Durante este período, Macau desempenhou um papel histórico fundamental enquanto entreposto estratégico entre a China e a Europa, e especialmente entre a China e Portugal. Entre os achados arqueológicos e os objetos preservados - incluindo porcelanas de exportação, peças procedentes do comércio sino-português e cerâmicas produzidas localmente - encontram-se testemunhos materiais que refletem os momentos de encontro, diálogo e integração entre as duas culturas.Desde 1999, o Museu do Palácio de Pequim e o Museu de Arte de Macau, sob tutela do Instituto Cultural da Região Administrativa Especial de Macau, têm vindo a desenvolver uma cooperação contínua através da realização conjunta de exposições de património cultural, percurso esse que já conta 26 anos.Este ano, ambas as instituições apresentam em colaboração a exposição Reflexos das Ligações Marítimas, que se centra nas intensas interações entre a China e Portugal, revisitando o papel único de Macau como centro global de comércio durante as dinastias Ming e Qing. A exposição revela as trocas políticas, económicas e culturais entre os dois países, apresentando um retrato vívido do diálogo entre as civilizações do Oriente e do Ocidente entre os séculos XVI e XIX.Antigamente conhecida como “Haojing” (literalmente “espelho de água”), Macau inspira o título da exposição - Reflexos das Ligações Marítimas -, que remete simbolicamente para a abertura das novas rotas de navegação que tornaram possível o contacto entre a China e Portugal. Enquanto espaço de confluência entre Oriente e Ocidente, Macau reflete os encontros, diálogos e fusões culturais que marcaram a sua história.A exposição destaca duas secções temáticas principais: o comércio de porcelana sino-português e as relações cortesãs. Como mediadores fundamentais no conhecimento recíproco entre ambas as culturas, os missionários portugueses presentes na Corte Qing desempenharam um papel determinante nos domínios da diplomacia, da astronomia e calendário, da ciência, da arte e da cultura, impulsionando uma relação de contacto contínuo e multifacetado entre as duas cortes.A secção final da exposição reúne um conjunto representativo de peças da coleção da Corte Qing, que ilustram a síntese entre técnicas ocidentais e orientais, tendo testemunhado a chegada à China da ciência, ideias culturais e tendências estéticas europeias, que, após absorção, reelaboração e inovação, adquiriram um novo vigor criativo. Ao mesmo tempo, estas peças refletem os múltiplos momentos de encontro e intercâmbio entre civilizações ao longo da Rota Marítima da Seda.Na ocasião do centenário do Museu do Palácio de Pequim, esta exposição temática realizada no Museu de Arte de Macau assume particular relevância ao recuperar, através de patrimónios culturais, o fio histórico que liga o comércio cerâmico sino-português às relações cortesãs entre os dois países. A mostra evidencia como, graças à Rota Marítima da Seda, se construíram processos contínuos de intercâmbio cultural e de aprendizagem mútua entre civilizações, iluminando sob uma perspetiva singular a profundidade e longevidade dos laços estabelecidos entre Portugal e a China ao longo de vários séculos.As peças de porcelana - testemunhos materiais privilegiados - revelam um diálogo intemporal entre Oriente e Ocidente e a sintonia que se encontra na produção cerâmica demonstra o encontro e a convergência de ideais artísticos distintos. Durante séculos, as porcelanas chinesas expostas em casas senhoriais portuguesas também simbolizaram os duradouros laços comerciais estabelecidos com a China.A exposição apresenta 37 peças provenientes do Museu Nacional de Arte Antiga de Portugal, incluindo 26 porcelanas chinesas e 11 obras de faiança portuguesa. Estes artefactos refletem não só o apurado valor estético da arte cerâmica chinesa, amplamente apreciada, mas também a engemhosidade dos artesãos portugueses ao integrarem motivos decorativos orientais na produção local, facto que permitiu a disseminação da arte cerâmica no quotidiano popular. Esta fusão decorativa testemunha a influência duradoura da porcelana chinesa em Portugal e até em toda a Europa, onde se desenvolveu uma verdadeira cultura colecionista.No que diz respeito à exposição Reflexos das Ligações Marítimas, importa sublinhar a contribuição de valiosas peças cortesãs por parte do Museu do Palácio de Pequim, a disponibilização por parte dos museus portugueses de coleções que refletem o olhar europeu, e a forma como o Instituto Cultural de Macau integrou na narrativa a especificidade do contexto histórico local. Foi graças ao empenho e à colaboração ativa de todas as instituições envolvidas que esta exposição pôde ser cuidadosamente concebida para abrir ao público a porta para os segredos da história.Assim, esta exposição não se limita a revisitar a História das relações culturais sino-portuguesas, convida também o público contemporâneo a refletir sobre a globalização, o diálogo entre civilizações e o sentido contemporâneo da partilha cultural.A mostra estará patente até 8 de março do próximo ano.