Já lá vai o tempo em que a maioria dos franceses se horrorizou com a passagem à segunda volta das eleições presidenciais de Jean-Marie Le Pen, convicto xenófobo e antissemita, e na hora da verdade atribuiu um mandato expressivo a Jacques Chirac (82,2%). Vinte e três anos volvidos, e depois de Marine, a filha de Le Pen, ter refundado o partido, concorrido três vezes à presidência e operado a normalização do discurso de extrema-direita, eis que o líder formal do Reagrupamento Nacional, Jordan Bardella, aparece numa sondagem como o vencedor em todos os cenários, se as eleições se realizassem hoje. A sondagem não se detém nas motivações dos eleitores, mas é o jovem político quem capitaliza a prolongada crise política e a extrema impopularidade do presidente Emmanuel Macron, quando falta ano e meio para a primeira volta. Bardella, de 30 anos, já era o político que recolhia mais simpatias na sondagem da Odoxa para o canal Public Sénat - a televisão do Senado - e para a imprensa regional francesa. Mas volvido um mês, o eurodeputado e presidente do grupo político Patriotas pela Europa não só viu a sua imagem melhorar em três pontos, distanciando-se da segunda classificada, Marine Le Pen (39% de opiniões favoráveis contra 35%), como agora se impõe em todos os cenários numa segunda volta - um dado inédito. O presidente do Reagrupamento Nacional lidera as intenções de voto numa primeira volta, com 35%, mais 3,5 pontos percentuais do que em abril, deixando com menos de metade das intenções de voto Édouard Philippe, que recolhe agora 17%. À pergunta “Se a segunda volta das eleições presidenciais se realizasse no próximo domingo, em qual das personalidades políticas seguintes teria mais hipóteses de votar?”, Jordan Bardella é sempre o escolhido. Seja contra os ex-primeiros-ministros centristas Édouard Philippe (53%-47%) e Gabriel Attal (56%-44%), seja contra o homem mais popular à esquerda, Raphäel Glucksmann (58%-42%), seja ainda contra o homem de extrema-esquerda Jean-Luc Mélenchon, (74%-26%), que é neste momento a figura política mais impopular, com 66% de rejeição. Refira-se que na sondagem datada de abril, Philippe recebia 54% dos votos face a Bardella, que teria 46%. Quanto a Glucksmann, colíder do pequeno partido Place Publique e eurodeputado, a sua prestação num recente debate televisivo com Éric Zemmour, líder do partido de extrema-direita Reconquista, deixou muitas pessoas no seu campo com dúvidas sobre a sua candidatura, apurou a BFMTV. Ainda para mais, Glucksmann não quer passar pelo crivo das primárias de esquerda. .França. Bardella e Le Pen: o delfim arrisca ofuscar a mentora.Rivalidade internaA sondagem também revela outro dado significativo. Questionados sobre quem consideram ser o melhor candidato para representar o Reagrupamento Nacional nas presidenciais, 44% escolhem Bardella e 37% preferem Marine Le Pen. A líder de facto do partido, condenada em março em primeira instância a quatro anos de prisão e cinco anos de inelegibilidade, vai de novo a tribunal, entre janeiro e fevereiro próximos, altura em que o recurso vai ser apreciado. Uma decisão judicial deverá ser tomada durante o verão. .Justiça quer decidir recurso de Marine Le Pen até ao verão de 2026.No domingo, em entrevista ao Ouest-France, Le Pen disse ser “extremamente combativa”, reafirmou ser a candidata do partido e nem aceitou a hipótese de a pena ser confirmada. Apenas admitiu a hipótese de passar a candidatura a Bardella se o tribunal “se vir na necessidade de tomar uma decisão demasiado próxima da data da votação”, cenário em que “a campanha do Reagrupamento Nacional não poderia decorrer em boas condições”, disse. Seja quem for o candidato, o que sai da sondagem “é um sinal forte e novo sobre o estado da opinião pública” francesa, que escolhe o Reagrupamento Nacional, afirma o presidente da Odoxa, Gaël Sliman.