A inutilidade da tinta para o clima e duas guerras num impasse
SÁBADO
Ucrânia: a guerra entra no ano 3 sem fim à vista
Foi rodeado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e pelos primeiros-ministros do Canadá, Justin Trudeau, de Itália, Giorgia Meloni, da Bélgica, Alexander de Croo, que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, depositou flores em homenagem às vítimas da guerra no dia em que se assinalaram dois anos da invasão russa da Ucrânia. Promessas de mais apoio ocidental não faltaram num momento que as tropas ucranianas tiveram de recuar por falta de munições, mas não conseguiram fazer esquecer que o pacote de ajuda militar dos EUA continua bloqueado por outras “guerras”, políticas, em Washington. E se a perspetiva de uma vitória de Donald Trump nas presidenciais americanas de 5 de novembro é tudo menos boas notícias para Kiev, Zelensky procurou mostrar-se otimista: “Esta é a nossa luta. Durante 730 dias das nossas vidas. E venceremos, no melhor dia das nossas vidas”, garantiu. E sublinhou: “A Rússia não pode destruir os nossos sonhos”. Mas à medida que o tempo passa, parece cada vez mais longe um fim para o conflito. “Como as coisas estão, nenhum lado ganhou, nenhum lado perdeu e nenhum lado está perto de ceder”, resumia à AP um analista militar britânico. Um impasse mortífero que assim entra no seu terceiro ano.
DOMINGO
Bolsonaro junta multidão na Paulista. Apoio “murchou”?
Enquanto em Portugal os candidatos dos vários partidos davam o tiro de partida oficial na campanha para as legislativas antecipadas de 10 de março, no Brasil, Jair Bolsonaro juntava os seus apoiantes em São Paulo. O ex-presidente convocou o protesto para a Avenida Paulista e foi diante de uma verdadeira multidão que criticou Lula da Silva, para quem perdeu as eleições em 2022, e o Supremo Tribunal Federal (STF), que o investiga por golpismo, corrupção e outros crimes. Mas também pediu “pacificação” e “amnistia aos pobres coitados presos” pelos atos de vandalismo de 8 de janeiro de 2023 em Brasília, quando se deu o ataque aos Três Poderes na capital do Brasil. Apesar de ter sido declarado inelegível até 2030, Bolsonaro voltou com esta manifestação a dar mostras de que não pretende manter-se afastado da política. Pelo contrário. O ex-presidente procurou provar que ainda tem o apoio do povo, apesar de politólogos ouvidos pelo correspondente do DN em São Paulo, João Almeida Moreira, garantirem que o bolsonarismo “murchou”. Será?
SEGUNDA
Abbas aceita mudar governo mas agarra-se ao poder
No poder desde 2005, quando sucedeu ao histórico Arafat como presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas cedeu à pressão da comunidade internacional e aceitou a demissão do primeiro-ministro da AP, Mohammad Shtayyeh. A renovação do governo palestiniano, que controla de forma limitada a Cisjordânia, era exigida até por países árabes tendo em vista um eventual futuro papel na governação da Faixa de Gaza depois da guerra. Mas ao manter-se Abbas, de 88 anos, na presidência, a mudança deve ser insuficiente para Israel que, nos planos para o pós-guerra em Gaza não vê papel para a AP. Esta nasceu em 1994, dos Acordos de Oslo, como ponto de partida para a criação de um Estado palestiniano. Mas hoje, dominada pela Fatah de Abbas, é vista como ineficaz e corrupta. Sem eleições presidenciais desde 2005 e com o Hamas a ter vencido as gerais do ano seguinte, assumindo o controlo de Gaza após uma guerra civil com a Fatah, os próprios palestinianos revelam nas sondagens o desejo de nova liderança. Resta encontrar quem suceda a Abbas. Marwan Barghouti é favorito. Mas o “Mandela palestiniano” continua numa prisão israelita, condenado a cinco penas perpétuas por homicídio e pertença a grupo terrorista.
TERÇA
Obrigada, João Sousa por nos teres feito sonhar a ver ténis
O Estoril Open começa a 30 de março, no dia em que João Sousa celebra 35 anos. Ora o melhor tenista português de sempre escolheu o torneio que venceu em 2018 para ser a sua última competição antes de terminar a carreira. Natural de Guimarães, o jogador que em 2016 chegou a 28.º do mundo fez sonhar os amantes de ténis ao vencer quatro torneios ATP - Malásia em 2013, com 24 anos; Valência, dois anos depois; Estoril; e, em 2022, já fora do pico da forma, Pune. Longe vão os tempos em que, miúda, passava horas a ver jogos na televisão, sempre mais fã da terra batida de Rolland Garros do que da relva de Wimbledon. Pete Sampras, Jim Courier, André Agassi fascinaram esta criança sem muito jeito no court. Mais tarde fui seguindo as proezas dos três magníficos: Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic. Vi João Sousa jogar uma só vez, há uns anos no Estoril. Agora que se confessa “cansado de lutar contra o corpo e a mente”, chegou a hora de lhe prestar homenagem e agradecermos por ter feito sonhar muitas pequenas Helenas por esse Portugal fora.
QUARTA
Seja vermelha ou verde, a inutilidade da tinta pelo clima
Quer se identifiquem como da Climáximo, como o que interrompeu o debate entre os oito líderes partidários no dia 23 e os que lançaram tinta vermelha contra os vidros da Nova SBE onde este decorria, ou como pertencendo à Greve Climática Estudantil, como o que nesta quarta-feira lançou tinta verde sobre o líder do PSD Luís Montenegro, os ativistas climáticos têm multiplicado as ações de protesto e com visibilidade. Os métodos oscilam entre a tinta colorida atirada a políticos - os ministros do Ambiente, Vasco Cordeiro, e das Finanças, Fernando Medina, foram outras vítimas -, a obstrução da via pública, como quando cortaram o trânsito na Segunda Circular, ou o puro vandalismo, como quando partiram a montra da loja da Gucci na Avenida da Liberdade. Mas se as preocupações ambientais destes jovens, talvez inspirados pela sueca Greta Thunberg, até podem ser de louvar, os seus métodos deixam muito a desejar. E arriscam-se mesmo a ser contraproducentes, ao irritar vastos sectores da população que não veem em que é que sujar um político de tinta ou lançar sopa à Mona Lisa vai ajudar a salvar o planeta.
QUINTA
Israel mais longe da aceitação após “massacre” em Gaza
A chegada de uma coluna de camiões com ajuda humanitária à Faixa de Gaza terminou com 115 pessoas mortas e 760 feridas. As autoridades do enclave, lideradas pelo Hamas, acusaram Israel de disparar contra a multidão de civis que esperava a distribuição de ajuda. Um “massacre atroz”, denunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana. Mas o exército israelita garantiu que as mortes foram provocadas por “empurrões” e “atropelamentos” das pessoas que cercaram os camiões e “saquearam” a ajuda. As Forças de Defesa de Israel apenas assumiram ter disparado contra dezenas de pessoas que se aproximaram de um posto de controlo de forma “ameaçadora”. Após quase cinco meses de bombardeamentos diário contra a Faixa de Gaza, que já fizeram mais de 30 mil mortos, na maioria civis (de acordo com as autoridades controladas pelo Hamas), em resposta ao ataque do grupo terrorista que a 7 de outubro fez mais de 1200 mortos em Israel (segundo as autoridades israelitas), a situação humanitária no enclave tornou-se tão grave que mesmo aliados fiéis como os EUA se começam a distanciar de Israel. E neste momento nem se avista fim para a guerra, nem que futuro para Gaza.
SEXTA
Multidão no funeral de Navalny após ameaça nuclear de Putin
Foi ao som de My Way, de Frank Sinatra, que Alexei Navalny foi enterrado numa cerimónia em Moscovo, duas semanas depois da sua morte, em circunstâncias pouco claras, na colónia presidencial do Ártico onde cumpria pena. E foi uma verdadeira multidão que se juntou em torno da igreja para prestar uma última homenagem ao opositor de 47 anos, desafiando ameaças de detenção por parte do regime do presidente Vladimir Putin. Um sinal de que as ameaças do homem forte do Kremlin não chegam para demover quem faz questão de o enfrentar. E foi o mundo inteiro que Putin ameaçou na quinta-feira no seu discurso anual sobre o estado da nação. Cinco dias depois dos dois anos da invasão da Ucrânia pela Rússia e três depois de o presidente francês Emmanuel Macron ter admitido a necessidade de enviar tropas da NATO para apoiar Kiev, o presidente russo garantiu: “Tudo o que está a assustar o mundo é uma ameaça real de um conflito que envolve o uso de armas nucleares, o que significaria a destruição da civilização”. Bastaram duas horas para Putin trazer ao mundo o receio de um apocalipse nuclear.