O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) anunciou esta quarta-feira um conjunto de medidas para responder à “carência de profissionais da categoria de Técnico de Emergência Pré-hospitalar”, que foi, ao longo dos últimos oito dias, “exacerbada pela greve dos trabalhadores desta categoria profissional às horas extraordinárias”. No final, o objetivo é otimizar os centros de orientação de doentes urgentes (CODU), confirmou o INEM num comunicado divulgado esta quarta-feira. No entanto, com quatro mortes numa semana alegadamente relacionadas com demoras no tempo de resposta do INEM, a oposição atacou o Governo, ainda que seja consensual entre todas as forças políticas, incluindo o Ministério da Saúde, que há falta de trabalhadores. Para já, há a promessa de diálogo..“Nós assistimos a caos no INEM e a falhas desde o início deste novo Governo”, afirmou esta quarta-feira o líder do PS, Pedro Nuno Santos, em declarações aos jornalistas na sede do partido..De forma retórica, Pedro Nuno Santos disse que não queria “acreditar” que, primeiro, “um ministro não saiba que vai haver uma greve, e, segundo, que não tenha feito tudo o que era possível para minorar o impacto negativo duma greve deste tipo”..“Julgo que gera a todos os portugueses um grande sentimento de insegurança”, disse, antes de criticar aquilo que considerou ser “incompetência” do Governo..Com críticas a avolumar-se, protagonizadas pelo Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH), que convocou a greve sem data para terminar, a ministra da Saúde, numa primeira fase, deixou a cargo do INEM a comunicação das medidas que seriam tomadas para responder à greve e às carências de técnicos, que se verificam pela parca atratividade da carreira, segundo o sindicato..“Estamos a tentar mobilizar internamente os técnicos que estavam a exercer outras funções. Neste momento, estamos a alocá-los ao CODU”, afirmou o presidente do INEM, Sérgio Dias Janeiro, adiantando ainda que o instituto pensa recorrer a “pessoas que já foram técnicos de emergência pré-hospitalar e que, entretanto, se tornaram técnicos superiores”..Garantindo que não consegue “precisar o impacto que estas medidas irão ter”, Sérgio Dias Janeiro prometeu que o INEM vai monitorizá-las..“Houve uma greve, mas depois o que está a acontecer é uma falta de disponibilidade daqueles trabalhadores para horas extraordinárias, que, verdade se diga, as fazem em enorme quantidade, tendo em conta a enorme falta de recursos do INEM”, assumiu a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, em Coimbra..Ao DN, o vice-presidente do STEPH, Rui Cruz, explicou que “o protesto público que os técnicos do INEM começaram no final da passada semana são o desaguar de todas estas frustrações que foram alimentadas pelo adiar constante das negociações com a tutela”, acrescentando que o “problema não é novo”..“Estas mortes, aparentemente evitáveis, são consequência sobretudo da carência de técnicos”, avançou, destacando que a profissão de técnico de emergência pré-hospitalar tem uma taxa de abandono “avassaladora”. Também ao DN, o deputado do Chega Rui Cristina sublinhou que esta carreira especial foi criada em 2016 e “durante estes 9 anos não saiu do papel”. Para além disto, continua, os profissionais ganham em média 920 euros, o que gera uma taxa de abandono da profissão de 30%..A deputada do BE Marisa Matias também apontou esta taxa de desistência dos técnicos do INEM num conjunto de perguntas dirigidas pelo partido à ministra, sobre as condições de trabalho destes profissionais..Fonte da IL disse ao DN, sobre as quatro mortes, que não devem ser tecidas “correlações desta natureza sem dados concretos que as fundamentam. Deve sim ser feito um inquérito para que se apurem todas as responsabilidades”..Também a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, vincou ao DN uma das bandeiras do partido, agora adaptada a esta situação: “é preciso é valorizar as carreiras, os salários, as condições de trabalho” destes trabalhadores “para assegurar a adequada resposta dos meios de emergência”..O deputado do Livre Paulo Muacho considerou “impossível que a saúde continue a funcionar apenas com base no sentido de missão dos seus profissionais” e apontou o “caminho de desvalorização” das suas carreiras, uma posição também defendida pela deputada do PAN, Inês de Sousa Real.