O trabalho de casa está feito e a tensão entre EUA e China foi reduzida ao mínimo antes do esperado reencontro do presidente norte-americano, Donald Trump, com o homólogo chinês, Xi Jinping, na próxima quinta-feira (30 de outubro), na Coreia do Sul. Há um princípio de acordo para suspender a guerra comercial, que será finalizado pelos líderes das duas maiores economias mundiais. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse este domingo (26 de outubro) ter alcançado as bases substanciais de um acordo com o vice-primeiro-ministro da China, He Lifeng. “Os EUA e a China vão encontrar-se a meio, construir ainda mais a confiança mútua e gerir as diferenças”, indicou este, segundo a agência oficial Xinhua. O principal negociador chinês, Li Chenggang, falou num “consenso preliminar”. Segundo os norte-americanos, o acordo evita que Washington avance com as tarifas alfandegárias de 100% sobre as importações de produtos chineses já a partir de 1 de novembro, depois de Pequim ter aceitado adiar por um ano as restrições às exportações de terras raras - algo que tinha irritado Trump. A China não confirma os pormenores.Ainda de acordo com os norte-americanos, os chineses terão aceitado também comprar mais soja e outros produtos agrícolas aos EUA, depois de em setembro terem optado por comprar aos brasileiros e argentinos. Os produtores de soja dos EUA “sentir-se-ão muito bem com o que está a acontecer nesta e nas próximas estações durante vários anos” quando os termos do acordo forem anunciados, disse Bessent ao programa This Week, da ABC. O secretário do Tesouro disse ainda que os dois países chegaram a um “acordo final” sobre o TikTok - Trump tinha prometido uma reestruturação para evitar a proibição da popular aplicação de redes sociais nos EUA e, no mês passado, assinou um acordo para a transferir para um grupo de investidores (na sua maioria norte-americanos).A reunião com Xi - é a primeira desde 2019, tendo este ano apenas havido dois telefonemas - será o ponto alto da viagem de Trump pela Ásia. Mas não é o único item na agenda. Este domingo (26 de outubro), o presidente assistiu à assinatura do “acordo de paz” entre a Tailândia e o Camboja e descongelou as relações com o homólogo brasileiro, Lula da Silva. E esta segunda-feira (27 de outubro) chega ao Japão, onde na terça-feira (28 de outubro) se encontrará com a nova primeira-ministra, Sanae Takaichi. O presidente norte-americano e a nova chefe do Governo japonesa falaram no sábado (25 de outubro) ao telefone, pela primeira vez. Takaichi disse a Trump que reforçar a aliança entre os dois países era “a prioridade principal” de Tóquio e que o Japão é “um parceiro indispensável” em termos das estratégias dos EUA em relação à China e ao Indo-Pacífico, segundo comentários publicados no site oficial da primeira-ministra japonesa.Acordo de pazA visita de Trump a Kuala Lumpur começou em alta, com a assinatura da prorrogação do acordo de cessar-fogo entre Tailândia e Camboja - um dos oito conflitos que o presidente diz já ter resolvido desde que regressou à Casa Branca, em janeiro. Trump pressionou os dois líderes a acabarem com os confrontos fronteiriços, ameaçando suspender as negociações de acordos comerciais com os EUA caso não o fizessem. E exigiu esta cerimónia, como condição para estar presente na cimeira da ASEAN.Trump dominou o evento, que contou com a presença dos primeiros-ministros tailandês, Anutin Charnvirakul, e cambojano, Hun Manet, assim como o anfitrião, o chefe do Governo da Malásia, Anwar Ibrahim. O presidente dos EUA falou de um “dia memorável para o Sudeste Asiático” e de um “passo monumental”. Contou ainda como se envolveu com o conflito, durante a visita ao seu campo de golfe na Escócia, em julho. “E eu disse que isto é muito mais importante do que uma partida de golfe... Podia ter-me divertido muito, mas isto é muito mais divertido... salvar pessoas e salvar países.”O acordo estabelece, na prática, que ambos os países vão retirar as armas pesadas da zona fronteiriça em disputa e criar uma equipa de observadores para monitorizar esse desarmamento. Também foi criado um novo procedimento para a retirada das minas pessoais colocadas na região. Mas, avisam os especialistas, os problemas históricos relacionados com a fronteira não foram resolvidos e permanecem - a Tailândia, por exemplo, rejeita falar num “acordo de paz”.Mas Trump fala numa grande vitória, tendo assinado mais tarde acordos comerciais e sobre terras raras com os três países presentes e com o Vietname. A Malásia concordou em não proibir ou impor quotas às exportações para os EUA de minerais essenciais ou de terras raras, enquanto o Vietname prometeu aumentar as compras de produtos aos EUA para reduzir um excedente comercial que ascendeu a 123 mil milhões de dólares (106 mil milhões de euros) em 2024. Ainda assim, os EUA manterão tarifas de 19% sobre a maioria das exportações da Malásia, Tailândia e Camboja e de 20% sobre o Vietname, disse a Casa Branca, embora estas tarifas possam ser retiradas de certos produtos.Reparar os laços com LulaO presidente norte-americano encontrou-se também com o homólogo brasileiro, com a guerra comercial na agenda - os EUA impuseram tarifas de 50% ao Brasil, em parte em retaliação pelo processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.“Penso que conseguiremos fazer alguns bons acordos para os dois países”, disse Trump antes do início do encontro. E quando um jornalista perguntou se iria falar de Bolsonaro, o presidente limitou-se a responder: “None of your business”, isto é, “não é da sua conta”. Segundo o Governo brasileiro, o nome do ex-presidente não foi citado. “Tive uma ótima reunião com o presidente Trump”, escreveu depois Lula no X. “Discutimos de forma franca e construtiva a agenda comercial e económica bilateral. Acertamos que as nossas equipas vão-se reunir imediatamente para avançar na busca de soluções para as tarifas e as sanções contra as autoridades brasileiras”, disse. Lula ofereceu-se ainda para servir de mediador entre os EUA e a Venezuela, no meio da tensão pela guerra ao narcotráfico e os ataques a lanchas nas Caraíbas e no Pacífico..Lula chega aos 80 anos sem indicar o sucessor