A passagem de Donald Trump pelo Japão foi mais uma operação para agradar ao presidente dos Estados Unidos do que uma visita com substância. Um longo momento de descontração antes da reunião com o líder chinês Xi Jinping, a ter lugar amanhã na Coreia do Sul, e tida como crucial para o ambiente económico mundial.A nova primeira-ministra japonesa jogou pelo seguro e seguiu as pisadas do seu mentor, Shinzo Abe, o ex-chefe de governo assassinado em 2022. Abe foi o primeiro líder estrangeiro a visitar Trump dias depois de este ter vencido as eleições de 2016. Na ocasião ofereceu-lhe um taco de golfe dourado no valor de mais de 3700 dólares, e mais tarde cultivou uma amizade à volta daquela atividade. Sanae Takaichi, ao receber o nova-iorquino no palácio Akasaka, debaixo de um teto com uma pintura da deusa Aurora - ao chegar à Casa Branca em janeiro, Trump declarou a “aurora de uma era dourada” -, ofereceu um saco de golfe dourado assinado por um golfista japonês, um taco que pertencia a Abe e um mapa com os locais onde o Japão planeia investir nos EUA. Ao almoço, foi servido arroz e carne importados do país de Trump. No Japão, o preço do arroz subiu nos últimos meses devido a uma quebra na produção. Em julho, o acordo comercial obtido entre os dois países previa o aumento das importações japonesas de arroz norte-americano em 75%. Além disso, Takaichi prometeu nomear Trump para o Prémio Nobel da Paz, tal como Abe o fizera em 2019, anunciou a oferta de 250 cerejeiras, uma por cada ano de independência dos EUA, e fogo-de-artifício para o feriado de 4 de Julho. Por fim, a chefe do governo aludiu à hipótese de aquisição de uma frota de carrinhas Ford F-150 para inspeção de estradas e infraestruturas. A administração Trump queixa-se de que o Japão, tal como a UE, não importa automóveis norte-americanos. Em troca, o presidente não poupou elogios a Takaichi e reafirmou os laços entre os dois países: “Quero apenas dizer que, sempre que tiver alguma questão, qualquer dúvida, qualquer coisa que deseje, qualquer favor de que necessite, qualquer coisa que eu possa fazer para ajudar o Japão, estaremos disponíveis. Somos um aliado no mais alto nível.” Ao que os jornalistas decifraram, o que Tóquio deseja é apostar numa relação pessoal para mais tarde colher os frutos e melhorar o acordo comercial que impõe taxas aduaneiras de 15% aos produtos japoneses. Isto apesar de ser o país que mais investe nos EUA e de se ter comprometido em fazê-lo no valor de 550 mil milhões, o anterior executivo japonês não conseguiu obter um entendimento como o alcançado por Londres (10% de tarifas comerciais). .Líderes asiáticos elogiam Trump, o “pacificador”, a meio de tensão nos EUA.Além dos gestos e das ofertas, os líderes assinaram um acordo de cooperação para segurar uma cadeia de abastecimento sobre minerais críticos. Este é um tema caro a Trump, e que estará no centro das conversações a entabular com o homólogo chinês. Perante uma nova guerra comercial, a China de Xi Jinping retaliou com o fim das importações de soja e proibiu as exportações das chamadas terras raras. A indústria norte-americana depende destes minerais - que a China processa em quase 90% do total mundial -, da produção automóvel à de tecnologia, ou da defesa. No domingo, Pequim anunciou a suspensão da interdição e Washington suspendeu as taxas de 100%. Um encontro bilateral que servirá para abordar outros temas. Segundo o The New York Times, Xi tentará obter de Trump a garantia de que não apoia a independência de Taiwan. Criptomoeda é maná para a família TrumpUma investigação da Reuters conclui que a família Trump encaixou mais de 800 milhões de dólares (686 milhões de euros) no primeiro semestre de 2025 graças ao negócio das criptomoedas, que se tornou de longe na principal fonte de receitas familiar. Segundo a agência noticiosa, o dinheiro obtido através da memecoin e de outros produtos da World Liberty Financial é oriundo, na sua maioria, do estrangeiro. O negócio cresceu exponencialmente dias antes da tomada de posse, após a Trump Organization ter publicado novas diretrizes que eliminaram a restrição de a família do empresário procurar negócios fora do país. “Querem libertar-se de restrições legais e a impunidade que apenas o presidente pode conceder”, comentou a professora de direito da Universidade de Washington Kathleen Clark.