Políticos da esquerda francesa pediram este sábado a Emmanuel Macron para que intervenha nos planos dos Estados Unidos para destruir quase 10 milhões de dólares em contracetivos femininos armazenados na Europa e inicialmente destinados a programas de ajuda internacional, o que consideram ser uma "afronta" à saúde pública.Uma carta aberta assinada pela líder dos Verdes, Marine Tondelier, e por vários deputados, classificou a decisão dos EUA como "uma afronta aos princípios fundamentais de solidariedade, saúde pública e direitos sexuais e reprodutivos que a França está empenhada em defender".Os signatários da carta instaram o presidente francês a "não ser cúmplice, mesmo indiretamente, de políticas retrógradas", afirmando que os produtos contracetivos femininos, como os DIU e os implantes, se destinavam a "países de baixo e médio rendimento"..94% das mulheres portuguesas usam método contracetivo. "Cortar na ajuda para a contraceção é vergonhoso, destruir produtos que já foram fabricados e financiados é ainda mais inacreditável", disse Tondelier à AFP.Os Verdes exigem que Macron peça a suspensão do plano "como parte de uma iniciativa conjunta com a Comissão Europeia" e que apoie as organizações humanitárias que se dizem prontas para redistribuir os contracetivos.Paralelamente, Mathilde Panot, líder parlamentar do partido de extrema-esquerda França Insubmissa (LFI), exigiu que Macron e o primeiro-ministro François Bayrou tomem medidas."Vocês têm a responsabilidade de agir para evitar esta destruição, que custará vidas", afirmou na rede social X. "Estes recursos são vitais, especialmente para as 218 milhões de mulheres que não têm acesso a cuidados contracetivos", acrescentou. .Um porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos disse esta semana à AFP que "foi tomada uma decisão preliminar para destruir certos" produtos contracetivos de "contratos rescindidos relativos à era Biden, sob a alçada da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID)".A USAID, agência de ajuda externa do país, foi desmantelada pela administração de Donald Trump quando este regressou ao cargo em janeiro.De acordo com o plano, cerca de 9,7 milhões de dólares em implantes e DIUs armazenados na Bélgica deverão ser incinerados em França.O plano norte-americano gerou indignação em organizações não governamentais globais de saúde, tendo os Médicos Sem Fronteiras denunciado o "desperdício insensível". "É inconcebível pensar que estes produtos de saúde serão queimados quando a procura por eles a nível global é tão grande", disse Rachel Milkovich, do escritório da organização nos EUA.O porta-voz do Departamento de Estado disse que a destruição custará 167 mil dólares e que "nenhum medicamento ou preservativo para o VIH está a ser destruído".A Médicos Sem Fronteiras afirma que outras organizações se ofereceram para cobrir os custos de envio e distribuição dos mesmos, mas que o governo norte-americano recusou. .Administração Trump despede 2000 trabalhadores da USAID e coloca milhares em licença