O atual executivo liderado por Ursula von der Leyen celebra o seu primeiro aniversário na segunda-feira, 1 de dezembro. E se alguns são novatos, como a portuguesa Maria Luís Albuquerque, existem outros para quem Bruxelas já não tem segredos, como Maros Sefcovic, o comissário com o segundo mandato mais longo da história da Comissão Europeia. Uma longevidade que só é batida (por agora) pelo social-democrata alemão Wilhelm Haferkamp, que foi comissário por 18 anos (6397 dias, entre 1967 e 1985). “Acredito em servir em cargos públicos enquanto puder fazer a diferença”, disse Sefcovic ao Euractiv, quando questionado sobre o facto de a partir de 8 de abril de 2027 passar a ser o decano dos comissários.O eslovaco, de 59 anos, tornou-se comissário em outubro de 2009, quando foi nomeado para substituir Ján Figel na pasta da Educação na primeira presidência de Durão Barroso. Mas estava longe de ser um estranho em Bruxelas, pois, nos cinco anos anteriores, tinha ocupado o cargo de embaixador da Eslováquia junto da União Europeia.Poucos meses depois, o português garantiu a reeleição e escolheu Sefcovic para vice-presidente encarregue da pasta das Relações entre Instituições. Contas feitas, Maros Sefcovic já serviu três presidentes - Barroso, Jean-Claude Juncker e Ursula von der Leyen - tendo exercido a função de comissário em áreas como Educação, Ação Climática, Mercado Único Digital, Energia, Saúde e Política de Consumo e agora Comércio e Segurança Económica. Para Varg Folkman, analista político do European Policy Centre, Sefcovic “deve ter o trabalho mais difícil da UE” como comissário para o Comércio e a Segurança Económica, já que tem de “enfrentar a ameaça das guerras comerciais, a estagnação das economias da UE e a forte concorrência global”. O que incluiu a guerra de tarifas com os Estados Unidos de Donald Trump - os dois conhecem-se desde o primeiro mandato do norte-americano e até já viajaram juntos no Air Force One, em maio de 2019, para visitar um terminal de exportação de gás liquefeito na Louisiana, era Sefcovic comissário da Energia. Em agosto, depois de selado o acordo comercial com a Casa Branca, Ursula von der Leyen agradeceu ao eslovaco pelo “trabalho incansável e condução hábil” após 10 viagens a Washington. “Este é o maior desafio que já enfrentei”, disse Sefcovic ao Euractiv. Mas desafios não são estranhos ao eslovaco, que foi chamado a assumir o comando do acordo do Brexit em fevereiro de 2020 pela UE, numa altura em que as relações entre Bruxelas e Londres estavam particularmente tensas. Conta o Guardian que Sefcovic estabeleceu uma boa relação com o seu homólogo, Michael Gove, o que culminou numa nota manuscrita assinada pelos dois para resolver disputas sobre a fronteira da Irlanda do Norte, incluindo o transporte de carne refrigerada. O que levou Gove a apelidar o eslovaco de “o rei da salsicha”. Foi também a ele que von der Leyen recorreu para assumir a vice-presidência executiva com o pelouro do Pacto Verde, quando, em agosto de 2023, o neerlandês Frans Timmermans decidiu trocar Bruxelas pela política nacional.Eterno otimistaSurgindo habitualmente em público usando uma gravata e um lenço no casaco a condizer, é conhecido por ser um solucionador de problemas que não procura ofuscar o patrão, nestes últimos anos, a patroa, o que lhe valeu a alcunha de “Mr. Fix It”. É elogiado pela sua capacidade de ouvir, independentemente do interlocutor, pelo sentido de humor, descrevendo-se como um “eterno otimista”. Pai de três filhos, gosta de café, voleibol, nadar, dar passeios com os seus golden retrivers, de fazer imitações de eurodeputados e treinar no ginásio da Comissão. “Ele é um bocado aborrecido, um trabalhador árduo, conhece bem os assuntos e tem experiência em lidar com um terceiro país instável. Além disso, tem uma linha direta com os americanos”, disse um diplomata da União Europeia à AFP. “Ele sabe sempre as suas coisas, de A a Z”, sublinhou ao Euractiv Katarína Roth Nevedalová, uma eurodeputada eslovaca do Smer, o partido populista do primeiro-ministro Robert Fico.A sua ligação a Fico, a quem chamou “amigo” depois do atentado de que o chefe do governo eslovaco foi vítima, tem-lhe valido inúmeras críticas por parte do Parlamento Europeu, nomeadamente pela posição pró-russa de Bratislava. Algo que incomoda Sefcovic, que considera que o seu trabalho fala por si, nomeadamente o que tem feito com a Ucrânia.Diplomacia em MoscovoNascido em Bratislava, cresceu nos arredores da então segunda maior cidade da Checoslováquia, a três quilómetros da Cortina de Ferro. Comunista até ao início dos anos 90, em 1985 começou a estudar diplomacia no Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscovo, uma universidade dirigida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da União Soviética. Carreira para a qual despertou aos 12 anos, quando o pai lhe ofereceu um livro sobre diplomacia no Natal. “Foi com excitação que li sobre como o Lorde Essex viajou pelo Afeganistão para lidar com as crises locais”, recordou uma vez.Fluente em inglês, francês, russo e capaz de entender alemão, Maros Sefcovic passou como diplomata por vários países antes de aterrar de vez em Bruxelas, nomeadamente como embaixador da Eslováquia em Israel, onde esteve entre 1999 e 2002.Menos feliz foi a sua experiência na política interna, com a sua candidatura à presidência em 2019, com o apoio do Smer, eleições nas quais foi derrotado, à segunda volta, por Zuzana Caputová, recebendo 41,59% dos votos contra 58,41% da sua adversária. Martin Burgr, estratega político da equipa de Caputová, explicou ao Guardian que Sefcovic começou por ser “um adversário muito decente”, mas que no final “foi forçado a ser mais duro e populista”. O que, para este especialista, foi um erro: “Era visto como um liberal europeu, um tipo de Bruxelas, não como uma pessoa conservadora. Penso que foi um erro tentar transformá-lo em algo que não era e que não é”..Ursula von der Leyen, de inspiradora a “rosto da fraqueza da UE”.“A UE quer que a Ucrânia ganhe”. Costa e Kallas estreiam-se em Kiev