Ataque de Israel ao Irão: EUA divididos entre avançar as negociações do nuclear e proteger o que é seu
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Ataque de Israel ao Irão: EUA divididos entre avançar as negociações do nuclear e proteger o que é seu

Na comunicação de Marco Rubio, logo após o ataque da última noite, ficou de fora a menção de que a Casa Branca apoiaria Israel em caso de retaliação por parte do Irão, como tem acontecido no passado.
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A Casa Branca está a tentar distanciar-se do ataque de Israel ao Irão, levado a cabo quase na véspera de uma nova ronda de negociações entre Washington e Teerão sobre o programa nuclear iraniano e que poderá vir a complicar ainda mais a possibilidade de um entendimento entre as duas partes. Uma autoridade norte-americana disse à Reuters na noite de quinta-feira, 12 de junho, que as negociações ainda estavam em curso. 

O sinal deste distanciamento foi dado por Marco Rubio, que além de secretário de Estado é conselheiro de Segurança Nacional, ao sublinhar que, apesar de os Estados Unidos saberem que os ataques israelitas iriam ocorrer, estes foram uma decisão unilateral de Telavive. "Não estamos envolvidos em ataques contra o Irão e a nossa principal prioridade é proteger as forças norte-americanas na região", referiu Rubio. "Israel informou-nos que acredita que esta ação é necessária para a sua autodefesa."

O antigo senador fez ainda um aviso a Teerão de que “não deve visar interesses ou funcionários americanos", depois de na quarta-feira, 11 de junho, o ministro da Defesa do Irão ter ameaçado que os EUA também enfrentariam consequências caso as negociações sobre o programa nuclear de Teerão fracassassem e ocorresse um conflito maior no Médio Oriente. Uma ameaça que fez o Departamento de Estado norte-americano autorizar saídas voluntárias do Bahrein e do Kuwait, tendo ainda atualizado o seu alerta de viagens internacionais na noite de quarta-feira para refletir a mais recente postura dos EUA. "A 11 de junho, o Departamento de Estado ordenou a saída de funcionários não urgentes do governo norte-americano devido ao aumento das tensões regionais", referiu o alerta.

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De notar ainda que no comunicado de Marco Rubio logo após o ataque da última noite ficou de fora a menção de que a Casa Branca apoiaria Israel em caso de retaliação por parte do Irão, como tem acontecido no passado. Por exemplo, em outubro, ainda durante a Administração de Joe Biden, quando o Irão respondeu a um ataque israelita, o então conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan foi inequívoco ao declarar que “haverá consequências graves para este ataque e trabalharemos com Israel para que isso aconteça.”

“É provável que o governo [dos EUA] procure agora alavancar a operação militar e utilizar a posição enfraquecida do Irão para pressionar por um processo negocial acelerado — uma componente-chave na estratégia de saída desta campanha. Nas últimas horas, o presidente [Trump] chegou a sublinhar que espera que o Irão regresse à mesa das negociações”, refere Eldad Shavit, investigador sénior do think tank israelita Institute for National Security Studies (INSS). “A avaliação é de que os EUA tentarão evitar o envolvimento direto no confronto, particularmente em qualquer ataque ao próprio Irão — e, para já, tal cenário não está a ser abordado publicamente. No entanto, espera-se que um ataque iraniano a alvos americanos provoque uma resposta imediata dos EUA contra ativos iranianos”. 

Washington e Teerão anunciaram na quinta-feira, 12 de junho, os planos para uma nova ronda de negociações no domingo, em Omã, entre o enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, e o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araqchi. Já depois do ataque de Israel contra o Irão, uma autoridade norte-americana disse à Reuters que as negociações ainda estavam em curso. "Ainda pretendemos falar no domingo", disse a mesma fonte, sem adiantar mais pormenores.

Já esta sexta-feira, 13 de junho, Donald Trump usou a plataforma Truth Social para apelar ao Irão para fazer um acordo sobre o seu programa nuclear, dizendo que ainda há tempo para evitar novos conflitos com Israel. "Dei ao Irão uma oportunidade após a outra de fechar um acordo. Disse-lhes, com a maior veemência, para 'simplesmente fazerem', mas por mais que tentassem, por mais perto que se aproximassem, simplesmente não conseguiam", escreveu o presidente dos EUA, acrescentando que "Já houve muita morte e destruição, mas ainda há tempo para acabar com esta matança, sendo os próximos ataques já planeados ainda mais brutais."

"O Irão precisa de fechar um acordo, antes que não reste mais nada, e salvar o que antes era conhecido como o Império Iraniano. Chega de mortes, chega de destruição, SIMPLESMENTE FAÇA ISTO, ANTES QUE SEJA TARDE DEMAIS. Deus abençoe a todos!", concluiu Donald Trump.

Este ataque de Israel contra o Irão é também um sinal de que Donald Trump poderá já não ter um grande poder de influência sobre o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, apesar de parecer claro para vários analistas de que Telavive não teria avançado caso Washington não tivesse dado “luz verde”. No entanto, a Casa Branca esperava que Israel adiasse o lançamento de uma ofensiva até que os Estados Unidos esgotassem as tentativas de negociação de um acordo com o Irão.

Aliás, segundo o Wall Street Journal, durante um telefonema na segunda-feira, Trump terá pedido a Netanyahu que não atacasse o Irão, sem sucesso, já que dois dias depois anunciou a retirada de pessoal não essencial das embaixadas e bases no Médio Oriente próximas do Irão.

“A busca de Trump por negociações nucleares com o Irão gerou ceticismo em Israel. A natureza unilateral das negociações americanas e a remoção de apoiantes pró-Israel da administração Trump, como o ex-conselheiro de Segurança Nacional Mike Waltz e o ex-enviado especial adjunto Morgan Ortagus, só poderiam ter agravado a tensão com Israel. Estas medidas ocorreram em paralelo com a recusa de Trump em realizar uma visita a Israel durante a sua recente viagem ao Médio Oriente, bem como com a visita de Netanyahu à Sala Oval em abril, de onde saiu de mãos a abanar tanto em relação ao alívio das tarifas como ao Irão”, nota Daniel E. Mouton, analista do programa do Médio Oriente do think tank norte-americano Atlantic Council.

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