Férias? Que férias? Marcelo regressa ao trabalho após um mês... a trabalhar

Críticas a Santana, ralhetes ao governo por causa de Monchique, promulgações várias, uma reunião pública com Costa e, no dia seguinte, um jantar privado, o próximo Orçamento, o próximo ano político.
Publicado a
Atualizado a

Hoje terminarão oficialmente as férias do Presidente da República. Às 18.00, Marcelo Rebelo de Sousa estará nos jardins do Palácio de Belém, na abertura da Festa do Livro, que a Presidência organiza pelo terceiro ano consecutivo. Para o Pátio dos Bichos estão previstos momentos de ginástica acrobática. E já se sabe: o Presidente vai responder aos jornalistas e tirar selfies com os populares. Que foi, afinal, o que fez durante todo o mês de agosto, quando supostamente não estaria a trabalhar.

A 3 de agosto, numa visita a um acampamento de escoteiros em Barosa, Leiria, disse que nas suas férias iria "conduzir por onde quiser, como quiser, livremente". Fê-lo de facto, no seu próprio carro, por si próprio conduzido, e seguido apenas pela sua segurança pessoal, sem a companhia de qualquer outro elemento do staff de Belém. Junto aos escoteiros aproveitou para informar os jornalistas que para os dias seguintes o seu plano era visitar praias fluviais - "para aí umas dez" - em concelhos atingidos pelos incêndios de 2017. "A minha ideia é mostrar como é importante que haja turismo nas zonas afetadas pelas tragédias do ano passado. Posso cruzar-me com presidentes de câmara e de junta, mas agora não é a visita do Presidente da República, a visita oficial com autarcas. Não costumo passar férias com os presidentes de câmara." A seguir à visita aos escoteiros ainda deu um pulinho à Expofacic, em Cantanhede.

No dia seguinte, 4, foi a Oliveira do Hospital assistir ao fim de uma etapa da Volta a Portugal, que passou por concelhos atingidos pelos fogos de outubro do ano passado. Aí falou na "força e determinação" das pessoas afetadas pelos incêndios de 2017 para iniciarem "um novo ciclo". Horas antes, em Vouzela, numa declaração à SIC, já havia comentado - criticamente - o projeto de Santana Lopes de deixar o PSD e criar um novo partido à direita: porque "o partido é uma família e não se muda uma família" e porque é importante "que a oposição não se fragmente e deixe de ser uma alternativa de poder".

Entretanto, Monchique ardia. O incêndio iniciara-se no dia 3 e prolongou-se durante pouco mais de uma semana. Marcelo e António Costa combinaram não ir ao local enquanto decorresse o combate ao fogo - e assim dissuadiram outros políticos de o fazer (líderes partidários, por exemplo). No dia 6, o PR regressou a Lisboa. Numa declaração à RTP nesse dia sublinhou a capacidade de resposta "brutal" dos bombeiros ao incêndio, dizendo que estava em "permanente contacto" com o ministro da Administração Interna. No dia 7 felicitou Inês Henriques pelo seu título de campeã europeia nos 50 km de marcha, os gémeos Oliveira pelas medalhas no Europeu de ciclismo de pista em Glasgow, promulgou a lei que reestrutura a Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis e uma outra criando o Fundo de Fundos para a Internacionalização. No dia seguinte fez o mesmo com outra sobre a extinção da Parque Expo.

No dia 10 à noite Marcelo seguiu para o Algarve. E no dia seguinte, 11, visitou as áreas atingidas pelo incêndio de Monchique. O governo, dias antes, havia cantado vitória pelo facto de ninguém ter morrido no fogo. "O facto de ao fim de cinco dias de incêndio felizmente não termos nenhuma vida a lamentar, termos um número reduzido de feridos e termos incerto o número de construção afetadas, significa que a execução do plano e as suas prioridades têm vindo a ser seguidas", disse o primeiro-ministro. "A grande vitória é: vítimas zero. É esse o grande balanço deste incêndio", reforçou o MAI, Eduardo Cabrita.

O Presidente da República, notoriamente, não gostou do tom das palavras dos governantes: "O que eu sugeriria humildemente era o seguinte: sem triunfalismos, que não se justificam, sem juízos negativos definitivos já, mas sim preocupações, desabafos e sugestões para o futuro. Vamos terminar esta batalha, esta guerra e esta época [de incêndios]", disse aos jornalistas, após um briefing com a Proteção Civil no centro de comando montado na vila de Monchique. Dos populares com quem se cruzou ouviu queixas sem fim, nomeadamente sobre a atuação dos bombeiros e da GNR.

Pelo meio sugeriu a criação pelo Parlamento de uma comissão independente permanente de acompanhamento dos incêndios - sendo certo que no início do mês havia promulgado um decreto da Assembleia da República que criou um "observatório técnico independente para análise, acompanhamento e avaliação dos incêndios florestais e rurais que ocorram no território nacional". Ao fim da tarde do dia 11 já estava na Junta de Freguesia de Almancil a receber em audiência a Plataforma Algarve Livre de Petróleo e o Movimento Algarve Livre de Petróleo.

De 11 a 26 foram os dias mais sossegados na atividade presidencial. As revistas sociais assinalaram-lhe no dia 12 a chegada à sua habitual praia algarvia de férias, a praia do Gigi, que serve a Quinta do Lago (Loulé), acompanhado da namorada, Rita Amaral Cabral. O Presidente praticamente desaparece das notícias. No dia 16 recebe o primeiro-ministro oficialmente em audiência, na Fortaleza de Sagres. Costa estava a passar férias na sua praia algarvia de infância, o Carvoeiro (Lagoa). Terá sido nessa audiência que combinaram então um jantar privado para o dia seguinte, juntando-se os dois casais: Marcelo e a namorada com Costa e a mulher, Fernanda Tadeu.

O encontro acaba registado no Facebook pelo dono do restaurante. No dia 18 foi à Fatacil (Feira de Artesanato, Turismo, Agricultura, Comércio e Indústria de Lagoa); no dia 21 foi a Albufeira encontrar-se com o atleta Nelson Évora (que no dia 12, em Berlim, havia conquistado pela primeira vez na sua carreira o título de campeão europeu de triplo salto). No dia 26 regressou a Lisboa e no dia seguinte partiu, de novo no seu próprio carro, para um périplo pelos concelhos atingidos pelos incêndios de junho de 2017. A viagem durou de segunda-feira até ontem.

Estando oficialmente de férias ou não, no site da Presidência foram sendo publicadas, quase numa base diária, notas do PR sobre assuntos vários da atualidade nacional e internacional: a queda de uma ponte em Génova; o duplo título mundial de Fernando Pimenta na canoagem; a participação portuguesa num campeonato europeu de atletismo para deficientes; o fim do programa de assistência à Grécia; as mortes de Rui Alarcão, Kofi Anan, Isabel Laginhas, Pedro Queiroz Pereira, Vera Franco Nogueira ou John McCain,

Agora inicia-se o ano político em que o Presidente terá, pela primeira vez no seu mandato, de lidar com as consequências de eleições legislativas: verificar os resultados, ouvir os partidos, dar posse a um novo governo. Ontem, Marcelo não alimentou ilusões. No seu entender, "é óbvio que todos os partidos já entraram em campanha eleitoral". Quanto ao Orçamento do Estado para 2019 mostrou-se no entretanto tranquilo: será aprovado e a legislatura chegará ao fim. "Não estou muito preocupado." A Presidência anunciou entretanto mais cinco promulgações.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt