Jean-Noël Barrot, ministro dos Negócios Estrangeiros de França.
Jean-Noël Barrot, ministro dos Negócios Estrangeiros de França.EPA/OLIVIER HOSLET

França rejeita “linhas vermelhas” e relança a ambiguidade estratégica

Face às ameaças de Putin, chefe da diplomacia gaulês reitera que a Ucrânia tem o direito a usar as suas armas em solo russo. E não descarta a hipótese da participação de militares seus no conflito.
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Paris não alinha com aqueles que, na ressaca do ataque russo a Dnipro com um novo tipo de míssil balístico intermédio com capacidades nucleares, defendem que se deve recuar. Em entrevista à BBC, o ministro dos Negócios Estrangeiros disse que, no que toca aos meios de ajuda para a Ucrânia se defender, “os aliados ocidentais não devem colocar entraves ao apoio à Ucrânia contra a Rússia e, em particular, “não devem estabelecer nem indicar linhas vermelhas”. Mais: depois de Emmanuel Macron ter dito que a Europa tem de ser “omnívora”, os franceses recuperam a ambiguidade estratégica face à Rússia.

Em Londres para se reunir com o homólogo David Lammy, Jean-Noël Barrot confirmou na entrevista que a Ucrânia pode disparar mísseis franceses de longo alcance (SCALP) contra a Rússia “numa lógica de autodefesa”. O seu presidente, Emmanuel Macron, já em maio tinha dito que não havia limitações ao uso das armas francesas, desde que usado contra alvos militares. Barrot não confirmou nem desmentiu se foram utilizadas armas francesas em território russo. A participação de tropas europeias em tarefas de defesa na Ucrânia, outro tema levantado por Macron há meses - e rejeitado por quase todas as chancelarias - voltou a ser abordado, agora a um outro nível de participação, em combate. Paris responde à ameaça russa com a ambiguidade estratégica: “Não descartamos nenhuma opção”, respondeu. “Apoiaremos a Ucrânia tão intensamente e durante tanto tempo quanto necessário. Porquê? Porque é a nossa segurança que está em causa. Cada vez que o exército russo avança um quilómetro quadrado, a ameaça fica um quilómetro quadrado mais próxima da Europa”, disse Barrot.

Sobre o futuro da Ucrânia, o chefe da diplomacia francesa disse que não está fora de hipótese um convite para aderir à NATO. 

Também o ministro polaco dos Negócios Estrangeiros, Radoslaw Sikorski, considera que o disparo do míssil balístico russo, mais do que um sinal, é “um sintoma de desespero, porque Putin não consegue ganhar a guerra”, disse em entrevista à edição ucraniana da Voz da América. “Vemos sinais de que a economia russa está sob pressão, temos notícias de soldados russos a desertar e, claro, convidar mercenários da Coreia do Norte não é uma demonstração de força”.

Estas declarações surgem no final de uma semana em que mísseis norte-americanos e britânicos atingiram alvos nas regiões russas de Briansk e Kursk. Neste último, os Storm Shadow tinham como objetivo um centro de comando subterrâneo. Nas horas seguintes, noticiou-se que o alvo teria militares de alta patente quer da Rússia quer da Coreia do Norte. Segundo informações recolhidas pelo site Global Defense Corp, morreram 18 militares russos, entre os quais um tenente-general, e um número tão redondo quanto elevado de norte-coreanos mortos: 500. 

Ciente de que vai encontrar uma administração norte-americana cética senão hostil em relação à NATO, o secretário-geral Mark Rutte foi discutir com Donald Trump “os diversos problemas para a segurança mundial que enfrenta a aliança”. 

A participação dos norte-coreanos abre uma janela para um entendimento com o futuro presidente. Isto quando o secretário da Defesa Lloyd Austin disse que 10 mil soldados de Pyongyang ,estacionados em Kursk, estarão “em breve” a combater. Segundo a Reuters, o exército ucraniano já perdeu cerca de 40% do território tomado na incursão de agosto. O presidente ucraniano afirmou por sua vez que Vladimir Putin tem como objetivo retomar a totalidade da região de Kursk até à tomada de posse de Trump, no dia 20 de janeiro.

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