Coreia do Sul. Polícia desconhece paradeiro do presidente deposto
A polícia da Coreia do Sul disse esta quarta-feira que está a rastrear a localização exata do presidente deposto, que poderá ter abandonado a residência presidencial, numa altura em que enfrenta um mandado de detenção.
Fonte policial citada pela agência de notícias pública sul-coreana Yonhap disse que não é possível "revelar especificamente" a localização atual de Yoon Suk-yeol, que se crê ter estado confinado na residência presidencial em Seul desde meados de dezembro, quando foi destituído pelo parlamento, e o início desta semana.
Desde essa altura, referiu a mesma fonte, não é possível confirmar o paradeiro do dirigente.
A polícia conseguiu confirmar que Yoon se encontrava na residência presidencial na sexta-feira, quando vários agentes da agência anticorrupção tentaram detê-lo, sem sucesso, depois de a segurança presidencial ter impedido o acesso à casa.
O Partido Democrático (PD), principal formação política da oposição, falou sobre uma possível fuga de Yoon na terça-feira, quando o diretor da agência anticorrupção, Oh Dong-won, disse a uma comissão parlamentar que não tinha recebido qualquer informação de que Yoon estivesse na residência.
Questionado sobre uma possível fuga, Oh disse que "estão a ser consideradas várias possibilidades".
A pressão exercida pelo PD levou a polícia a tentar confirmar a localização de Yoon.
"Tanto quanto sabemos, o presidente encontra-se atualmente na sua residência oficial", afirmou, por sua vez, um representante do gabinete presidencial, citado pela Yonhap.
Yoon, que foi proibido de sair do país, está a ser investigado por rebelião, crime que pode ser punido com prisão perpétua ou pena de morte, depois de ter declarado lei marcial, a 03 de dezembro.
Se conseguirem deter Yoon, os investigadores têm 48 horas para o interrogar e até solicitar um mandado para prolongar a detenção, caso o considerem necessário.
Yoon foi destituído pelo parlamento a 14 de dezembro depois de declarar lei marcial e aguarda uma decisão do Tribunal Constitucional, até junho, sobre a reintegração ou destituição definitiva.
Entretanto, o PD anunciou na terça-feira que vai apresentar uma queixa contra o novo presidente interino, Choi Sang-mok, por alegado incumprimento do dever no que diz respeito à detenção do antigo presidente.
Advogados desmentem fuga de presidente deposto
Os advogados do presidente deposto da Coreia do Sul negaram, entretanto, que Yoon Suk-yeol esteja em fuga, como alega a oposição.
As declarações da equipa jurídica surge numa altura em que as autoridades preparam uma segunda operação para tentar deter Yoon, depois da execução de um primeiro mandado de detenção ter falhado, na sexta-feira, devido a um bloqueio da segurança na residência presidencial.
Os advogados encontraram-se com Yoon na residência na terça-feira à noite, disse, em conferência de imprensa, a equipa jurídica do presidente deposto, que está a ser investigado por ter declarado lei marcial em 03 de dezembro.
Um dos advogados, Yun Gap-keun, insistiu que a defesa de Yoon continua a recusar-se a acatar uma investigação baseada naquilo a que voltou a chamar de mandado de detenção inválido e ilegal contra o dirigente, destituído pela Assembleia Nacional a 14 de dezembro.
"O que é claro é que se o Gabinete de Investigação da Corrupção [CIO] solicitar o mandado [de detenção] a um tribunal do Distrito Ocidental de Seul, que está fora da jurisdição, não o podemos aceitar", disse Yun, sublinhando que o poder para julgar a alegada insurreição de Yoon cabe aos tribunais do Distrito Central de Seul, os principais tribunais do país.
Yun fez estas declarações depois de, na terça-feira, ter sido concedida ao CIO uma prorrogação do prazo de execução de uma ordem de detenção emitida por um tribunal da área ocidental da capital sul-coreana.
Os advogados do presidente deposto também insistiram que a investigação do alegado crime de insurreição não é da responsabilidade do CIO, mas sim do Ministério Público.
As divergências entre o gabinete anticorrupção e o Ministério Público remontam ao tempo de Yoon Suk-yeol como procurador-geral.
O CIO foi criado pelo anterior governo liberal, em 2021, para limitar os poderes do Ministério Público na investigação de titulares de altos cargos da administração pública, depois de uma investigação de Yoon ter levado à demissão do então ministro da Justiça.
A sucessora no cargo criou então o CIO, que, por sua vez, forçou a demissão do atual presidente deposto.
Três meses depois, Yoon candidatou-se pelos conservadores (Partido do Poder do Povo, PPP) às eleições de 2022, conduzindo ao cenário atual, marcado por um profundo ressentimento entre as agências e os dois principais partidos políticos, o PPP e o Partido Democrático.
Uma comissão especial do PD fez o anúncio durante uma conferência de imprensa, na Assembleia Nacional, criticando Choi por ter permitido que a segurança presidencial bloqueasse a entrada da residência na sexta-feira, impedindo a detenção de Yoon.
"De acordo com os relatos, o presidente interino Choi permaneceu em silêncio mesmo quando o Gabinete de Investigação da Corrupção solicitou cooperação relativamente à detenção do presidente Yoon", afirmou a comissão, num comunicado divulgado pela Yonhap.
O partido também criticou Choi por não ter tomado qualquer medida contra o chefe da segurança presidencial, Park Chong-un, apesar do envolvimento deste no bloqueio da detenção de Yoon.
Choi, antigo vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, está à frente do país desde 27 de dezembro, data em que o parlamento destituiu Han Duc-soo, que tinha substituído Yoon como presidente.
Han foi destituído depois de ter declarado a intenção de continuar a deixar vagos três lugares no Tribunal Constitucional, essenciais para confirmar a destituição de Yoon.