Porto não tem novos casos de covid-19 há 16 dias, mas ao 17.º não festeja o São João

Os testes de despiste continuam a ser realizados, mas não têm sido encontrados novos infetados no concelho. Centro Hospitalar regista uma redução da procura. Mesmo assim, os festejos do São João estão cancelados, pela primeira vez.

Sem martelinho, sem alho-porro, sem arraiais, sem fogo de fogo-de-artifício, sem balões de luz a iluminar a noite mais longa do Porto. O São João foi cancelado, pela primeira vez, por causa da pandemia de covid-19. Tudo para preservar o comportamento do município que há já 16 dias mantém, no boletim epidemiológica da Direção-Geral da Saúde (DGS), os mesmos 1 414 casos de infeção. Apesar de continuarem a ser feitos testes de despiste, garantiu, ao DN, o Centro Hospitalar de São João, no Porto.

Desde o início de junho que o Hospital de São João faz, em média, 345 testes por dia, sendo que nem todos são primeiros exames. Este número inclui, por exemplo, confirmações e testes a possíveis recuperados, como esclareceu a unidade hospitalar ao DN. Ao valor referido acrescem análises biológicas realizadas por outras instituições e até no primeiro centro de rastreio móvel do país, que continua a circular, no Porto. No São João, entre um e seis testes revelam-se positivos todos os dias, no entanto, estes não dizem respeito a cidadãos residentes no município do Porto, que chegou a ser, em abril, o concelho com mais casos do país.

Na altura, a região do Norte concentrava a maioria das infeções nacionais, indicador que se encontra controlado agora na zona. Embora ainda seja a região do país com o maior número de casos no total (17 329) e de mortes (814) por causa do novo coronavírus, é em Lisboa e Vale do Tejo que a situação epidemiológica mais preocupa. Nas últimas 24 horas, o Norte notificou mais nove casos e nenhuma vítima mortal. A taxa de letalidade da região é agora de 4,7%, acima da média nacional (3,9%).

Em relação aos testes de despiste da covid, também a Câmara Municipal do Porto prometia, no final da semana passada, em comunicado, que o congelamento dos novos casos "não resulta de uma subtestagem ou notificação". Atribuindo antes a justificação ao comportamento exemplar dos cidadãos, das autoridades de saúde e aos hospitais, que, segundo a autarquia, "conseguiram, para já, dominar a epidemia, através de medidas ativas de combate e prevenção".

Medidas que nem ao São João concedem tolerância. A festa popular, que acontece na noite de 23 para 24 de junho, desde do século XIV pelo menos (uma vez que é referenciada numa crónica de Fernão Lopes, escrivão oficial do reino de Portugal). E a tradição nunca terá sido cancelada - nem em plena pandemia da gripe espanhola, em 1918. Esta é a primeira vez.

Rui Moreira, o presidente da Câmara do Porto, anunciou a decisão a quatro de abril, dando logo como certo que não haveria os habitais concertos, festas e o fogo-de-artifício, que costuma ser organizado entre as autarquias do Porto e de Vila Nova de Gaia.

No dia dez deste mês, o presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, Carlos Nunes, assumia já que a região está com excelentes resultados em matéria de pandemia, mas que este trabalho se poderia esgotar rapidamente se não houver cuidados e se não forem mantidas todas as recomendações das autoridades, como o distanciamento social, as medidas de etiqueta respiratória, higiene pessoal e de superfícies.

Para evitar que as ruas se encham, os transportes públicos vão encerrar mais cedo, tal como os cafés e os restaurantes (os últimos devem fechar às 23:00). A música está proibida a partir das 21:00 e os espetáculos foram cancelados. Tal como as festas particulares, o consumo de bebidas alcoólicas na via pública e a venda ambulante de comida e bebida.

Até ao acesso à praia de Matosinhos - o fim da noite para muitos - está interdito até às nove da manhã desta quarta-feira. As autarquias garantem que, numa operação conjunta da PSP, GNR e Polícia Municipal, as principais artérias dos concelhos serão patrulhadas durante a noite e a madrugada para evitar ajuntamentos.

15 doentes internados com covid no São João

No Centro Hospitalar de São João, no Porto, há agora apenas 15 doentes com covid-19 internados, respondeu o hospital ao DN. O que significa 3,4% das hospitalizações nacionais por causa da pandemia (há 441 doentes internados, no país, 72 em cuidados intensivos, segundo o boletim da DGS de terça-feira). "Existe uma redução substantiva da procura, quer em termos do serviço de urgência, quer em termos de internamento, incluindo a medicina intensiva, por isso a estratégia nesta fase é de recuperar a produção", diz o hospital, assumindo como prioridade as consultas externas, sessões de hospital de dia e as intervenções cirúrgicas.

"Paralelamente está já a ser planeada e construída a resposta para o próximo inverno, de forma a aprendermos com a recente experiência e podermos implementar um conjunto de medidas que mitiguem a exigência e a complexidade que é esperada", antecipa o São João.

Lisboa, Sintra e Loures são os concelhos mais afetados com a covid

O município de Lisboa é o mais afetado pela pandemia, somando 3191 casos de infeção. Sintra é o segundo com 2 325 casos e Loures o terceiro com 1 680. O Porto surge em sexto lugar (1 414) por causa de surtos passados.

Nas últimas 24 horas, o concelho com mais casos confirmados foi Sintra (mais 53), seguido de Reguengos de Monsaraz (46), da Amadora (43), Odivelas (43), Lisboa (41) e Vila Franca de Xira (31), de acordo com os dados recolhidos pela plataforma SINAVE, que reporta 91% do total de casos diagnosticados.

Há agora 242 concelhos portugueses com, no mínimo, três casos de covid-19 no país. O município do Redondo é o mais recente elemento da lista apresentada pela DGS, com cinco infeções notificadas. Já Lisboa, Vila Nova de Gaia, Sintra, Porto, Matosinhos, Braga, Loures, Gondomar e Amadora têm todos mais de mil infetados.

Em Portugal, nas últimas 24 horas, morreram mais seis pessoas e foram confirmados mais 345 casos de covid-19. Segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde desta terça-feira (23 de junho), no total, desde que a pandemia começou registaram-se 39 737 infetados, 25 829 recuperados e 1540 vítimas mortais no país.

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