Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.OLIVIER MATTHYS

Europa contra-ataca com tarifas que valem 8% das importações vindas dos EUA

Alguns dos bens visados são alumínio, bourbon, motas de alta cilindrada, máquinas de lavar, cortadores de relva, cerveja, cereais, roupa de marca, papel higiénico, fio dental.
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As importações europeias (UE - União Europeia) de produtos procedentes dos Estados Unidos da América (EUA) deverão ser carregadas com novas tarifas comerciais, a partir do início de abril, num valor que ascenderá a 26 mil milhões de euros, revelou, esta quarta-feira, a presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula von der Leyen.

De acordo com cálculos do DN, este volume de impostos alfandegários, que responde de modo equivalente e "proporcional" ao imposto implícito com que o governo norte-americano, de Donal Trump, quer penalizar as compras com origem na Europa, equivale a cerca de 8% do total importado atualmente pelos EUA, perto de 330 mil milhões de euros, segundo os dados do Eurostat relativos a 2024.

O rol de produtos americanos que pode ser afetado é extenso e diverso. Pelo nosso levantamento não exaustivo, alguns dos bens visados pela resposta da CE podem ser aço, alumínio, bourbon, motas, máquinas de lavar roupa e loiça, aspiradores, cortadores de relva, barcos a motor, cerveja, cereais, roupa de marca (calças, camisas), papel higiénico, fio dental, carne, produtos lácteos, soja, pastilhas elásticas, óleos vegetais e até vinho ou sumo de laranja concentrado.

De acordo com a Reuters, alguns dos produtores baseados nos EUA que podem ser diretamente afetados são bastante conhecidos dos europeus: "Whirlpool, Stanley Black & Decker, Mohawk Industries, Harley-Davidson, Ralph Lauren, Tyson Foods, Archer-Daniels-Midland", enumera a agência noticiosa.

Ontem (quarta-feira), em Estrasburgo, Von der Leyen avançou com o plano de resposta já prometido uma vez que Trump não desarma na intenção de avançar sobre o comércio com a UE.

A presidente da Comissão começou por lembrar que “as relações comerciais entre a União Europeia e os Estados Unidos são as maiores do mundo”, que estas “trouxeram prosperidade e segurança a milhões de pessoas” e que este comércio bilateral “criou milhões de bons empregos em ambos os lados do Atlântico”.

No entanto, “a partir desta manhã, os Estados Unidos estão a aplicar uma tarifa de 25% sobre as importações de aço e alumínio, o que lamentamos profundamente”. Para Von der Leyen, “os direitos aduaneiros são impostos, são maus para as empresas e piores ainda para os consumidores”.

Além disso, “trazem incerteza para a economia, ameaçam postos de trabalho” alimentam a inflação. “Os preços vão subir” e “ninguém precisa disto - de ambos os lados, nem na União Europeia nem nos Estados Unidos”.

Mas, “a União Europeia tem de atuar”. “As decisões que hoje tomamos hoje são fortes mas proporcionadas. Uma vez que os Estados Unidos estão a aplicar direitos aduaneiros no valor de 28 mil milhões de dólares [cerca de 26 mil milhões de euros], decidimos responder com contramedidas no valor de 26 mil milhões de euros”, valor que “corresponde ao âmbito económico das tarifas dos Estados Unidos”.

Esta retaliação tarifária da Europa “será introduzida em duas fases, a partir de 1 de abril, e estará plenamente em vigor a partir de 13 de abril”, mas, “entretanto, manter-nos-emos sempre abertos a negociações".

A partir daqui, será “o comissário europeu do Comércio, Maroš Šefčovič, a retomar as conversações para explorar melhores soluções com os Estados Unidos”, disse a líder do executivo europeu.

EUA penalizam o equivalente a 5%, Europa com 8%

A resposta da UE é “proporcional” em valor, mas não em percentagem do total importado. A carga tarifária adicional avançada pelos EUA sobre os produtos europeus referida por Von der Leyen equivale a muito menos de 8%, fica na verdade ligeiramente abaixo de 5% do valor total das compras à UE, que em 2024 ascenderam a 525 mil milhões de euros, também segundo o Eurostat.

O comissário eslovaco Maroš Šefčovič explicou que “a partir de abril, restabeleceremos automaticamente as nossas medidas de reequilíbrio” suspensas desde 2018, acordo renovado em 2020 sob a presidência de Joe Biden, o antecessor de Trump, “visando efetivamente 4,5 mil milhões de euros de bens americanos exportados” para a Europa".

Em segundo lugar, a Comissão diz que avançará com “um pacote de contramedidas adicionais aplicáveis a 18 mil milhões de euros de exportações dos EUA para a UE”.

Vários altos responsáveis europeus contactados pela Reuters afirmaram que a lista de importações onde haverá retaliação “foi concebida para incluir produtos de elevado valor icónico ou simbólico, minimizando prejuízos para a UE e centrando-se mais nos produtores de Estados republicanos, como Louisiana, grande produtor de soja e terra natal do presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson”, e ainda Kansas e Nebraska, ambos produtores de referência de carne e aves de capoeira.

Segundo a UE, os consumidores europeus podem contar com “fornecedores alternativos de soja, como Argentina e Brasil”, por exemplo.

Entretanto, vários analistas já reconsideram as previsões de crescimento dos EUA e da Europa, fala-se em risco de recessão, inclusive; os produtores de petróleo avisam que o impacto da compressão do comércio mundial alimentada pelo clima de guerra tarifária entre EUA, UE, Canadá, México, etc., deve fazer cair a procura por energia.

As grandes bolsas também têm estado a cair. A incerteza sobre a vaga de prejuízos económicos que aí vêm é cada vez maior.

Eurostat
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.
Trump promete retaliar contra tarifas da UE sobre aço e alumínio dos EUA

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