Exclusivo A caça a Hitler pelas cervejarias de Munique

Esta quinta-feira faz 75 anos que Hitler se suicidou, a poucos dias da derrota alemã na Segunda Guerra Mundial. Fica aqui contada a história de algumas das personagens com quem António Ferro se cruzou quando entrevistou Adolfo Hitler, em 1930, e a fotografia que trouxe para o arquivo do DN.

Começa metendo "eu" na reportagem ("Chego a Munique...") e vai prosseguir com uma escrita viva e coloquial. Junta a isso o sentido de oportunidade do bom jornalista: pouco depois de o Partido Nazi ter começado a sua ascensão institucional (em setembro de 1930, com 107 deputados tornara-se o segundo maior partido no parlamento alemão, Reichstag, só ultrapassado pelos socialistas), o repórter internacional do DN António Ferro, vindo de Berlim, desce do wagon-lits na capital da Baviera. Vai "para ver Hitler, para falar a Hitler, para conhecer o herói do romance...", em Munique, a cidade onde as fardas paramilitares das SA impõem já a ordem castanha.

Ao seu hotel vai ter um enviado do partido, um alemão enorme, chegado de bicicleta: "(...) um bávaro cordial, insinuante, duma instintiva amabilidade, uma daquelas canecas altas, acolhedoras, espumantes da Casa da Cerveja, da Hofbrauhaus." Não é só bom estilo, é também informação: ao correr da pena, o jornalista lembra a cervejaria de Munique onde Hitler, em 1920, fundou o Partido dos Trabalhadores Alemães, precursor do Nazi. Em francês "escangalhadíssimo", o alemão apresenta-se: "Dr. Ernst Hanfstaengl, historiador..." O jornalista pisca o olho ao leitor: "Será o cronista de Hitler?" Na verdade, acaba de acontecer o que se repetirá ao longo da reportagem, Ferro vai cruzar-se com personagens extraordinárias, a quem ainda não pode medir a importância. Principal assunto da primeira página do DN, a reportagem "Agitada e sensacional entrevista com Adolfo Hitler chefe dos nacionais-socialistas" é ainda mais sensacional do que se sabia quando foi publicada a 23 de novembro de 1930, um domingo.

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