Doze pessoas (11 civis e um militar) do lado da Tailândia e um número desconhecido de vítimas do lado do Camboja é o resultado da mais recente escaramuça fronteiriça entre os dois países do sudeste asiático. Os analistas não acreditam que este foco de tensão possa descambar numa guerra, mas também ninguém antevê uma saída para a crise que já levou à queda ou, pelo menos, à suspensão de funções de uma primeira-ministra.Banguecoque e Pnom Penh acusaram-se mutuamente de os seus exércitos terem começado a disparar, na quinta-feira, na zona do santuário de Ta Muen Thom. Facto é que a força aérea tailandesa bombardeou alvos militares cambojanos e acusou estes de terem disparado rockets. Ambos os governos deram ordens de retirada das populações das regiões fronteiriças do norte do Camboja, tendo as autoridades tailandesas retirado 40 mil pessoas de locais considerados perigosos. Foi o mais recente acontecimento de uma espiral de tensões nacionalistas reavivadas em maio, após a morte de um soldado tailandês, mas que nas últimas horas parece ter entrado em descontrolo. Na quarta-feira, cinco soldados tailandeses ficaram feridos (um deles perdeu uma perna) devido à explosão de uma mina terrestre. Banguecoque apontou para Pnom Penh por ter plantado a mina em território disputado. Num encontro de militares tailandeses com diplomatas de 47 países, aqueles disseram ter concluído que as minas encontradas na província de Ubon Ratchathani foram colocadas recentemente; o Camboja refutou a acusação, tendo dito que as minas ali presentes são do tempo da guerra civil. Em resultado, o governo tailandês rebaixou o nível das relações diplomáticas para o mínimo ao expulsar o embaixador cambojano do país e chamou o seu embaixador em Pnom Penh, que enfrentou medida equivalente por parte do Camboja. As medidas de endurecimento começaram com a morte do soldado tailandês na zona do referido santuário, em maio, com o reforço do contigente militar dos dois exércitos na região fronteiriça (partilham mais de 800 quilómetros), com a proibição da passagem da maioria das pessoas e com restrições económicas. O Camboja foi ao ponto de proibir programas de TV e filmes tailandeses, mas também deixou de importar energia.A então primeira-ministra tailandesa tentou uma aproximação junto do homem que liderou o país durante mais de três décadas, Hun Sen, atual presidente do Senado, líder do partido no poder desde 1979 e pai do atual primeiro-ministro, Hun Manet. A iniciativa diplomática com o antigo general comunista, que manteve uma relação de amizade com Thaksin Shinawatra, pai de Paetongtarn e ex-primeiro-ministro caído em desgraça, custou o lugar, ainda que de forma provisória, à tailandesa. Uma gravação da conversa foi divulgada e não se sabe o que mais enfureceu os tailandeses: o facto de ter chamado “tio” a Hun Sen ou de ter criticado as forças armadas do seu próprio país. O pedido de desculpas e a tentativa de se explicar (alegou que o tom usado foi uma tática negocial) não aplacaram a indignação e o Tribunal Constitucional do país suspendeu-a de funções enquanto se investiga a sua iniciativa.A causa das tensões reside no facto de o Camboja não reconhecer a soberania da Tailândia em determinados locais fronteiriços. Pnom Penh tem como referência um mapa traçado em 1907 pelos franceses, a potência colonial de então, enquanto Banguecoque não reconhece o mapa. O Camboja tem recorrido ao Tribunal Internacional de Justiça, tendo este decidido em seu favor sobre o território de outro templo, Preah Vihear, mas a Tailândia não o cede..Tailândia fecha completamente a fronteira terrestre com o Camboja após confrontos