Com a realização da cimeira num curto prazo entre Donald Trump e Vladimir Putin a ser afastada pela Casa Branca e depois de o presidente dos Estados Unidos ter recuado na intenção de ceder mísseis de longo alcance a Kiev, Volodymyr Zelensky está a tentar junto dos aliados conseguir mais armamento para continuar a lutar contra a Rússia.Esta quarta-feira, 22 de outubro, a Ucrânia e a Suécia assinaram uma carta de intenções para um futuro contrato de compra de até 150 caças Gripen E para reforçar a Força Aérea Ucraniana. O acordo que foi assinado pelo presidente ucraniano e pelo primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, em Linkoping, cidade onde a Saab fabrica os jatos Gripen e outro armamento, não fornece nada no imediato - “este é o início de uma longa viagem de 10 a 15 anos”, disse o governante sueco em frente a um caça Gripen E -, mas Zelensky referiu que Kiev pretende receber e começar a utilizar estes caças no próximo ano. “Para o nosso exército, os Gripen são uma prioridade. É uma questão de dinheiro, de manobras”.De acordo com a Reuters, pilotos ucranianos já estiveram na Suécia para testar o Gripen e ajudar a facilitar qualquer eventual exportação destes caças, uma opção robusta e de custo relativamente baixo em comparação com os F-35 dos EUA. Kristersson notou que o acordo assinado ontem diz respeito à variante mais moderna do caça, o que significa que a sua capacidade de produção ainda é limitada, apontando que as primeiras entregas graduais poderão começar nos próximos três anos. O primeiro-ministro sueco acrescentou, no entanto, que não está descartado o envio antecipado de modelos mais antigos.No que diz respeito ao investimento na defesa, o parlamento da Ucrânia aprovou na terça-feira a alteração do orçamento do país para este ano, elevando os gastos com a defesa a um nível recorde - foi dada “luz verde” para um aumento de cerca de 325 mil milhões de hryvnias (cerca de 6,6 mil milhões de euros), elevando os gastos com a defesa da Ucrânia para um total de cerca de 2,96 biliões de hryvnias (cerca de 61 mil milhões de euros) este ano.Verbas que permitiram também ao Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) revelar a mais recente versão do seu drone naval “Bebé do Mar”, que, segundo o SBU, pode operar a distâncias de mais de 1.500 quilómetros e transportar uma carga útil de até 2.000 quilos, aproximadamente o dobro do limite anterior.Antes de aterrar na Suécia, Volodymyr Zelensky esteve na Noruega, onde não acordou a entrega de armas, mas recebeu o compromisso de Oslo doar cerca de 150 milhões de dólares (cerca de 129 milhões de euros) para compra de gás natural de forma a Kiev garantir eletricidade e aquecimento no inverno. Este foi o terceiro pacote de energia da Noruega para a Ucrânia este ano. “Discutimos as necessidades da Ucrânia em sistemas de defesa aérea e mísseis para os mesmos, bem como outras medidas que podem fortalecer a Ucrânia durante o inverno”, escreveu Zelensky nas redes sociais sobre o seu encontro com o primeiro-ministro Jonas Gahr Støre. “Também discutimos a nossa cooperação em matéria de defesa separadamente - a produção de drones e mísseis e a expansão da iniciativa PURL”, numa referência ao programa da NATO de compras de armamento aos EUA pelos aliados para depois serem entregues à Ucrânia. Estes 129 milhões da Noruega foram anunciados no dia em que um ataque em grande escala com drones e mísseis russos em várias cidades da Ucrânia, incluindo Kiev, matou pelo menos seis pessoas, tendo atingido também a infraestrutura energética do país, provocando apagões sucessivos, o que tem sido recorrente por parte de Moscovo antes da chegada do inverno. Segundo a ministra da Energia, Sviltana Hrynchuk, a Rússia está a implementar uma campanha para destruir o sistema energético da Ucrânia e tem como alvo as equipas de reparação que trabalham em instalações energéticas após os ataques iniciais. “As palavras russas sobre a diplomacia não significam nada enquanto a liderança russa não sentir problemas críticos. E isto só pode ser garantido através de sanções, capacidades de longo alcance e diplomacia coordenada entre todos os nossos parceiros”, referiu o presidente ucraniano nas redes sociais. Esta quarta-feira, o Estado-Maior do Exército da Ucrânia informou que as forças do país atacaram uma fábrica de produtos químicos - que produz explosivos, combustível para mísseis e munições - na região russa de Bryansk na noite de terça-feira, utilizando mísseis Storm Shadow, de fabrico britânico. EUA travam, Europa avançaO presidente Donald Trump explicou na terça-feira à noite que o plano para uma reunião a curto prazo em Budapeste com o líder russo, Vladimir Putin, estava suspenso porque não queria que fosse uma “perda de tempo”. “Não quero ter uma reunião desperdiçada”, disse o presidente dos Estados Unidos. “Não quero perder tempo, depois veremos o que acontece”.A decisão tomada após o telefonema do dia anterior entre o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, e o seu homólogo russo, durante a qual Sergei Lavrov, conforme explicou posteriormente, que Moscovo se opõe a um cessar-fogo imediato, aceitando este cenário só após as negociações para um acordo de paz. Já Trump, neste momento, defende a paragem imediata dos combates. Volodymyr Zelensky afirmou ontem que o apelo do presidente norte-americano para pararem nas atuais linhas da frente foi “um bom compromisso”, mas disse duvidar que Vladimir Putin o apoie.O Kremlin também não parecia ter pressa para concretizar a reunião entre Trump e Putin, com o porta-voz Dmitry Peskov a dizer na terça-feira que era “necessária uma preparação, uma preparação séria” antes do encontro. No entanto, esta quarta-feira, depois da sua suspensão ter sido confirmada pelos Estados Unidos, a presidência russa voltou a insistir que “as datas, na verdade, não foram definidas, ainda precisam de ser definidas, mas antes disso, é necessária uma preparação cuidadosa, leva tempo”. Peskov, pegando nas palavras de Trump, afirmou ainda que “ninguém quer perder tempo, nem o presidente Trump nem o presidente Putin”. Mais assertivo sobre este tema, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Ryabkov, garantiu: “Estamos a dizer que os preparativos para uma cimeira continuam”.Esta hesitação de Trump em encontrar-se com Putin surge numa altura em que a Europa e a Ucrânia estão a preparar um plano de paz de 12 pontos, que será ainda apresentado à Casa Branca. “Há propostas, como da França, de alguns europeus, e penso que nos entendemos, e alguns países europeus são realmente muito prestáveis”, disse ontem o presidente ucraniano, notando que “não é um plano para parar totalmente a guerra, é sobretudo um plano de cessar-fogo.”Zelensky, que estará esta quinta-feira em Bruxelas para participar no Conselho Europeu e sexta-feira em Londres para uma reunião da Coligação dos Dispostos, alertou que “conheço alguns passos, mas precisamos mesmo de discutir, não está pronto”..Europa e Ucrânia preparam proposta de 12 pontos para colocar fim à guerra nas atuais linhas de batalha