Estudantes chineses cancelam viagens depois de Trump suspender matrículas de estrangeiros em Harvard
A decisão do presidente norte-americano Donald Trump de suspender a autorização da Universidade de Harvard para matricular estudantes estrangeiros, está a causar bastante apreensão junto da comunidade estudantil daquela reputada instituição.
De acordo com a agência Reuters, os estudantes chineses cancelaram viagens marcadas para esta sexta-feira para o seu país com receio de não poderem regressar aos Estados Unidos para continuar os seus estudos.
Dados da própria Universidade de Harvard, a China é o país que mais estudantes tem matriculados, com 1390 alunos, o que corresponde a 20% da população estrangeira da instituição, sendo que há 11 alunos de nacionalidade portuguesa.
Para já, os estudantes chineses estão a procurar aconselhamento jurídico para a melhor forma de atuar para permanecerem nos Estados Unidos, até porque a ordem do governo norte-americano diz que irá forçar os atuais estudantes a transferirem-se para outras universidades, sob pena de perderem o seu estatuto legal, podendo esta suspensão estendida a outras universidades do país.
Esta comunidade acaba por ser a mais sensível de Harvard, uma vez que a decisão de Trump vem com a acusação de que a universidade está coordenada com o Partido Comunista Chinês (PCC).
"Alguns amigos aconselharam-me a não ficar na minha residência atual se as coisas piorarem, porque acham que é possível que os agentes da Imigração e Alfândega possam tirar-me do apartamento", disse Zhang, um estudante chinês de 24 anos, que está a frequentar o curso de física, citado pela agência Reuters.
Zhang admite que há muita preocupação na comunidade chinesa com esta situação, bem como com as perspetivas de estágios.
De acordo com uma outra aluna citada pela Reuters, a universidade enviou um email a todos os estudantes estrangeiros no qual garante que a administração de Harvard está a trabalhar para ter uma resposta nos próximos dias, pretendendo negociar com o governo para resolver esta situação.
Aliás, numa primeira reação Alan Garber, presidente da universidade, manifestou a intenção de não cumprir esta resolução, mas algumas horas depois o governo congelou os milhares de milhões de dólares de financiamentos federais. Nesse contexto, a Universidade apresentou um processo judicial para impedir o congelamento dessas verbas.
Tendo em conta a tensão entre EUA e China, o número de estudantes internacionais chineses em território norte-americano caiu para cerca de 277.000 em 2024, depois de ter atingido um máximo de cerca de 370.000 em 2019.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês já reagiu a esta decisão de Donald Trump considerando que ela "prejudicará a imagem e a credibilidade internacional dos Estados Unidos", ao mesmo tempo que garantiu que irá "salvaguardar os direitos e interesses legítimos" dos seus estudantes em Harvard.
Refira-se que vários filhos da elite do Partido Comunista chinês frequentaram Harvard nas últimas duas décadas, incluindo Xi Mingze, filha do presidente Xi Jinping.