Babis, o magnata que ameaça virar a Chéquia contra a Ucrânia
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Babis, o magnata que ameaça virar a Chéquia contra a Ucrânia

Antigo primeiro-ministro é favorito às legislativas desta sexta e sábado. Vitória de Babis significará aproximação do país ao bloco antissistema e afastamento da UE.
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A acreditar nas sondagens, os checos preparam-se para trazer de volta ao poder o magnata da agricultura Andrej Babis e o seu partido populista ANO nas legislativas que decorrem esta sexta e sábado na Chéquia. Uma potencial vitória sobre a coligação conservadora do atual primeiro-ministro Petr Fiala que, a confirmar-se, significará uma aproximação do país ao bloco antissistema e o afastamento de um dos principais apoios da Ucrânia.

Primeiro-ministro entre 2017 e 2021, Babis, um empresário que fez fortuna no sector agrícola e dos produtos químicos, deverá passar a alinhar com a Hungria e a Eslováquia, apesar de garantir não ser pró-russo. Durante a campanha, prometeu, no entanto, cortar no apoio à Ucrânia, tendo criticado a iniciativa de munições liderada por Praga — que garante a entrega de milhões de cartuchos a Kiev — e comprometeu-se a cancelá-la, sugerindo que a NATO deveria assumir a gestão do programa. Babis proclamou ainda a sua oposição às políticas migratórias da União Europeia e o chamado Green Deal, o pacto ecológico europeu.

Mesmo que vença estas eleições - e as últimas sondagens dão-lhe cerca de 30% dos votos, o ANO de Babis não deverá conseguir a maioria, sendo depois forçado a procurar parceiros para uma coligação ou governar em minoria.

Neste dois dias, os checos vão escolher os 200 membros da Câmara dos Deputados, a câmara baixa do Parlamento, com os nacionais residentes no estrangeiros a serem pela primeira vez autorizados a votar por correspondência. Ao todo há 26 partidos a votos, mas menos de uma dezena deverá ultrapassar a fasquia dos 5% que garante a entrada no Parlamento.

Os seus rivais políticos afirmam que uma vitória de Babis poderia alterar os equilíbrios na Europa Central, afastando-a de Bruxelas e da opinião dominante na UE sobre a Ucrânia. A vizinha Eslováquia "inclina-se para Moscovo, enquanto a Áustria tem ligações obscuras com a Rússia e a Hungria tem sido o país da UE mais simpático ao Kremlin durante os anos de guerra", como escrevia o Politico.

Nascido em Bratislava, na atual Eslováquia, Babis chegou a um acordo judicial no ano passado com o Ministério do Interior eslovaco, afirmando que não colaborou conscientemente com a polícia secreta da era comunista na então Checoslováquia. Em 2019, 400 mil pessoas saíram às ruas – as maiores manifestações desde a Revolução de Veludo anticomunista de 1989 – para exigir a renúncia de Babis ao cargo de primeiro-ministro devido a um conflito de interesses relacionado com subsídios da UE. Esta caso está relacionado com a sua empresa, a Agrofert, e há anos que Babis aguarda

Mas este não foi o único escândalo em que se viu envolvido, tendo-se mais tarde visto ligado, tal como centenas de outros milionários, a contas offshore. Casos divulgados nos chamados Pandora Papers.

Babis perdeu as legislativas de 2021 e, dois anos depois, foi derrotado por Petr Pavel, um general reformado do exército, numa votação para o cargo de presidente, essencialmente cerimonial na Chéquia.

Várias vezes comparado a Donald Trump, no seu primeiro mandato, Babis elogiou o presidente dos EUA. Até a sua campanha "Chéquia Forte" parece inspirada no Make America Great Again (Fazer a América Grande Outra Vez) do também milionário americano.

No ano passado, Babis considerou a eleição de Trump para um segundo mandato como um "regresso extraordinário" e afirmou-se convencido que o chefe do Estado americano acabaria com a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Mas criticou as tarifas aduaneiras que Trump impôs a vários países, inclusive à UE.

Agora, Babis espera fazer ele próprio um regresso em força à política checa.

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"Quando decidimos dividir o país, eu sabia que as relações entre os checos e os eslovacos seriam melhores no futuro" 

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