Barco da flotilha humanitária com bandeira portuguesa atacado por drone em Tunes. Tunísia desmente
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Barco da flotilha humanitária com bandeira portuguesa atacado por drone em Tunes. Tunísia desmente

"Todos estão bem", afirmou a organização da flotilha humanitária na qual participam a deputada e coordenadora do BE, Mariana Mortágua, a atriz Sofia Aparício e o ativista Miguel Duarte.
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A Flotilha Global Sumud (GSF, na sigla em inglês) confirmou que "um dos principais barcos, conhecido como 'Family Boat' (Barco da Família)", com bandeira portuguesa, que transporta elementos portugueses participantes na ação humanitária de apoio aos palestinianos na Faixa de Gaza, assim como membros do Comité Diretivo da organização, "foi atingido por um drone" em Tunes, capital da Tunísia.

"O barco navegava sob bandeira portuguesa e todos os passageiros e tripulantes estão bem. Está em curso uma investigação e, assim que houver mais informações disponíveis, estas serão divulgadas imediatamente", acrescentou a GSF, através de várias publicações nas redes sociais e num comunicado enviado à Lusa.

"Os atos de agressão destinados a intimidar e a inviabilizar a nossa missão não nos dissuadirão", fez ainda saber a GSF, acrescentando que a "a missão pacífica de quebrar o cerco a Gaza e de [se] solidarizar com o seu povo continua com determinação e resolução".

Integram a flotilha a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, atriz Sofia Aparício e ativista Miguel Duarte. Na altura do ataque só estava no barco o ativista português.

No domingo, o ativista português Miguel Duarte, que está integrado na flotilha humanitária, indicou à Lusa que os barcos que zarparam no passado domingo de Barcelona (Espanha) encontravam-se ao largo da costa da Tunísia, onde iam realizar uma paragem para recolher mais ajuda humanitária e fazer reparações.

Miguel Duarte tinha lamentado, no domingo, a presença de drones a sobrevoar as embarcações que partiram de Barcelona, na semana passada, após denúncia da organização Global Movement to Gaza, uma das que promoveu a Global Sumud Flotilla.

Mariana Mortágua pede reação da comunidade internacional ao ataque à flotilha 

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, pediu esta terça-feira uma reação da comunidade internacional ao ataque ao barco de bandeira portuguesa que integra a flotilha humanitária, sublinhando que nenhuma tentativa de intimidação será bem sucedida.

"Era muito importante, também, que houvesse uma reação por parte da comunidade internacional. Eu recordo que a bordo deste barco, no momento do ataque, estava um cidadão português, o Miguel Duarte, juntamente com outros cidadãos não armados, civis, que queriam apenas levar ajuda humanitária [a Gaza], e que este barco tem bandeira portuguesa", disse à Lusa a Mariana Mortágua, que integra a missão.

Em declarações à Lusa a partir do porto de Tunes, na Tunísia, onde os barcos da flotilha fizeram uma paragem para se juntarem a outras delegações e também para reabastecerem os tanques e preparar o resto da viagem, Mariana Mortágua disse que o ataque, que ocorreu de noite, aconteceu após a troca de turnos de vigia que os ocupantes dos barcos fazem porque "noutras missões anteriores já houve casos de ataques com drones ou de sabotagem dos barcos".

"Ontem [segunda-feira] eu, a Sofia [Aparício] e a tripulação ficámos a bordo do barco e os restantes participantes vieram até a terra e depois trocámos e o Miguel [Duarte] foi para o barco (...) e foi nesse momento, durante a noite, que um drone surgiu e lançou um dispositivo incendiário que espoletou um incêndio, que foi controlado pela ação dos tripulantes e dos passageiros que estavam a bordo, com extintores, com graves riscos para todos, mas felizmente controlados”, explicou.

"O barco principal da flotilha (Family) foi atacado aparentemente por um drone no porto de Tunes", denunciou igualmente a relatora especial da ONU para a Cisjordânia e Gaza, Francesca Albanese, numa de várias publicações na rede social X.

A relatora disse ainda que "outros dois navios estão a caminho de Tunes e precisam de proteção urgente".

Flotilha Global Sumud difunde vídeo do ataque de um drone a um barco

 Flotilha Global Sumud (GSF, na sigla em inglês) difundiu um vídeo em que mostra o ataque de um drone ao navio da organização ativista, com bandeira portuguesa, onde viajam para Gaza membros da sua direção.

O vídeo, gravado às 00:29 de hoje, mostra a chama de um disparo que desce do alto e a imagem e som de um impacto num dos "principais navios" da organização ativista, o 'Family Boat' (Barco da Família), que pegou fogo na sequência do ataque.

Num segundo vídeo, com uma tomada de imagem de outro ângulo, percebe-se que o ataque quase atingiu dois ativistas que se dirigiam para o local da embarcação alvejada, quando se encontrava atracada à margem no porto de Sidi Bou Said, em Tunes, capital da Tunísia.

Guarda Costeira da Tunísia desmente "ato hostil" e "ataque externo"

A Guarda Costeira tunisina garantiu esta madrugada através de um comunicado que "não existe qualquer ato hostil nem ataque externo".

O motivo do incêndio, de acordo com a investigação preliminar das autoridades tunisinas, é que "partiu dos coletes salva-vidas desse navio".

À AFP, a Guarda Costeira afirmou que não tinha detetado "nenhum drone".

"De acordo com as constatações preliminares, ocorreu um incêndio nos coletes salva-vidas", disse o porta-voz Houcem Eddine Jebabli à agência de notícias francesa.

Os relatos que dão conta da presença de um drone "são completamente infundados", insistiu a Guarda Nacional num comunicado na sua página oficial do Facebook, sugerindo que o incêndio pode ter sido iniciado por uma ponta de cigarro, refere a AFP.

De acordo com o porta-voz da guarda costeira da Tunísia, inicialmente, o barco encontrava-se a 50 milhas do porto de Sidi Bou Saïd.

Em sentido inverso, Thiago Avila, ativista e membro da organização da flotilha humanitária, partilhou um vídeo no Instagram no qual mostra o testemunho do ativista português a bordo do navio.

"Foi 100% um drone que lançou uma bomba", afirmou Miguel Duarte no vídeo.

Veja aqui o testemunho do ativista português:

Ativistas da GSF acusaram Israel da autoria do ataque em vários vídeos divulgados nas redes sociais.

"Quem é o dono deste drone? Estamos em território soberano tunisino", disse num destes vídeos o brasileiro Thiago Ávila, um dos membros da flotilha, que se encontrava no porto de Sidi Bou Said, onde as embarcações que partiram de Espanha no início do mês começaram a atracar no domingo, à espera de outras que aí se juntarão até ao reinício da viagem para Gaza esta quarta-feira.

Navio da Flotilha com "danos superficiais" pode viajar para Gaza

Segundo os porta-vozes tunisinos da Flotilha, citados pela agência EFE, que se encontravam a bordo do navio, um incêndio provocado pelo ataque do drone "não causou danos graves, mas sim superficiais", e o navio "pode viajar" esta quarta-feira.

As mesmas fontes garantiram que "apenas os tunisinos ficarão para vigiar os navios esta noite", segundo um vídeo divulgado pelo tunisino Wael Naouar, porta-voz magrebino da flotilha.

Naouar apelou aos tunisinos para que se deslocassem ao porto para proteger os navios que planeiam partir esta quarta-feira de manhã em direção à Faixa de Gaza, na tentativa de quebrar simbolicamente o bloqueio militar israelita imposto ao território.

Centenas de tunisinos dirigiram-se esta madrugada ao porto de Sidi Bou Said para mostrar solidariedade para com a flotilha, na sequência do incêndio num dos seus maiores navios, segundo vídeos divulgados nas redes sociais, em que se ouviam gritos com "viva a Palestina".

Uma das tripulantes do navio, Yasemin Acar, indicou nas redes sociais que o drone "provocou um incêndio a bordo que já foi logo extinto".

"Um drone passou por cima, lançou uma bomba, que explodiu e o barco pegou fogo. Todos no barco estão bem", descreveu numa publicação no Instagram.

A Flotilha Global Sumud, que pretende ser "a maior missão humanitária da história" com o território palestiniano de Gaza, saiu inicialmente de Barcelona. 'Sumud' é uma palavra árabe que significa resiliência.

As forças israelitas têm em curso uma ofensiva na Faixa de Gaza que causou mais de 64.600 mortos no território governado pelo Hamas desde 2007.

A ofensiva seguiu-se ao ataque do Hamas no sul de Israel, em 07 de outubro de 2023, que provocou cerca de 1.200 mortos e 251 reféns.

Israel, que anunciou uma operação para tomar a cidade de Gaza, no norte do enclave, tem sido acusado de genocídio e de usar da fome como arma de guerra, que nega.

A ONU declarou em agosto uma situação de fome no norte de Gaza, o que acontece pela primeira vez no Médio Oriente.

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