O liberal Demokraatit, liderado por Jens-Frederik Nielsen, é agora o maior partido da Gronelândia.
O liberal Demokraatit, liderado por Jens-Frederik Nielsen, é agora o maior partido da Gronelândia. Mads Claus Rasmussen/EPA

Gronelândia vira à direita mas o discurso anti-Trump mantém-se

Demokraatit mais do que triplicou os deputados, mas precisa de uma coligação para governar. Jens-Frederik Nielsen acha o presidente dos EUA “uma ameaça” e afasta um cenário imediato de independência.
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O liberal pró-independência Demokraatit foi o surpreendente vencedor das eleições da Gronelândia, com a atual coligação governamental de centro-esquerda formada pelo Inuit Ataqatigiit e pelo Siumut a perder metade dos seus deputados e a ficar em terceiro e quarto lugar, respetivamente. Mas, apesar dos eleitores do território autónomo da Dinamarca terem optado por uma viragem à direita, o sentimento contra Donald Trump e as suas intenções de controlar a maior ilha do mundo manteve-se inalterado.

Os democratas, que são a favor de uma independência gradual da Dinamarca, passaram de três para dez o número de deputados entre os 31 do Parlamento gronelandês, num total de 30,26% dos votos, segundo os resultados divulgados esta quarta-feira. Do lado oposto, o estreante Qulleq não obteve votos suficientes para se tornar no sexto partido com representação parlamentar. “Não esperávamos que a eleição tivesse este resultado. Estamos muito felizes”, confessou Jens-Frederik Nielsen, o líder do Demokraatit, dizendo ainda que estão abertos “a conversas com todos os partidos e estão em busca de unidade. Especialmente com o que está a acontecer no mundo”.

Mas as opções mais prováveis para os liberais encetarem negociações para formar uma coligação governamental são duas - com os centristas-populistas do Naleraq, que ficaram em segundo lugar, mas defendem uma independência imediata, ou com o Inuit Ataqatigiit, do primeiro-ministro Múte Egede, que também é a favor de uma independência gradual, mas de quem discordam em temas como reformas fiscais ou mineração. Em qualquer um destes dois cenários, os liberais - que já participaram em governos mas nunca lideraram um - conseguem ficar acima dos 16 deputados necessários para uma maioria.

Durante a campanha, Nielsen, de 33 anos, rejeitou o interesse de Trump em adquirir a Gronelândia, apelidando-o de “ameaça à nossa independência política”. De recordar que o presidente dos Estados Unidos disse há duas semanas que “De uma forma ou de outra, vamos obtê-la [a Gronelândia]. Iremos manter-vos seguros e ricos”.

Além de Trump, a independência em relação à Dinamarca, país que controla a ilha desde 1721 e do qual é um território autónomo desde 1979, foi o outro tema que marcou a campanha. Provavelmente pensando que teria um melhor resultado, o Siumut havia dito que pretendia realizar um referendo sobre a independência, invocando um artigo de uma lei de 2009 que concedeu à ilha uma maior autonomia, incluindo o direito a negociar com Copenhaga a sua soberania total.

A Gronelândia, apesar das suas riquezas naturais, depende economicamente em grande parte da pesca e das subvenções atribuídas pela Dinamarca. Uma sondagem recente mostrou que se um referendo sobre a independência fosse levado a cabo agora a maioria votaria a favor, com apenas 28% a mostrar-se contra.

Para o líder da diplomacia dinamarquesa a vitória do Demokraatit mostra um desejo de cooperação contínua entre Nuuk e Copenhaga. “Em tempos difíceis, devemos permanecer juntos”, disse Lars Lokke Rasmussen. Já o líder dos democratas notou, após conhecidos os resultados, que “as pessoas querem mudança”, deixando, porém, claro que “não queremos a independência amanhã, queremos construir uma boa fundação”.

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