A prisão de Diddy a 16 setembro por suspeitas de tráfico sexual, extorsão e outros crimes tem sido aproveitada por Donald Trump e os seus apoiantes para, entre outras coisas, tentar envolver Kamala Harris neste escândalo. Mas boatos à parte, a verdade é que Sean Combs, o seu verdadeiro nome, tem marcado presença no meio político desde o final da década de 1990..Logo no dia seguinte à detenção do rapper começou a circular na rede social X uma foto adulterada lançada por uma conta apoiante de Trump, a The Right to Bear Memes, na qual Kamala Harris aparentemente surgia numa festa ao lado de Diddy, acompanhada do seguinte comentário: “A lista de clientes de Diddy vai até ao topo”. A foto verdadeira foi tirada num evento a 18 de maio de 2001 onde a agora candidata democrata está ao lado do então namorado Montel Williams, cuja cabeça foi substituída pela de Diddy. A mesma imagem tem também circulado pela rede social Truth, de Donald Trump, acabando por ser apagada, mas mais tarde republicada pelo próprio antigo presidente..Os ataques diretos do republicano contra a sua adversária sobre este assunto não foram além disto, mas o mesmo não aconteceu com a sua base de apoiantes. No Telegram têm surgido várias teorias da conspiração, como a lançada pelo grupo The New World Order Conspiracy, que alega que “o mundo está prestes a descobrir com o caso de Diddy que o Partido Democrata é o Estado Profundo”, numa referência a um Estado imaginário que secretamente quer dominar o mundo..Meses antes, mais precisamente em março, quando foram realizadas buscas às casas de Sean Combs, a Fox News aproveitou para noticiar que o rapper “tem sido um apoiante prolífico dos democratas”, referindo as suas boas relações com Obama e o apoio que deu a Joe Biden nas presidenciais de há quatro anos. Sobre Trump, nem uma palavra..Mas basta uma simples pesquisa na internet para encontrar várias ligações entre Diddy e Donald Trump, incluindo várias fotos dos dois, outras acompanhados de Melania Trump, algumas delas tiradas em Mar-a-Lago. Logo em 1998, o agora candidato republicano foi uma das celebridades presentes na festa do 29.º aniversário do rapper. O mesmo aconteceu na celebração do seu meio século. .Em 2012, na quinta temporada do seu reality show Celebrity Apprentice, Donald Trump assumiu que “eu adoro o Diddy. Ele é um bom amigo, ele é uma boa pessoa”. Uma amizade confirmada por Combs, três anos mais tarde, ao The Washington Post: “Donald Trump é meu amigo e ele trabalha muito”. Em 2020, a relação entre os dois parece ter esfriado, com o músico a dizer numa entrevista que “homens brancos como Donald Trump precisam de ser banidos. Aquela forma de pensar é realmente perigosa”..Na mesma conversa com Charlemagne tha God, o músico assume o seu apoio à candidatura presidencial de Joe Biden, precisamente contra Trump. “Quando se olha para isto, não temos escolha. Digam o que quiserem sobre Biden, também não posso dizer que adorei a escolha. Mas temos de o colocar no cargo e depois responsabilizá-lo”, afirmou..O que vai em linha com o currículo de apoios políticos de Diddy, mais virados para o campo democrata, como nas iniciativas Rock the Vote ou a Vote or Die Campaign, lançada em 2004 numa das suas Festas Brancas. A própria Kamala Harris agradeceu ao rapper, através da rede social X, depois de este ter organizado um evento sobre desigualdade racial e a pandemia em abril de 2020, aquando da sua candidatura à nomeação democrata à presidência dos Estados Unidos. Sean Combs também se cruzou com Barack Obama, tendo-o entrevistado para a MTV em 2004 quando o antigo presidente ainda era senador..ana.meireles@dn.pt