A pouco mais de um ano das presidenciais francesas, o campo da direita começa a ganhar forma. O ex-ministro e atual presidente da região de Hauts-de-France, Xavier Bertrand, pôs fim à especulação e anunciou que será candidato: "Estou completamente determinado. Dada a atual situação em França, creio que é o meu dever." E deu início à contagem decrescente para que outro dos nomes de que se fala, Michel Barnier, que liderou as negociações do Brexit no lado europeu, possa dar o mesmo passo..Em fevereiro, Barnier criou o grupo "Patriota e Europeu" dentro do partido Os Republicanos, desencadeando os rumores de que estaria a planear, aos 70 anos, o regresso à política francesa e uma candidatura presidencial. Na quarta-feira, numa entrevista ao grupo Ebra, o homem que foi deputado durante 15 anos, ministro do Ambiente, dos Negócios Estrangeiros e da Agricultura e Pescas em governos conservadores e comissário europeu de Romano Prodi e depois Durão Barroso, disse estar "preparado" para uma campanha presidencial, sem avançar oficialmente. Deixou contudo claro que tem "o mesmo entusiasmo e indignação e a mesma força" da sua primeira campanha, para um cargo local, em 1973..O nome do homem que representou a União Europeia nas negociações do Brexit, e que atualmente lidera o grupo de trabalho europeu para as relações com o Reino Unido, é provavelmente mais conhecido do que Xavier Bertrand. Mas o presidente da região de Hauts-de-France é considerado, aos 56 anos, um dos pesos pesados da direita francesa. Antigo ministro da Saúde e depois ministro do Trabalho, próximo do ex-presidente Nicolas Sarkozy, foi secretário-geral da União para o Movimento Popular (atual Os Republicanos) entre 2008 e 2010.."Eu sou um gaulista social, de uma direita social e popular", disse na entrevista ao jornal Le Point, na qual confirmou oficialmente a sua candidatura. Além disso, deixou claro que não tem planos para se pôr à prova numas primárias dentro d"Os Republicanos (que abandonou em 2017) ou abertas a toda a direita, abrindo caminho à fragmentação dos votos..Nas sondagens, os eleitores têm sido questionados sobre uma eventual candidatura de Bertrand, dentro desse partido, e ele surge em terceiro lugar. Mas não é claro o que acontecerá se, além dele, existir também um candidato d"Os Republicanos, como Barnier ou Valérie Pécresse. A presidente da região de Ile-de-France defende umas primárias "o mais abertas possível" à direita para escolher um só nome, evitando para já pronunciar-se sobre se entrará na corrida ou não. Bruno Retailleau, líder do partido no Senado, também já mostrou desejo de "apresentar as suas ideias". Parte da direita gostaria na realidade de ter Sarkozy de volta, mas a sua condenação por corrupção ativa e tráfico de influências parece fechar essa porta..Parte do sucesso do projeto centrista do La Republique en Marche! de Emmanuel Macron nas presidenciais de 2017 foi o cansaço do eleitorado com os partidos tradicionais, à esquerda e à direita. Do lado conservador, também não ajudou que o então candidato d"Os Republicanos, o ex-primeiro-ministro François Fillon, tivesse visto rebentar o escândalo dos empregos fictícios para membros da sua família (incluindo a mulher) a poucos meses do escrutínio. Fillon seria terceiro na primeira volta, ficando cerca de 450 mil votos atrás de Marine Le Pen, líder da extrema-direita da União Nacional..No Eliseu, Macron não tem hesitado em cortejar o eleitorado de direita (a maioria dos franceses diz que ele é de direita), tendo em vista a reeleição em abril de 2022, com reformas económicas liberais e posições firmes em relação à política de segurança diante das ameaças terroristas. Apesar de ter sido eleito com desejos de grandes mudanças, viu-se obrigado a mudar de rumo por causa do movimento dos "coletes-amarelos" e da pandemia..Na sondagem mais recente, da Harris Interactive, Macron surge empatado com Marine Le Pen a 25% das intenções de voto na primeira volta (onde Betrand tem 15%), mas enquanto em 2017 ganhou 66,1% contra 33,9% na segunda volta, agora os estudos apontam de opinião para uma diferença de apenas 53% contra 47%..Já numa sondagem Ifop, publicada pela revista Marianne, Le Pen ganha à primeira volta com 28% das intenções de votos, mais quatro pontos que Macron, que na segunda volta ganharia com os mesmos 53% contra 47%. Betrand, que na primeira volta teria apenas 14%, teria contudo um melhor resultado que o presidente se fosse a um frente a frente com a líder da extrema-direita: 57% dos votos, sendo um nome mais forte para uma "frente republicana" contra Le Pen. "O meu dever é derrotar Marine Le Pen e fazer tudo para conseguir unir os franceses", disse na entrevista ao Le Point..susana.f.salvador@dn.pt