A vida do PSD nos próximos dois meses deverá parecer um decalque do que foi a campanha eleitoral para as legislativas de 6 de outubro, na proporção dos três candidatos à liderança. Para já, por que se Miguel Morgado já assumiu que não teve apoios para avançar, Jorge Moreira da Silva ainda não abriu o jogo se tenciona ir à luta pela liderança do partido..Rui Rio, Luís Montenegro ou Miguel Pinto Luz, os candidatos assumidos à presidência social-democrata, qual deles conseguirá ser eleito nas diretas de janeiro? Quem tem mais apoios e os mais decisivos? "As coisas não são lineares, nestes dois meses a campanha que fizerem irá mesmo ser determinante para a escolha que o partido vai fazer. Não há favas contadas para nenhum deles", assegura ao DN um dirigente de uma distrital que não quer assumir ainda por quem torcerá..Outros dirigentes locais que ainda estão à espera do momento certo para tomar posição admitem ao DN que a campanha para a liderança do PSD vai acabar por ser "muito bipolarizada", o que também aconteceu nas legislativas, entre Rui Rio, o atual presidente que se recandidata, e Luís Montenegro, o antigo líder parlamentar que o desafia pela segunda vez, agora nas urnas. Miguel Pinto Luz, dizem, ainda não tem um espaço firmado dentro do partido que lhe permita disputar as diretas taco a taco com os outros dois candidatos.."Miguel Pinto Luz no início da campanha aparecerá com algumas figuras de proa do partido, mas quase de certeza que haverá um fenómeno de bipolarização que o acabará por relegar para um segundo plano", afirma uma fonte do PSD ao DN..Mas admite que ao avançar com a candidatura, o vice-presidente da Câmara de Cascais não só abre espaço para o futuro como baralha as contas na corrida à presidência do PSD. Tal como se Jorge Moreira da Silva, antigo ministro e diretor da OCDE, avançar - e garantiu ao DN ainda estar em período de reflexão - irá ter o mesmo efeito..O apoio dos líderes distritais e concelhios é sempre importante para qualquer dos candidatos porque são em grande parte eles que exercem a sua influência e movimentam as bases. Mas Rui Rio teve tempo nestes dois anos de mudar na dinâmica do partido regras que agora podem fazer muita diferença no momento de escolher a nova liderança..A começar pelo pagamento das quotas dos militantes que, como foi profusamente noticiado, muitas acabavam por ser pagas em bloco e em quantidades industriais para permitir o voto num determinado candidato. Com as novas regras as coisas ficaram mais difíceis para o "caciquismo". Os militantes recebem um código aleatório de pagamento e têm de o efetuar numa caixa multibanco, o que torna ciclópica a hipotética recolha dos códigos por atacado. "Nestas diretas, pela primeira vez, é mesmo o militante quem mais ordena e é neste campo que Rui Rio mais joga para reconquistar a presidência do partido", frisa ao DN outro dirigente local..Talvez tenha sido essa a profetização de Rio quando no último comício da campanha eleitoral das legislativas, em pleno Largo do Carmo, em Lisboa, relembrou a célebre frase do 25 de Abril "o povo é quem mais ordena"..Seja como for, as próprias distritais estão muito divididas entre candidatos, como é o caso das maiores - Lisboa, Porto, Braga e Aveiro - e a maioria prepara-se para não apoiar oficialmente nenhum deles. Ainda que alguns dos líderes e ex-líderes distritais, a título pessoal, já tenham começado a tomar posição..Do lado de Montenegro estão, entre outros, o líder da distrital de Viseu, Pedro Alves (que foi um dos grandes apoiantes de Rio), o antigo líder distrital de Santarém, Nuno Serra, o antigo líder distrital de Coimbra, Maurício Marques, o antigo líder da JSD, Simão Ribeiro, os presidentes da Câmara de Espinho (Pinto Moreira) e de Santa Maria da Feira (Emídio Sousa)..Rui Rio consegue o apoio dos presidentes das distritais de Aveiro, liderada pelo seu vice-presidente Salvador Malheiro, de Braga, presidida pelo eurodeputado José Manuel Fernandes, e a de Bragança, liderada por Jorge Fidalgo. Ao DN, este último dirigente local diz que apoia o atual presidente porque "deve ser dada continuidade ao trabalho que fez nestes dois anos". Mas sublinhou, "se Rui Rio não ganhar, continuaremos a trabalhar com qualquer outro candidato"..Miguel Pinto Luz, que foi presidente da distrital de Lisboa, terá nesta estrutura uma boa base de apoio, tal como na de Setúbal, presidida por Bruno Vitorino, e, garantem-nos, "parte a de Santarém"..Há ainda um movimento cauteloso por parte dos presidentes de câmara do PSD no apoio aos candidatos. E a explicação é simples, segundo as fontes ouvidas pelo DN. "São figuras que estarão envolvidas no próximo ato eleitoral do PSD, que são as autárquicas daqui a dois anos, e por isso é normal que estejam mais cautelosos a manifestar o apoio a este ou aquele candidato." Mas as mesmas fontes reconhecem que são muito importantes para as "dinâmicas de vitória" dentro do partido..São todos estes fatores que tornam as eleições diretas do PSD em janeiro mais imprevisíveis, podendo inclusivamente vir a acontecer uma segunda volta, já que existem mais do que dois candidatos em jogo. E são também eles que levam várias figuras do partido a admitir que a campanha que os candidatos fizerem nestes dois meses - em particular Luís Montenegro - poderá ditar o rumo que o partido quer para os próximos dois anos. Ou a continuidade de Rui Rio - que ainda ontem pediu "lealdade" aos deputados que vai dirigir até ao congresso de fevereiro - de um partido posicionado ao centro; ou a linha de Montenegro mais à direita. Miguel Pinto Luz estará sempre na defesa de um partido mais vanguardista que seja "um projeto político capaz de ser alternativa ao projeto socialista"; e Jorge Moreira da Silva, se avançar, defenderá a refundação programática do PSD..Rui Rio.Positivo. Tem a liderança do partido, o que dá sempre vantagem no contacto com as estruturas, e vai presidir ao grupo parlamentar nestes dois meses, o que lhe dará maior espaço de visibilidade mesmo dentro do PSD. Tem um rumo definido e a campanha aguerrida que fez durante as legislativas são pontos a seu favor nesta disputa.Negativo. Teve duas derrotas pesadas. A primeira nas eleições europeias, seguida das legislativas, onde o PSD não passou dos 27,7%. Criou ainda feridas complicadas nas estruturas com a elaboração de listas de candidatos ao Parlamento. Muitos dirigentes locais sentem-se traídos e alguns apoiantes também..Luís Montenegro.Positivo. Foi líder parlamentar num momento muito difícil da vida do PSD e do governo de coligação PSD-CDS, durante o período da troika. Todos reconhecem que manteve o grupo parlamentar unido e fez um bom trabalho no confronto com António Costa, debate quinzenal atrás de debate quinzenal.Negativo. Foi corajoso quando em pleno congresso de legitimação de Rui Rio o avisou que o teria como adversário nas próximas diretas. Mas em janeiro, com o partido muito fragilizado nas sondagens, quis desafiar a liderança mas saiu-se mal e Rio conseguiu vencer a moção de censura à sua direção. Muitos não gostaram desta atitude de Montenegro..Miguel Pinto Luz.Positivo. É autarca numa das mais importantes câmaras do PSD, a de Cascais, e é reconhecidamente um quadro de grande valor dentro do partido. Tem uma visão moderna e cosmopolita da sociedade e assume sem assombro que não pactuará com o governo socialista e os militantes de base gostam disso.Negativo. É uma personalidade do PSD menos conhecida nas bases do partido e por isso terá mais dificuldade em conseguir ser eleito numa primeira candidatura à liderança. Tal como Montenegro, o facto de não ser deputado dificulta um pouco mais a sua vida nesta corrida à liderança do partido.