Caracas rejeita relatório da ONU que questiona “transparência” eleitoral
Um “ato de propaganda que serve os interesses golpistas da extrema-direita venezuelana”. Foi desta forma que o governo de Nicolás Maduro qualificou o relatório preliminar do painel de especialistas das Nações Unidas que considerou que o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) mostrou “falta de transparência e integridade que são essenciais para a celebração de eleições credíveis”.
O CNE proclamou a vitória de Maduro nas presidenciais de 28 de julho com 52% dos votos, mas ainda não forneceu as atas eleitorais pormenorizadas de todas as mesas, como tem sido exigido pela comunidade internacional. A oposição alega que o seu candidato, o diplomata Edmundo González, foi o verdadeiro vencedor, por uma margem elevada.
O relatório questiona as declarações do CNE, logo a 29 de julho e depois a 2 de agosto, que validaram a vitória de Maduro “sem a publicação dos seus dados ou a entrega dos resultados tabelados aos candidatos”. E considera que isso é “sem precedentes nas eleições democráticas contemporâneas”. O relatório foi escrito por quatro peritos da ONU convidados pelo CNE para seguir as eleições e reportar diretamente ao secretário-geral, António Guterres.
Em comunicado, o governo rejeitou “categoricamente” este “relatório preliminar”, que diz “difundir uma série de mentiras”. E considera que a atuação do grupo de peritos, que acusa de “falta de ética”, representa “um ato absolutamente imprudente que mina a confiança nos mecanismos concebidos para a cooperação e a assistência técnica”.
O comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, liderado por Yván Gil, considera ainda que “a opinião emitida no seu relatório irresponsável não é mais do que um ato de propaganda que serve os interesses golpistas da extrema-direita venezuelana, com os quais interagiram constantemente antes, durante e depois das referidas eleições”.
O governo acusa ainda o “falso painel de peritos” de terem tido “contactos frequentes” com o Departamento de Estado dos EUA, alegando por isso que “não há qualquer dúvida de que as suas declarações são produto das instruções hostis” vindas de Washington. E conclui: “Este ataque à democracia, levado a cabo por falsos especialistas eleitorais, também falhará, e na Venezuela prevalecerão a justiça e o respeito pela vontade soberana do seu povo.”
Nem González nem a líder opositora María Corina Machado reagiram ao relatório da ONU. O foco da oposição é a “concentração mundial” planeada para o próximo sábado, em Caracas mas também em todas as cidades onde existe diáspora venezuelana. O objetivo é exigir o respeito pela soberania popular e reivindicar a vitória de González.
susana.f.salvador@dn.pt