Do camerlengo ao 'Habemus papam'. Tudo sobre a escolha de um novo Papa
O que acontece quando um Papa morre?
A morte ou a renúncia de um Papa desencadeia um conjunto de processos que culminam num Conclave para eleger o novo Papa. O último a renunciar foi Bento XVI, em 2013, sendo o primeiro papa a fazê-lo desde Gregório XII, em 1415. Agora, o seu sucessor Francisco já estará a preparar a sua própria sucessão, pressentindo que a sua morte pode estar próxima. Aos 88 anos, o Papa "do fim do mundo", como o próprio se apelidou por ser o primeiro não europeu a sentar-se na cadeira de São Pedro em 1200 anos, já terá dado as suas instruções para este processo milenar, cheio de tradições e hiper-coreografado. Tudo começa com a confirmação da morte, que fica a cargo do camerlengo (um alto responsável do Vaticano), Neste momento essa posição é ocupada pelo cardeal americano nascido na Irlanda Kevin Farrell. Será ele a visitar o corpo do Papa e chamar o seu nome - um ato hoje meramente cerimonial, uma vez que a morte já terá sido confirmada pelos médicos. Um mito muitas vezes repetido, de que o camerlengo também bate na cabeça do papa com um martelo de prata, tem sido repetidamente negado pelo Vaticano. Segue-se a destruição do Anel do Pescador, o anel com que o Sumo Pontífice marca os documentos oficiais. O camerlengo anuncia então a morte do Papa ao Colégio de Cardeais antes de a notícia ser dada ao mundo, num comunicado do Vaticano enviado aos media.
Anunciada a morte, é logo escolhido um sucessor?
Não. Anunciada a morte do Papa, segue-se um período de luto de nove dias - de acordo com uma tradição que data da Roma Antiga. O corpo, vestido com as vestes papais, fica então exposto na Basílica de São Pedro onde centenas de milhares de fiéis lhe podem prestar a sua última homenagem. Francisco terá dado ordem para não ser colocado numa plataforma elevada, mas num simples caixão aberto. O Vaticano entra então num período de transição chamado sede vacante, durante o qual o poder para gerir os assuntos correntes é entregue ao Colégio de Cardeais. No fim deste período, o Papa é sepultado. As cerimónias fúnebres estão a cargo do Decano do Colégio dos Cardeais, neste momento o italiano Giovanni Battista Re, de 91 anos. O Papa é depois enterrado nas criptas por baixo da Basílica de São Pedro, onde se encontram uma centena de outros Sumos Pontífices, incluindo Bento XVI. No caso do Papa Francisco, este disse numa entrevista em 2023 que preferia ser sepultado na Basílica Papal de Santa Maria Maior em Roma. Tradicionalmente, os Papas são sepultados em três caixões: um em madeira de ciprestes, um em zinco e um em madeira de ulmeiro. Mas também aqui Francisco já terá deixado ordens para ser sepultado num simples caixão de madeira e zinco.
Como se processa então a eleição do novo Papa?
Duas a três semanas após o funeral do papa, o Colégio de Cardeais reúne-se em Conclave na Capela Sistina. Em teoria, qualquer homem batizado é elegível para Papa, mas nos últimos 700 anos a escolha recaiu sempre sobre um dos membros do Colégio de Cardeais.
Como é o atual Colégio de Cardeais?
Neste momento, o Colégio de Cardeais é constituído por 252 cardeais, destes 136 são eleitores e 116 são não-eleitores (todos os que têm mais de 80 anos). Portugal tem neste momento seis cardeais, quatro eleitores (Américo Aguiar, Tolentino de Mendonça, António Marto e Manuel Clemente) e dois não-eleitores (José Saraiva Martins, de 93 anos, e Manuel Monteiro de Castro, de 86). Durante o pontificado de Francisco, ocorreu uma forte mudança geográfica na composição do Colégio de Cardeais - nos eleitores (78% dos quais feitos pelo papa argentino), a Europa perdeu influência, apesar de continuar sobrerrepresentada. Desde a eleição, Jorge Bergoglio tem dado destaque a dioceses remotas, naquilo a que chama “as periferias”, alguma das quais onde os católicos estão mesmo em minoria, rompendo com a prática de destacar sistematicamente alguns arcebispos de grandes dioceses, como Milão ou Paris.
O que acontece no Conclave?
Fechados na Capela Sistina, os cardeais votam no seu candidato preferido, escrevendo o nome deste num papel que colocam num cálice situado em cima do altar. Os que são vistos como tendo melhores hipóteses são denominados os papabile. Se nenhum candidato chegar aos dois terços dos votos, segue-se nova votação. Pode haver até quatro votações por dia. No caso do Conclave que elegeu Francisco, bastaram 24 horas e cinco votações para escolher o Papa, mas o processo pode ser muito demorado. Segundo o Politico, um Conclave no século XIII terá demorado três anos e outro no século XVIII quatro meses. Contados os votos, os papéis são queimados e o fumo preto sai pela chaminé da Capela Sistina, informando o mundo que ainda não há novo Papa.
Escolhido o novo Papa, o que acontece?
Quando os cardeais conseguem chegar a uma maioria de dois terços, o fumo branco saído da chaminé da Capela Sistina dá a notícia ao mundo e aos milhares de fiéis reunidos por essa altura da Praça de São Pedro de que há um novo Papa. É então anunciado à varanda da Basílica de São Pedro "Habemus papam". E o novo Papa, que já escolheu então o seu nome, surge à varanda para o seu primeiro discurso como líder dos mais de 1300 milhões de católicos no mundo.