Longe vão os tempos em que John F. Kennedy teve de, em plena campanha para as presidenciais de 1960 nos EUA, defender-se dos que temiam que a sua lealdade fosse mais com o papa do que com a América. Depois da candidatura falhada de Al Smith em 1928, JFK acabou mesmo por se tornar o primeiro católico a chegar à Casa Branca. Desde então, só outro o conseguiu: Joe Biden, numas eleições de 2020 em que a religião pouco ou nenhuma influência teve. Ontem, o sucessor de Biden na Presidência, Donald Trump, não escondeu o orgulho em ver o primeiro norte-americano eleito papa - Robert Francis Prevost, agora Leão XIV.“É uma grande honra perceber que ele é o primeiro papa americano”, escreveu Trump na sua rede Truth Social. O presidente americano esteve em abril no Vaticano para o funeral do papa Francisco, ao lado da mulher, a católica Melania, nascida e criada na Eslovénia. Apesar das tensões com Francisco nos meses que antecederam a sua morte - sobretudo devido às críticas do pontífice em relação às políticas de imigração da nova Administração norte-americana -, na véspera da sua morte, o papa argentino recebera no Vaticano JD Vance, o vice-presidente dos EUA, criado como evangélico, mas não-praticante e que em 2019 se converteu ao catolicismo.Depois de ontem o fumo branco ter saído da chaminé colocada no teto da Capela Sistina, e de Prevost ser anunciado como Leão XIV, Joe Biden reagiu no X com um entusiástico: “Habemus papam - que Deus abençoe o papa Leão XIV do Ilinóis. Jill e eu congratulamo-lo e desejamos-lhe o melhor”, juntando a sua mulher também aos parabéns.Aproximadamente 20% dos cerca de 330 milhões de americanos, os católicos são percentualmente o maior grupo religioso dos EUA, uma vez que os protestantes se dividem em várias denominações. Segundo o Pew Research Center, os brancos são a maior percentagem dos católicos americanos, 54%, os hispânicos representam 36%, sendo os asiáticos 4% e os negros 2%. O mesmo estudo mostra que mais de metade dos católicos americanos (53%) dizem votar nos republicanos e, apesar de a Igreja Católica ser ferozmente contra o aborto, 59% dos católicos americanos consideram que este devia ser legal. Numa sondagem publicada em fevereiro último, o mesmo Pew Research Center compara a popularidade dos últimos três papas entre os católicos americanos, revelando que o polaco João Paulo II chegou a obter 93% de opiniões favoráveis, o alemão Bento XVI conseguiu 83% no momento de maior popularidade e o argentino Francisco chegou aos 90%.E se dúvidas houvesse sobre a influência dos católicos nos EUA ser muitas vezes maior do que o seu peso na população, basta pensar que dos nove juízes do Supremo Tribunal, a mais alta instância judicial norte-americana, seis são católicos. Já no Conclave que agora elegeu o primeiro papa dos EUA, os norte-americano tinham o segundo maior grupo, 17 cardeais, dez deles eleitores, atrás só dos italianos. .Um papa emigrante que diz não a Trump e Vance .Da unidade da Igreja às finanças do Vaticano: os desafios do novo papa