Presidente venezuelano, Nicolas Maduro
Presidente venezuelano, Nicolas MaduroEPA/MIGUEL GUTIERREZ

Ausência da oposição dá a Maduro vitória esmagadora nas legislativas venezuelanas

Detidas 70 pessoas, entre as quais um dirigente da oposição próximo da líder Maria Corina Machado, acusado de fazer parte de uma “rede terrorista” que procurava “sabotar” as eleições de domingo.
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O partido do presidente venezuelano, Nicolas Maduro, obteve no domingo uma vitória esmagadora nas eleições legislativas e regionais, que ficaram marcadas pela detenção de 70 pessoas e pelo boicote da maioria da oposição.

De acordo com os números oficiais do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) divulgados ao final da tarde de domingo (noite em Lisboa), o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) ganhou 23 dos 24 cargos de governador, deixando apenas o estado de Cojedes, no centro-oeste, para a oposição.

A coligação de Maduro obteve 82,68% dos votos nas listas nacionais para as eleições legislativas, enquanto se aguarda a contagem dos resultados para cada círculo eleitoral, informou o CNE.

A afluência às urnas, segundo o CNE, foi de pouco mais de 42%, mas a oposição contesta esta participação.

Entre as 70 pessoas detidas antes do escrutínio, conta-se Juan Pablo Guanipa, um dirigente da oposição próximo da líder Maria Corina Machado, detido na sexta-feira e acusado de pertencer a uma “rede terrorista” que procurava “sabotar” as eleições de domingo.

Mais de 400.000 membros das forças de segurança foram destacados para as várias assembleias de voto.

Os distúrbios pós-eleitorais que se seguiram às eleições presidenciais de 28 de julho resultaram em 28 mortes e 2.400 detenções, das quais 1.900 pessoas foram libertadas até agora.

"Esta vitória é a vitória da paz e da estabilidade para toda a Venezuela", exultou Maduro perante os apoiantes.

"Hoje, a Revolução Bolivariana mostrou que é mais relevante e mais forte do que nunca. Hoje, demonstrámos a força do chavismo", acrescentou Maduro, ao falar sobre o movimento fundado por Hugo Chavez, do qual é herdeiro.

Trata-se de um "processo importante de participação cidadã", afirmou Samadi Romero, uma estudante universitária de 32 anos que votou em Nicolas Maduro Guerra, filho do presidente, que encabeçava a lista em Caracas.

"Não vou votar porque votei em 28 de julho e eles roubaram as eleições. É realmente uma farsa", disse, pelo seu lado, Candelaria Rojas Sierra, 78 anos, funcionária pública reformada em San Cristobal, em declarações à agência France-Presse (AFP) quando se dirigia para a missa para "rezar pela Venezuela".

"O que o mundo viu hoje foi (...) uma declaração silenciosa mas poderosa de que o desejo de mudança, dignidade e futuro permanece intacto", escreveu nas redes sociais, a partir do exílio, Edmundo Gonzalez Urrutia, que reclama a vitória nas eleições presidenciais de julho.

Também Maria Corina Machado disse num vídeo publicado nas redes sociais durante a noite que a oposição tinha "desmascarado esta grande farsa" e, tal como no passado, deixou um apelo ao exército, a pedra angular do poder de Maduro: "O país exige [aos militares] que cumpram o seu dever constitucional e sejam os garantes da soberania popular, agora é o momento de agir".

Presidente venezuelano, Nicolas Maduro
Venezuela vai a votos: do boicote de (quase) toda a oposição a Essequibo

O candidato da oposição Henrique Capriles, que foi eleito na lista nacional, defendeu a sua participação no escrutínio: "O que é melhor? Ter uma voz e lutar na Assembleia Nacional ou, como já fizemos noutras ocasiões, retirarmo-nos do processo eleitoral e deixar a Assembleia inteiramente nas mãos do Governo?", questionou.

O Governo venezuelano reviu as fronteiras eleitorais para eleger um governador e oito deputados para Essequibo, região rica em petróleo que Caracas disputa com a Guiana, num diferendo que remonta à época colonial.

O representante do Governo, almirante Neil Villamizar, foi eleito governador, numa votação que decorreu numa micro-constituição de 21.000 eleitores na fronteira com a Guiana.

Não existem assembleias de voto no território de 160.000 quilómetros quadrados administrado por Georgetown. O presidente da Guiana, Irfaan Ali, disse à AFP na quarta-feira que a eleição de um governador venezuelano para Essequibo é “uma ameaça”.

"Irfaan Ali, presidente da Guiana (...), mais cedo ou mais tarde, terá de se sentar comigo para discutir e aceitar a soberania venezuelana", afirmou Maduro no domingo, prometendo "recuperar" a região.

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"O senhor Maduro é um presidente ilegítimo na Venezuela"

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