As provas-ensaio de 4º, 6º e 9º anos estão a cerca de três semanas de distância (ver calendário), mas vários diretores escolares auscultados pelo DN apontam que não estão reunidas todas as condições para a boa execução destes testes, que devem ser realizados em formato digital e servem para aferir as condições das escolas para a realização das novas provas de monitorização da aprendizagem (MoDa), que substituem as antigas provas de aferição, bem como das provas finais de 9º ano, que neste ano letivo serão feitas pela primeira vez em formato digital.Recorde-se que no ano passado o Governo foi forçado a dar um passo atrás no que se refere ao 9º ano, devido à falta de condições informáticas e, desta vez, para garantir que nada falhe este ano nas provas finais do Ensino Básico (9.º ano), o Governo fez um inquérito às escolas (terminou no dia 17, na passada sexta-feira) para apurar atempadamente as necessidades dos estabelecimentos de ensino. Ao DN, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) esclarece que “das 766 unidades orgânicas com 9.º ano de escolaridade, 6,9% relataram insuficiências ao nível de equipamentos informáticos e 16,1% ao nível da conectividade”.Para Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), “são falhas que as provas-ensaio deverão confirmar e que devem ser resolvidas com o apoio do MECI”. “Também para isso servem estas provas-ensaio, para que no ‘Dia D’ [provas finais] estes constrangimentos não sucedam”, sublinha. Já o Governo garante apoio e acompanhamento dos serviços do MECI às escolas “de forma a assegurar que estão reunidas as condições necessárias para a realização dessas provas finais”.Filinto Lima acredita ainda que, após o levantamento feito pelo Ministério da Educação do material necessário nas escolas e da atribuição de verbas para arranjo de PC e compra de equipamento novo, “vai correr melhor a avaliação em formato digital”. Contudo, admite que poderá ainda ser necessário mais material ou acessos à internet, mas até lá garante haver tempo para ajustes.Menos otimista está Arlindo Ferreira, autor do blogue ArLindo (dedicado à Educação) e diretor do Agrupamento de Escolas Cego do Maio, Póvoa de Varzim. Agrupamento onde, afirma, faltam dezenas de computadores. “Continua a não haver condições informáticas. A DGEstE [Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares]fez inquérito para saber se havia condições para realizar as provas. No meu caso, eu disse que não e o motivo é a falta de computadores. Tenho mais de 80 avariados”, sublinha. O responsável adianta que as verbas atribuídas às escolas variaram, dependendo do tipo de avaria e “só atribuíram verbas para os PC de tipo 1 (que não podem ser reparados)”. “Com o que recebemos comprámos 9 computadores, o que não chega para nada. E há mais escolas nessas condições”, garante.A Missão Escola Pública (MEP), um movimento apartidário de professores, também diz não estarem reunidas as condições para a realização das prova-ensaio já em fevereiro. Para Cristina Mota, porta-voz da MEP, “as condições este ano letivo são as mesmas ou ainda piores”. “Houve uma resolução do Conselho de Ministros em agosto de 2024 que serviu de base para que muitas escolas tenham terminado com acessos à internet. Muitos alunos devolveram os kits informáticos depois de terem ficado sem hotspot. Temos mais uma restrição do que tínhamos nos anos anterior”, sustenta.A também docente de Matemática assegura haver muitos computadores sem reparação e estudantes sem equipamento”. E acrescenta que “a rede nas salas de aula, que segundo a mesma resolução do Conselho de Ministros devia ter sido garantida, não o foi”. “A informação que temos de muitas escolas é que, posso assegurar, há agrupamentos com salas repletas de computadores por arranjar. Não há condições em todas as escolas”, sublinha..“A maioria de nós não vê sentido nessas provas”Manuel Pereira, presidente da direção Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), lamenta a realização das provas em formato digital quando “muitos alunos têm ainda dificuldade em trabalhar autonomamente com computadores” e, no caso das MoDa, “não há consequências na avaliação”. “A maioria de nós não vê sentido nessas provas”, afirma. O responsável lamenta ainda o tempo “perdido” para a preparação das provas-ensaio e que “fazia falta para lecionação de conteúdos”. “Com uma carga curricular tão pesada que os alunos têm, deveríamos fazer diferente”, conclui..Calendário 10 a 14 de fevereiro - Português, Português Língua Não-Materna e Português Língua Segunda, dos 4.º, 6.º e 9.º anos.17 a 21 de fevereiro - Inglês de 4.º ano e História e Geografia de Portugal, de 6.º ano.24 a 28 de fevereiro - Matemática e Estudo do Meio (4.º ano); Matemática e Ciências Naturais (6.º ano); Matemática (9.º ano).Os resultados das provas-ensaio poderão contar para nota do final de período. A decisão caberá a cada um dos agrupamentos.