Prisão perpétua para o único sobrevivente do grupo que provocou atentados de Paris
O único membro sobrevivente de uma célula terrorista do Estado Islâmico que matou 130 pessoas em Paris, nos atentados de novembro de 2015, foi condenado a prisão perpétua por um tribunal francês nesta quarta-feira, na mais dura punição permitida pela legislação francesa.
Salah Abdeslam, um francês de 32 anos de origem marroquina, foi capturado vivo pela polícia quatro meses após o banho de sangue.
A sentença foi lida pelo chefe de um painel de cinco juízes que supervisionou o longo julgamento de 20 homens acusados de envolvimento na pior atrocidade em tempos de paz da história moderna da França.
Os outros 19 suspeitos, acusados de conspirar ou oferecer apoio logístico, foram considerados culpados, com penas que variam entre os dois anos e a prisão perpétua.
Centenas de sobreviventes e testemunhas foram chamados ao processo desde o início, em setembro, e lotaram esta tarde os bancos do tribunal construído especialmente para o efeito enquanto os veredictos eram lidos.
Uma equipe de 10 jihadistas do Estado Islâmico sitiou a capital francesa, atacando o estádio nacional, bares e a casa de espetáculos Bataclan num ataque que traumatizou o país.
O julgamento foi o maior da história moderna da França, o culminar de uma investigação de seis anos em vários países, cujas descobertas chegam a mais de um milhão de páginas.
Abdeslam começou as suas aparições em tribunal a declarar-se como um "combatente do Estado Islâmico", mas terminou a pedir desculpas às vítimas e apelar à clemência.
A sentença de prisão perpétua decretda esta quarta-feira oferece apenas uma pequena chance de liberdade condicional após 30 anos.
Salah Abdeslam largou o seu cinto suicida à última hora, na noite do ataque, e fugiu de volta para a sua cidade natal, Bruxelas, onde muitos dos extremistas moravam. Em tribunal, disse que mudou de ideias e decidiu não matar pessoas.
Os promotores franceses, no entanto, argumentaram que ele compartilhava a intenção assassina do resto da equipa e que o seu equipamento simplesmente não funcionava.
"Aqueles que cometeram esses crimes hediondos não são nada mais do que terroristas e criminosos de baixa índole", disse o promotor Nicolas Le Bris na sua alegação final.
A enorme perda de vidas nestes ataques que chocaram a França marcou o início de um período horrível e violento na Europa, quando o Estado Islâmico assumiu a responsabilidade por vários ataques em todo o continente.
A França, sob o então presidente François Hollande, que testemunhou no julgamento, intensificou a sua campanha militar para derrotar os extremistas na Síria e no Iraque.
Apenas 14 dos 20 arguidos apareceram pessoalmente, com os restantes desaparecidos, dados como mortos. Os outros homens que apareceram em julgamento, além de Abdeslam, eram suspeitos de oferecer apoio logístico ou planear outros ataques.
Um deles, Mohamed Abrini, admitiu ter levado alguns dos atacantes à capital francesa e explicou como ele também deveria ter participado, mas acabou por desistir.
O homem de 37 anos também começou justificando a violência do EI como parte de uma luta contra os países ocidentais, mas terminou pedindo desculpas às vítimas nas etapas finais do julgamento.
O tribunal condenou-o a uma sentença de prisão perpétua, com 22 anos como prazo mínimo.
O comandante geral dos ataques de Paris, Oussama Atar, também foi julgado à revelia, mas é dado como morto.