"O povo ucraniano deve ter a liberdade de decidir o seu futuro. O caminho para a paz na Ucrânia não pode ser decidido sem a Ucrânia.” O aviso foi feito esta terça-feira, 12 de agosto, num comunicado assinado pelos líderes de 26 dos países da União Europeia (a Hungria decidiu não subscrever o documento) e tem como destinatário o presidente dos Estados Unidos, que na sexta-feira irá discutir o tema com o seu homólogo russo, num encontro marcado para o Alasca.Para esta quarta-feira, 13 de agosto, está agendada uma reunião virtual, organizada pela Alemanha, na qual participarão o chanceler Friedrich Merz, Donald Trump e Volodymyr Zelensky, bem como o secretário-geral da NATO, Mark Rutte e vários líderes europeus - nomeadamente de Reino Unido, Finlândia, França, Itália e Polónia, além de Ursula von der Leyen e António Costa.Um encontro, dividido em várias partes, que será usado para tentar evitar que os Estados Unidos possam impor termos desfavoráveis a Kiev, um receio que terá aumentado depois de Trump ter dito na segunda-feira que “haverá alguma troca de territórios”, uma possibilidade recusada por Kiev e os seus aliados europeus.“Nós, os líderes da União Europeia, saudamos os esforços do presidente Trump para pôr fim à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e alcançar uma paz e segurança justas e duradouras para a Ucrânia”, referem ainda os 26, mas ressalvando que “uma paz justa e duradoura, que traga estabilidade e segurança, deve respeitar o direito internacional, incluindo os princípios da independência, soberania, integridade territorial e que as fronteiras internacionais não devem ser alteradas pela força”.O comunicado nota ainda que “uma Ucrânia capaz de se defender eficazmente é parte integrante de quaisquer garantias de segurança futuras”, acrescentando que os países da UE estão prontos para contribuir ainda mais para as garantias de segurança.Fontes da Casa Branca, em declarações ao Politico, colocaram um travão nas expectativas no encontro de sexta-feira entre Trump e Putin, referindo que este é apenas um passo em direção a uma solução pacífica para a guerra na Ucrânia e que servirá para o presidente norte-americano avaliar a seriedade das intenções do seu homólogo russo e a possibilidade de realizar um encontro que inclua o líder ucraniano. Isto é tudo uma questão de “confiar nos instintos de Trump”, referiu uma das fontes ouvidas pelo Politico.Um presente para PutinO primeiro-ministro húngaro explicou esta terça-feira de manhã o porquê de Budapeste ter ficado mais uma vez em desacordo com os restantes 26 no que diz respeito à Ucrânia, afirmando que o comunicado “tenta estabelecer condições para uma reunião para a qual não foram convidados líderes da UE”, notando que “o facto de a UE ter sido posta de parte já é triste por si só”. “A única coisa que poderia piorar as coisas seria se começássemos a dar instruções a partir do banco. (...) A única ação sensata para os líderes da UE é iniciar uma cimeira UE-Rússia, seguindo o exemplo da reunião EUA-Rússia. Vamos dar uma oportunidade à paz!”, concluiu Viktor Orbán na mensagem que publicou nas redes sociais. Já o presidente ucraniano agradeceu o apoio dos líderes europeus, mas ressalvou ser fundamental que a unidade de pontos de vista “não fosse ameaçada”, pedindo ainda uma maior pressão sobre a Rússia. “As questões relacionadas com a segurança da Ucrânia e da Europa são discutidas por todos nós em conjunto. Qualquer decisão deve contribuir para as nossas capacidades conjuntas de segurança. E se a Rússia se recusar a interromper os assassinatos, deve ser responsabilizada”, prosseguiu, numa mensagem nas redes sociais.Volodymyr Zelensky mostrou ainda apoiar “a determinação” de Donald Trump para o seu encontro de sexta-feira com Vladimir Putin, sublinhando que, “juntos, devemos moldar posições que não permitam à Rússia enganar o mundo mais uma vez.”Ao mesmo tempo, Zelensky alertou que o Exército russo está “a fazer movimentos que indicam preparativos para novas operações ofensivas”. De acordo com a Reuters, o mapa de guerra do DeepState mostrava ontem que as forças russas avançaram pelo menos 10 quilómetros - o maior avanço do último ano - para norte em duas frentes nos dias mais recentes, no âmbito da campanha de Moscovo para assumir o controlo total da região de Donetsk.“Este avanço é como um presente para Putin e Trump durante as negociações”, disse à Reuters Sergei Markov, um antigo conselheiro do Kremlin, sugerindo que pode aumentar a pressão sobre Kiev para ceder território.Europeus ultrapassam EUAEm maio e junho, os europeus mantiveram um nível consistentemente elevado de apoio à Ucrânia, especialmente na ajuda militar, com destaque para o facto de uma parte significativa das armas fornecidas já não provir dos seus stocks, mas sim de compras à indústria de defesa, de acordo com os dados mais recentes do Ukraine Support Tracker, feito pelo Instituto Kiel para a Economia Mundial, revelados esta terça-feira, 12 de agosto.O que significa que a Europa ultrapassou também os Estados Unidos no volume total de ajuda militar prestada a Kiev pela indústria desde o início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022. Desde então e até junho, a Europa destinou, pelo menos, 35,1 mil milhões de euros a ajuda militar através de compras de defesa, mais 4,4 mil milhões de euros do que os Estados Unidos.Em maio, e pela primeira vez desde o início da Administração Trump, os Estados Unidos aprovaram grandes exportações de armas para a Ucrânia, não como ajuda militar, mas como vendas que Kiev precisa de financiar.Em contrapartida, os países europeus continuaram a apoiar a Ucrânia, como a Alemanha, que destinou um pacote de ajuda militar de 5 mil milhões de euros, a maior ajuda bilateral registada nos dados mais recentes do Kiel.A Noruega surge com 1,5 mil milhões de euros, seguindo-se uma contribuição belga de 1,2 mil milhões. Países Baixos, Reino Unido e Dinamarca destinaram entre 500 e 600 milhões cada.Dos 10,5 mil milhões de euros de ajuda militar europeia atribuídos em maio e junho, pelo menos 4,6 mil milhões deverão ser canalizados através de contratos de aquisição com empresas de defesa, em vez de serem retirados dos stocks existentes. Segundo o Ukraine Support Tracker, estes contratos foram atribuídos principalmente a empresas sediadas na Europa e Ucrânia, mostrando um crescente papel da indústria de defesa na assistência militar..Europa faz pressão para influenciar Trump antes do encontro desta semana com Putin