorização, embora o executivo possa levantar essa limitação. Até agora, e perante a carência de munições por parte das forças de Kiev - em especial as de 155 mm -, o mais longe que Seul terá ido foi fornecer os EUA com munições, enquanto os norte-americanos terão transferido as suas para a Ucrânia.
Entre os documentos secretos que o militar norte-americano de ascendência portuguesa Jack Teixeira divulgou no ano passado incluía-se um relatório que analisava como o Conselho de Segurança Nacional da Coreia do Sul se debatia com o pedido dos EUA para enviar munições para a Ucrânia: Seul receava uma reação de Moscovo que pudesse ter consequências na segurança da península. Acabaram por chegar graças à necessidade de Moscovo em obter munições, tendo recorrido a um país ainda mais isolado da cena internacional.
“O governo manifesta grande preocupação e condena a assinatura do acordo de parceria estratégica global entre a Coreia do Norte e a Rússia, que visa reforçar a cooperação militar e económica mútua”, disse ainda Chang , que recordou que tal constitui uma violação das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Segundo a agência de notícias Yonhap, Seul vai manter a ambiguidade estratégica relativamente aos tipos de armas que poderão ser fornecidas à Ucrânia, mas os sistemas de defesa aérea poderão fazer parte da lista, tendo em conta as necessidades da Ucrânia. Chang anunciou ainda que o seu país vai impor sanções adicionais a quatro navios russos, cinco organizações e oito indivíduos envolvidos na transferência de armas e petróleo entre a Rússia e a Coreia do Norte, isto no dia em que um cargueiro que zarpou da Coreia do Norte com destino à Rússia foi apresado pelas autoridades sul-coreanas no porto de Busan por suspeita de violar as sanções das Nações Unidas.
Em visita ao Vietname, outro regime comunista a receber Putin de braços abertos depois da Coreia do Norte, o líder russo disse que a Coreia do Sul “não tem nada com que se preocupar”, mas advertiu Seul para não cometer “um erro muito grande“ de fornecer armas a Kiev. “Se acontecer, tomaremos uma decisão que provavelmente não agradará aos atuais dirigentes sul-coreanos”. Dito de outra forma: “Aqueles que os enviam [mísseis para a Ucrânia] pensam não estar a lutar contra nós, mas eu disse, incluindo em Pyongyang, que nos reservamos o direito de fornecer armas a outras regiões do mundo, tendo em conta os nossos acordos com a RPDC”, disse referindo-se à Coreia do Norte.
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