Alvise Pérez falou depois de conhecidos os resultados das europeias.
Alvise Pérez falou depois de conhecidos os resultados das europeias.YouTube Alvise

Acabou-se a Festa de Alvise Pérez surpreende e celebra três deputados

Movimento de extrema-direita liderado por estrela das redes sociais que “persegue corruptos e criminosos” foi a sexta força mais votada nas europeias espanholas. Alvise já prometeu que ele e os outros dois eleitos vão sortear o salário que receberão em Estrasburgo.
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A surpresa da noite eleitoral em Espanha foi o Se Acabó La Fiesta (SALF) - algo como Acabou-se a Festa - um movimento de extrema-direita liderado pelo influencer Luis ‘Alvise’ Pérez, que conquistou três deputados, graças ao voto de mais de 800.763 pessoas, tornando-se na sexta maior força das europeias espanholas. Ficou a pouco mais de 11 mil votos do Sumar, parceiro de coligação do PSOE no governo, e superou partidos como o Podemos ou o Junts per Catalunya.

Olhando para o mapa de resultados, o SALF - que segundo os analistas ameaça erodir o espaço eleitoral do Vox - foi a quarta maior força política em nove comunidades autonómicas e os territórios onde conseguiu mais percentagem foram a Andaluzia, Canárias, Múrcia, Castela-La Mancha, Aragão, Cantábria e a Comunidade Valenciana. 

Só na Andaluzia, a região natal de Alvise, arrecadou 180.816 votos (6,21%). Obteve também quase 141 mil votos na Comunidade de Madrid e 67.296 na Catalunha. As regiões com os resultados mas baixos foram Galiza, País Basco e Navarra. Segundo o CIS, 70% dos eleitores do Acabou-se a Festa são homens e metade são jovens (18 a 34 anos) - estima-se que 26,6% dos jovens que não puderam votar nas eleições gerais de 2023 se estrearam nas urnas votando no SALF.

Luis ‘Alvise’ Pérez, nascido em Sevilha há 34 anos, frequentou (mas não terminou) o curso de Ciências Políticas e Administração Pública, dando os primeiros passos na política como voluntário no União, Progresso e Democracia, da ex-socialista Rosa Díez. Em 2017, tornou-se militante do Ciudadanos (partido que perdeu os seus oito deputados nestas europeias), chegando a chefe de gabinete do grupo parlamentar laranja nas Cortes Valencianas. Dois anos mais tarde, com o desaire eleitoral do Ciudadanos, começou a trabalhar como independente.

Define-se como analista e consultor político, mas foi graças às redes sociais, onde se apresenta com o nome de Alvise, que se tornou famoso, espalhando boatos sobre personalidades políticas e que já lhe valeram problemas com a justiça - tem cerca de meio milhão de subscritores no Telegram, mais de 830 mil no Instagram e 304 mil no YouTube, cuja página descreve como sendo um canal de notícias livre e independente. O último direto que fez no YouTube foi a sua conferência de imprensa pós-resultados na noite de domingo e teve mais de 508 mil visualizações.

No início do ano anunciou que seria candidato às europeias com o nome de Alvise, mas tal não foi possível, optando então por Se Acabó La Fiesta. Foi a votos sem apresentar as linhas mestras do movimento ou o seu programa eleitoral. 

A maior parte dos seus apoiantes vêm precisamente das redes sociais, chamando-lhe Batman, por acharem que luta contra o mal. A jornalista do El Confidencial Itziar Reyero descreve Luis Pérez como um “propagador de boatos, ou lutador incansável das verdades mais sombrias e flagelo dos políticos, para os fiéis”. Já o próprio fala de si próprio como sendo uma pessoa que quer “perseguir corruptos e criminosos”.

“Não estou aqui para reformar nada, estou aqui para destruir o sistema”, prometeu durante a campanha. Outra promessa que fez foi “sortear 100% do seu salário” como eurodeputado “entre todos os espanhóis que leiam a sua newsletter”. No domingo à noite adiantou que os outros dois eleitos do movimento farão o mesmo. Certo também parece ser, segundo disse ao Periodista Digital, que não se mudará para a Bélgica, “um país falido onde só há islamistas, insegurança e violações”.

No seu discurso de vitória, Alvise anunciou várias das suas intenções, agora que foi eleito eurodeputado. Uma delas é mandar para a prisão o primeiro-ministro  Pedro Sánchez, mas não só. “ Traficantes de drogas, criminosos e corruptos, não queremos mais recursos para a polícia ir atrás de vocês, queremos colocá-los na prisão, assim como Pedro Sánchez”.

Falou também daquilo a que chamou os obstáculos burocráticos que existem em Espanha, exceto para a entrada de imigrantes no país, dizendo que “os tomates precisam de mais documentos para sair da horta do que um imigrante para entrar neste país”. “Espanha tornou-se na festa dos corruptos, dos mercenários, dos pedófilos e dos violadores, e muitos espanhóis anónimos sofrem as consequências todos os dias”, prosseguiu.

Lucía Méndez, redatora-chefe do El Mundo, descrevia no domingo os resultados de Alvise e do SALF como “a surpresa da noite eleitoral” em Espanha e que aconteceu “fora dos meios de comunicação social tradicionais e de qualquer convenção política, ética, moral ou democrática”.

ana.meireles@dn.pt

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