Que decisão tomou o presidente dos Estados Unidos em relação ao uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia?Pela primeira vez, Joe Biden autorizou este domingo a Ucrânia a usar mísseis de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos para atacar território da Rússia, segundo fontes citadas pela AP. Esta decisão ocorre num momento em que Biden está a dois meses de deixar a Casa Branca e constitui uma importante alteração à política dos Estados Unidos. O presidente eleito, Donald Trump, prometeu reduzir o apoio norte-americano à Ucrânia e acabar o mais rapidamente possível com a guerra, que chegará esta terça-feira ao seu milésimo dia..Que uso dará a Ucrânia aos mísseis dos Estados Unidos?Os mísseis de longo alcance norte-americanos serão provavelmente usados em resposta à decisão da Coreia do Norte de enviar milhares de militares para a Rússia, para apoiar a continuação da guerra na Ucrânia, segundo as fontes da AP. As armas cujo uso foi autorizado por Biden são, em particular, mísseis supersónicos teleguiados chamados ATACMS, que podem transportar ogivas convencionais ou de fragmentação e têm um alcance de cerca de 190 milhas ou 300 quilómetros, precisou o The Washington Post. Kiev deverá usá-los nos próximos dias..A Rússia já respondeu a esta decisão de Joe Biden?Logo no domingo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo recordou que Vladmir Putin já alertou o Ocidente para as consequências de permitir que a Ucrânia utilize armas de longo alcance para ataques em território russo. A 13 de setembro, o presidente russo afirmou que, se o Ocidente concordasse em autorizar ataques contra o território da Rússia com os seus mísseis de longo alcance, isso mudaria a “essência” e a “natureza” da guerra na Ucrânia. “Isso significará que os países da NATO, os Estados Unidos da América e os Estados europeus estarão em guerra com a Rússia", afirmou então Putin. Já esta segunda-feira, o Kremlin acusou o presidente dos Estados Unidos de “atirar achas para a fogueira” se se confirmar que autorizou a Ucrânia a usar mísseis de longo alcance em território russo..A China, um aliado da Rússia, mas que tem afirmado a sua neutralidade neste conflito, já reagiu?Na sequência das últimas notícias, Pequim voltou esta segunda-feira a apelar à paz na Ucrânia, com o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jean, a afirmar que “o mais urgente é encorajar ambos os lados a acalmarem-se o mais rapidamente possível”, apelando ainda a um “cessar-fogo rápido e a uma solução política”. A China apresenta-se como um país neutro em relação à guerra na Ucrânia e insiste que não vende equipamento letal aos beligerantes, ao contrário dos Estados Unidos e de outras nações ocidentais que apoiam Kiev. No entanto, Pequim continua a ser um importante aliado económico e político de Moscovo e nunca condenou a ofensiva russa. “A China sempre encorajou e apoiou todos os esforços para encontrar uma solução pacífica para a crise”, prosseguiu Lin, acrescentando que Pequim está disposta a “continuar a desempenhar um papel construtivo (...) à sua maneira” para esse efeito..Os aliados ocidentais da Ucrânia já se pronunciaram sobre a decisão da Casa Branca?O ministro do Interior polaco, Tomasz Siemoniak, considerou-a necessária e "a única resposta apropriada a Putin, que só compreende a linguagem da força", sublinhando que a duração da guerra, "quase mil dias de agressão", não deixa margem para dúvidas sobre a necessidade de tomar medidas contundentes. Por sua vez, Cezary Tomczyk, vice-ministro da Defesa da Polónia, afirmou que "a Rússia só conhece uma língua: a linguagem do poder", declarando que Joe Biden tomou "uma boa decisão". Já o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noel Barrot, reiterou esta segunda-feira que a utilização de mísseis franceses pela Ucrânia contra território russo continua a ser "uma opção". A França forneceu mísseis terra-ar de médio alcance Scalp à Ucrânia, mas sempre se recusou a dizer quantos projéteis foram entregues ou se já foram utilizados pelas forças de Kiev.Margus Tsahkna, ministro dos Negócios Estrangeiros da Estónia, referiu que aliviar as restrições à Ucrânia era “uma coisa boa”, sublinhando que “precisamos entender que a situação é mais séria do que era há alguns meses”. O líder da diplomacia neerlandesa, classificou a a decisão dos EUA como “muito importante”, enquanto a sua congénere alemã, Annalena Baerbock, sublinhou que “a decisão do lado americano, e gostaria de sublinhar que não se trata de um repensar, mas de uma intensificação do que já foi entregue por outros parceiros, é muito importante neste momento”..E Bruxelas já deu algum sinal?O líder da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, que se encontra reunido esta segunda-feira com os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27, afirmou ter esperança de que os membros do bloco concordem em permitir que a Ucrânia use armas para atacar dentro da Rússia. “Tenho dito uma e outra vez que a Ucrânia deveria ser capaz de usar as armas que lhes fornecemos, não só para parar as flechas, mas também para poder atingir os arqueiros”, referiu o espanhol, citado pela Reuters..Qual foi a reação dos países nórdicos, geograficamente mais próximos da Rússia?A Suécia, a Finlândia e a Noruega estão a avisar os respetivos cidadãos para se prepararem para uma potencial guerra, dado o agravamento da situação no conflito entre a Rússia e a Ucrânia, avançou a BBC. De recordar que a Finlândia e a Noruega têm fronteiras terrestres com a Rússia. Esta segunda-feira, milhões de suecos começaram a receber nas caixas de correio uma versão do panfleto "Se a crise ou a guerra vier", que aconselha a população sobre como se preparar e enfrentar uma guerra, documento que já tinha sido distribuído quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, mas tem agora o dobro do tamanho e dos conselhos. Já a Finlândia publicou online novos conselhos sobre "preparação para incidentes e crises", enquanto os noruegueses receberam um panfleto instando-os a estarem preparados para sobreviverem sozinhos durante uma semana em "caso de condições meteorológicas extremas, de guerra ou de outras ameaças". Os conteúdos publicados pelas autoridades finlandesas incluem uma secção sobre conflitos militares, onde é explicado como é que o Governo e o presidente responderiam em caso de um ataque armado, sublinhando que as autoridades estão "bem preparadas para a autodefesa"..A Alemanha, que se recusa a fornecer mísseis de longo alcance à Ucrânia, já deu sinais de mudar de ideias devido à decisão de Biden?A política alemã será para manter, disse uma fonte governamental à Reuters – Berlim tem sido pressionado a entregar a Kiev mísseis de longo alcance Taurus, mas o chanceler alemão, Olaf Scholz, tem rejeitado esta hipótese, dizendo temer uma escalada do conflito. No entanto, o jornal alemão Bild está a noticiar uma entrega “ultrassecreta” à Ucrânia de 4.000 drones de ataque, conhecidos por “mini Taurus” desenvolvidos pela empresa alemã de inteligência artificial Helsing. Segundo o The Guardian, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, confirmou as entregas..Existem alguns avanços quanto a um cenário de paz entre a Rússia e a Ucrânia?De acordo com a Bloomberg, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, apresentará na reunião do G20, que está a decorrer no Brasil, um plano de paz para a Ucrânia e que incluiria congelar a linha de frente como está, Kiev concordar em não aderir à NATO durante pelo menos dez anos, fornecer armas à Ucrânia para garantir a sua defesa e colocar forças de manutenção da paz internacionais numa zona tampão desmilitarizada no Donbass..Será que a decisão de Joe Biden quanto ao uso de mísseis de longo alcance chega demasiado tarde para a Ucrânia?Analistas militares ouvidos pela Reuters dizem que, embora esta mudança possa reforçar a operação de Kursk – zona russa onde se encontram os soldados norte-coreanos ao serviço de Moscovo, é pouco provável que seja um fator de mudança global. “A decisão chega tarde e, tal como outras decisões neste sentido, pode ser demasiado tarde para mudar substancialmente o curso dos combates”, referiu à Reuters Michael Kofman, do think tank norte-americano Carnegie Endowment for International Peace.