A pandemia no mundo: países apertam regras

Um pouco por todo o mundo os países apertam as restrições para combater a covid-19, ou porque os números de contágio aumentam ou porque há o receio de que venham a aumentar. Eis o retrato de dez países, em diferentes geografias.
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Há três dias Angela Merkel traçou o retrato provável para o futuro próximo. "Precisamos de mais oito a 10 semanas de medidas duras", avisou a chanceler alemã, citada pela Bloomberg. A Alemanha está em confinamento (o segundo) desde 16 de dezembro - para já até ao final do mês - com o comércio não essencial encerrado, assim como atividades culturais, desportivas ou de entretenimento e os restaurantes a funcionar apenas em take away. As escolas também estão fechadas e é recomendado o teletrabalho. Em várias regiões está em vigor a proibição de as pessoas se afastarem mais de 15 quilómetros das suas casas. Apesar do confinamento, a Alemanha está com uma taxa de incidência de 152 casos por 100 mil habitantes, muito acima dos 50 casos pretendidos pelas autoridades. Na quarta-feira registou um recorde de 1244 mortes em 24 horas.

O segundo país do mundo com mais vítimas mortais está novamente a enfrentar um aumento do número de contágios, após o período das festas - que no Brasil coincide com as férias de Verão - e com razões para uma preocupação acrescida. Em Manaus, capital do estado do Amazonas os números de novos casos dispararam nas últimas semanas, ao mesmo tempo que foi identificada uma nova variante do vírus da qual ainda pouco se sabe. Esta variante foi inicialmente detetada no Japão em viajantes chegados da Amazónia. Na imprensa brasileira descreve-se um cenário de guerra nos hospitais de Manaus, já sem oxigénio para administrar aos pacientes, e de onde já começaram a ser transferidos doentes para outros estados. O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, descartou há dias a possibilidade de um novo confinamento.

Na China há atualmente 22 milhões de pessoas em confinamento, em três cidades e também em alguns bairros da capital, Pequim. Quando foram identificados os surtos iniciais em Shijiazhuang e Xingtai, duas cidades da província de Hebei com 17 milhões de habitantes, as autoridades chinesas avançaram com testes em massa a toda a população e as atividades não essenciais foram canceladas. Sendo esta uma província que circunda Pequim, qualquer habitante de Hebei só pode entrar na capital para trabalhar e com um teste negativo à covid-19. A China, que tem avançado para confinamentos rígidos ao primeiro sinal de contágios locais, registou uma média diária de 109 novos casos/dia na última semana. A Comissão de Saúde anunciou esta quinta-feira a primeira morte provocada pelo novo coronavírus no país, nos últimos oito meses.

A França anunciou ontem que o recolher obrigatório passa a estender-se das 18 horas às seis da manhã em todo o território, uma medida (que já vigorava em algumas regiões mais afetadas pela pandemia) que permanecerá em vigor pelos próximos 15 dias. O primeiro-ministro francês, Jean Castex, sublinhou que até agora não se confirmaram os receios de um crescimento exponencial dos contágios após o período de Natal e Ano Novo, qualificando a situação no país como "frágil", mas "sob controlo". Mas avisou que um novo confinamento não está afastado se os números piorarem. As atividades desportivas em recintos fechados ficam interditas. As escolas permanecem abertas e Castex reiterou a promessa de um milhão de testes por mês nos estabelecimentos escolares. A França conta um total de 2,8 milhões de infetados e cerca de 69 mil mortos.

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A Itália ultrapassou esta semana os 80 mil mortos desde o início da pandemia - é o segundo país da Europa com mais óbitos, só atrás do Reino Unido. Com um Rt (taxa de contágio) de 1,03 e uma taxa de incidência de 313 casos por cada 100 mil habitantes o governo italiano - agora envolvido numa crise política, com o Itália Viva a deixar a coligação governamental - já anunciou que vai apertar as regras a partir de sábado, com o estado de emergência a vigorar pelo menos até 30 de abril. "Não se enganem: a epidemia voltou à fase de expansão", afirmou o ministro da Saúde no parlamento. As regiões dividem-se por áreas amarelas, laranjas e vermelhas, consoante a gravidade da pandemia. As duas últimas implicam restrições de mobilidade, que se vão estender agora às zonas amarelas. Na generalidade do país as escolas estão encerradas.

Espanha conta uma média diária de 591 casos por milhão de habitantes, considerados sete dias anteriores a 13 de janeiro e 4.4 óbitos por milhão de habitantes. Com o número de novos contágios a subir após o período natalício (em que, tal como aconteceu em Portugal, as regras foram menos restritivas), as várias regiões de Espanha estão a apertar as medidas para travar a propagação da pandemia. Em geral há recolher obrigatório das 22 horas às seis da manhã, limitação de reuniões a seis ou quatro pessoas, e limitação dos horários do comércio. Há regiões em que não é permitido entrar ou sair, salvo exceções previstas na lei (caso da Catalunha, por exemplo), proibição que se estende à circulação entre municípios em zonas com maior incidência de casos. As escolas permanecem abertas em todo o país.

O país do mundo com mais casos (mais de 23 milhões) e mais mortes por covid-19 (mais de 385 mil) registou uma média de cerca de 250 mil novos casos por dia na última semana. Na última terça-feira o país contou um número recorde de óbitos diários - 4327. Foi a primeira vez que passou a barreira dos quatro mil mortos, num dia em que contou 235 mil novas infeções. De acordo com os dados da Universidade Johns Hopkins há 22 estados norte-americanos com a pandemia em tendência de crescimento. Nesta altura há mais de 130 mil pessoas hospitalizadas no país. Tal como a situação da pandemia, as restrições variam bastante entre os vários estados. Na Califórnia, o estado mais populoso dos Estados Unidos, foi ordenado aos 40 milhões de habitantes que fiquem em casa, museus e bares foram encerrados e estão proibidas as deslocações não essenciais.

Desde o início do ano que o Japão vem registando um aumento substancial de novos casos, com o dia 7 de janeiro a marcar um recorde de 2447 novos contágios em Tóquio. Esta quinta-feira foram 6607 em todo o país. A semana passada as autoridades declararam novo estado de emergência na área metropolitana da capital, entretanto já estendido a outras províncias. Ontem, com 1502 novas infeções na capital, um painel de peritos exortou o governo a tomar medidas rapidamente para baixar os contágios, apontando o risco de uma "expansão explosiva" de novos casos. Depois de a nova variante do novo coronavírus ter sido detetada no território, o Japão proibiu a entrada de estrangeiros no país, com exceção dos residentes, que ainda assim têm de ter um teste negativo e ficar em quarentena. Ficaram também excecionadas viagens de negócios com parceiros comerciais como a China, Vietname, Singapura ou Coreia do Sul.

Um dos exemplos de sucesso no combate à pandemia, a Nova Zelândia contou 40 casos de covid-19 (e nenhum óbito) na semana de 7 a 13 de janeiro. Na última segunda-feira as autoridades avançaram que, desde 13 de dezembro, foram detetados no país 19 casos da variante mais contagiosa identificada no Reino Unido. Temendo que esta se dissemine no país, o governo de Jessica Ardern apertou o controlo nos aeroportos, exigindo que os passageiros à chegada façam um teste e que os viajantes oriundos da Grã-Bretanha ou dos Estados Unidos tenham, para além disso, um teste feito antes da partida. Mas os media neozelandeses dão conta de especialistas a defender medidas mais apertadas, como a proibição de viagens a partir de países de maior risco. Em números globais, a Nova Zelândia conta 2228 casos e 25 mortes por covid.

A braços com uma variante mais contagiosa do vírus, o Reino Unido tem assistido a um crescimento exponencial da pandemia desde o período natalício, particularmente visível no número de óbitos. De acordo com a plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford, o país registou uma média diária, entre 7 e 13 de Janeiro, de 790.5 novos casos por milhão de habitantes e de 15.6 óbitos (em termos europeus seguido pela Eslováquia e por Portugal, que registou uma média diária de 12.03 mortes por um milhão de habitantes na mesma semana). Aquele que é o país com mais mortes por covid-19 na Europa entrou em confinamento por seis semanas, encerrando o comércio não essencial, a restauração (que só pode vender comida para fora) e as escolas. Os britânicos só podem sair de casa para trabalhar, ir ao médico, comprar bens essenciais ou fazer exercício.

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