A surpresa da noite eleitoral em Espanha foi o Se Acabó La Fiesta (SALF) - algo como Acabou-se a Festa - um movimento de extrema-direita liderado pelo influencer Luis ‘Alvise’ Pérez, que conquistou três deputados, graças ao voto de mais de 800.763 pessoas, tornando-se na sexta maior força das europeias espanholas. Ficou a pouco mais de 11 mil votos do Sumar, parceiro de coligação do PSOE no governo, e superou partidos como o Podemos ou o Junts per Catalunya..Olhando para o mapa de resultados, o SALF - que segundo os analistas ameaça erodir o espaço eleitoral do Vox - foi a quarta maior força política em nove comunidades autonómicas e os territórios onde conseguiu mais percentagem foram a Andaluzia, Canárias, Múrcia, Castela-La Mancha, Aragão, Cantábria e a Comunidade Valenciana. .Só na Andaluzia, a região natal de Alvise, arrecadou 180.816 votos (6,21%). Obteve também quase 141 mil votos na Comunidade de Madrid e 67.296 na Catalunha. As regiões com os resultados mas baixos foram Galiza, País Basco e Navarra. Segundo o CIS, 70% dos eleitores do Acabou-se a Festa são homens e metade são jovens (18 a 34 anos) - estima-se que 26,6% dos jovens que não puderam votar nas eleições gerais de 2023 se estrearam nas urnas votando no SALF..Luis ‘Alvise’ Pérez, nascido em Sevilha há 34 anos, frequentou (mas não terminou) o curso de Ciências Políticas e Administração Pública, dando os primeiros passos na política como voluntário no União, Progresso e Democracia, da ex-socialista Rosa Díez. Em 2017, tornou-se militante do Ciudadanos (partido que perdeu os seus oito deputados nestas europeias), chegando a chefe de gabinete do grupo parlamentar laranja nas Cortes Valencianas. Dois anos mais tarde, com o desaire eleitoral do Ciudadanos, começou a trabalhar como independente..Define-se como analista e consultor político, mas foi graças às redes sociais, onde se apresenta com o nome de Alvise, que se tornou famoso, espalhando boatos sobre personalidades políticas e que já lhe valeram problemas com a justiça - tem cerca de meio milhão de subscritores no Telegram, mais de 830 mil no Instagram e 304 mil no YouTube, cuja página descreve como sendo um canal de notícias livre e independente. O último direto que fez no YouTube foi a sua conferência de imprensa pós-resultados na noite de domingo e teve mais de 508 mil visualizações..No início do ano anunciou que seria candidato às europeias com o nome de Alvise, mas tal não foi possível, optando então por Se Acabó La Fiesta. Foi a votos sem apresentar as linhas mestras do movimento ou o seu programa eleitoral. .A maior parte dos seus apoiantes vêm precisamente das redes sociais, chamando-lhe Batman, por acharem que luta contra o mal. A jornalista do El Confidencial Itziar Reyero descreve Luis Pérez como um “propagador de boatos, ou lutador incansável das verdades mais sombrias e flagelo dos políticos, para os fiéis”. Já o próprio fala de si próprio como sendo uma pessoa que quer “perseguir corruptos e criminosos”..“Não estou aqui para reformar nada, estou aqui para destruir o sistema”, prometeu durante a campanha. Outra promessa que fez foi “sortear 100% do seu salário” como eurodeputado “entre todos os espanhóis que leiam a sua newsletter”. No domingo à noite adiantou que os outros dois eleitos do movimento farão o mesmo. Certo também parece ser, segundo disse ao Periodista Digital, que não se mudará para a Bélgica, “um país falido onde só há islamistas, insegurança e violações”..No seu discurso de vitória, Alvise anunciou várias das suas intenções, agora que foi eleito eurodeputado. Uma delas é mandar para a prisão o primeiro-ministro Pedro Sánchez, mas não só. “ Traficantes de drogas, criminosos e corruptos, não queremos mais recursos para a polícia ir atrás de vocês, queremos colocá-los na prisão, assim como Pedro Sánchez”..Falou também daquilo a que chamou os obstáculos burocráticos que existem em Espanha, exceto para a entrada de imigrantes no país, dizendo que “os tomates precisam de mais documentos para sair da horta do que um imigrante para entrar neste país”. “Espanha tornou-se na festa dos corruptos, dos mercenários, dos pedófilos e dos violadores, e muitos espanhóis anónimos sofrem as consequências todos os dias”, prosseguiu..Lucía Méndez, redatora-chefe do El Mundo, descrevia no domingo os resultados de Alvise e do SALF como “a surpresa da noite eleitoral” em Espanha e que aconteceu “fora dos meios de comunicação social tradicionais e de qualquer convenção política, ética, moral ou democrática”..ana.meireles@dn.pt