Conflito entre Tailândia e Camboja pode "tornar-se uma guerra". 138 mil pessoas retiradas da zona fronteiriça
EPA/KAIKUNGWON DUANJUMROON

Conflito entre Tailândia e Camboja pode "tornar-se uma guerra". 138 mil pessoas retiradas da zona fronteiriça

Primeiro-ministro interino tailandês alerta para escalada nos confrontos que já provocou 14 mortes na Tailândia e uma no Camboja.
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O primeiro-ministro interino tailandês, Phumtham Wechayachai, alertou esta sexta-feira, 25 de junho, para o risco de o conflito em curso na fronteira com o Camboja poder "tornar-se uma guerra".

"Nós tentámos chegar a um compromisso porque somos vizinhos", disse o líder aos jornalistas no segundo dia de confrontos.

"Se a situação piorar, pode tornar-se uma guerra, mesmo que, por enquanto, se limite a confrontos", acrescentou.

O Ministério da Saúde tailandês informou esta sexta-feira que mais de 138 mil civis foram retirados das regiões fronteiriças afetadas pelos confrontos com o país vizinho, revendo um balanço anterior que apontava para mais de cem mil.

Além destas 138 mil pessoas, 428 pacientes de hospitais foram transferidos para centros de acolhimento, indicou o ministério tailandês, que deu conta, esta manhã (madrugada em Lisboa), de 14 vítimas mortais nos confrontos - 13 civis e um militar.

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"Há atualmente confrontos em várias zonas fronteiriças. Pede-se às pessoas que evitem as zonas fronteiriças", declarou, às 08:10 (02:10 em Lisboa), a Segunda Região do exército tailandês - uma divisão destacada no nordeste do país.

No Camboja morreu pelo menos uma pessoa, declarou esta sexta-feira à agência France-Presse o porta-voz da província fronteiriça cambojana de Oddar Meanchey (noroeste), num primeiro balanço oficial das autoridades do país.

"Até ao momento, um civil foi morto e cinco pessoas ficaram feridas durante os combates" na região, afirmou Meth Meas Pheakdey, acrescentando que a vítima mortal era um homem de 70 anos.

Na cidade cambojana de Samraong, a 20 quilómetros da fronteira, jornalistas da agência France-Presse (AFP) ouviram esta manhã tiros de artilharia distantes e viram algumas famílias a fugir.

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Os jornalistas da AFP também observaram soldados a correrem em direção a lança-foguetes e a partirem em direção à fronteira.

Os confrontos, de uma intensidade rara, eclodiram na quinta-feira, na fronteira entre os dois países, com troca de tiros, granadas e foguetes.

Os combates concentram-se em torno de seis locais, informou o exército tailandês.

Banguecoque enviou, na quinta-feira, seis aviões F-16 para atacar "dois alvos militares cambojanos no solo", disse o porta-voz adjunto das forças armadas do país, Ritcha Suksuwanon.

Uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU está marcada para esta sexta-feira às 15:00 (20:00 em Lisboa).

O primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, que ocupa a presidência rotativa da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e dialogou com os dois países, pediu moderação.

O Camboja e a Tailândia estão em conflito há muito tempo sobre o traçado da fronteira de mais de 800 quilómetros, definida em grande parte por acordos celebrados durante a ocupação francesa da chamada Indochina, entre final do século XIX e meados do século XX.

Em 2011, confrontos em torno do templo Preah Vihear, classificado como património mundial pela Organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e reivindicado por ambos os países, causaram pelo menos 28 mortos e dezenas de milhares de deslocados.

Embora em 2013, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), principal órgão jurisdicional da ONU, tenha atribuído ao Camboja a zona contestada abaixo do templo, o traçado de outras zonas continua a opor Banguecoque e Phnom Penh.

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