Porto não tem novos casos de covid-19 há 16 dias, mas ao 17.º não festeja o São João
Os testes de despiste continuam a ser realizados, mas não têm sido encontrados novos infetados no concelho. Centro Hospitalar regista uma redução da procura. Mesmo assim, os festejos do São João estão cancelados, pela primeira vez.

O Porto não regista nenhuma alteração epidemiológica no boletim da DGS há mais de duas semanas.
© MIGUEL RIOPA/ AFP
Sem martelinho, sem alho-porro, sem arraiais, sem fogo de fogo-de-artifício, sem balões de luz a iluminar a noite mais longa do Porto. O São João foi cancelado, pela primeira vez, por causa da pandemia de covid-19. Tudo para preservar o comportamento do município que há já 16 dias mantém, no boletim epidemiológica da Direção-Geral da Saúde (DGS), os mesmos 1 414 casos de infeção. Apesar de continuarem a ser feitos testes de despiste, garantiu, ao DN, o Centro Hospitalar de São João, no Porto.
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Desde o início de junho que o Hospital de São João faz, em média, 345 testes por dia, sendo que nem todos são primeiros exames. Este número inclui, por exemplo, confirmações e testes a possíveis recuperados, como esclareceu a unidade hospitalar ao DN. Ao valor referido acrescem análises biológicas realizadas por outras instituições e até no primeiro centro de rastreio móvel do país, que continua a circular, no Porto. No São João, entre um e seis testes revelam-se positivos todos os dias, no entanto, estes não dizem respeito a cidadãos residentes no município do Porto, que chegou a ser, em abril, o concelho com mais casos do país.
Na altura, a região do Norte concentrava a maioria das infeções nacionais, indicador que se encontra controlado agora na zona. Embora ainda seja a região do país com o maior número de casos no total (17 329) e de mortes (814) por causa do novo coronavírus, é em Lisboa e Vale do Tejo que a situação epidemiológica mais preocupa. Nas últimas 24 horas, o Norte notificou mais nove casos e nenhuma vítima mortal. A taxa de letalidade da região é agora de 4,7%, acima da média nacional (3,9%).
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Em relação aos testes de despiste da covid, também a Câmara Municipal do Porto prometia, no final da semana passada, em comunicado, que o congelamento dos novos casos "não resulta de uma subtestagem ou notificação". Atribuindo antes a justificação ao comportamento exemplar dos cidadãos, das autoridades de saúde e aos hospitais, que, segundo a autarquia, "conseguiram, para já, dominar a epidemia, através de medidas ativas de combate e prevenção".
Medidas que nem ao São João concedem tolerância. A festa popular, que acontece na noite de 23 para 24 de junho, desde do século XIV pelo menos (uma vez que é referenciada numa crónica de Fernão Lopes, escrivão oficial do reino de Portugal). E a tradição nunca terá sido cancelada - nem em plena pandemia da gripe espanhola, em 1918. Esta é a primeira vez.
Rui Moreira, o presidente da Câmara do Porto, anunciou a decisão a quatro de abril, dando logo como certo que não haveria os habitais concertos, festas e o fogo-de-artifício, que costuma ser organizado entre as autarquias do Porto e de Vila Nova de Gaia.
No dia dez deste mês, o presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, Carlos Nunes, assumia já que a região está com excelentes resultados em matéria de pandemia, mas que este trabalho se poderia esgotar rapidamente se não houver cuidados e se não forem mantidas todas as recomendações das autoridades, como o distanciamento social, as medidas de etiqueta respiratória, higiene pessoal e de superfícies.
Para evitar que as ruas se encham, os transportes públicos vão encerrar mais cedo, tal como os cafés e os restaurantes (os últimos devem fechar às 23:00). A música está proibida a partir das 21:00 e os espetáculos foram cancelados. Tal como as festas particulares, o consumo de bebidas alcoólicas na via pública e a venda ambulante de comida e bebida.
Até ao acesso à praia de Matosinhos - o fim da noite para muitos - está interdito até às nove da manhã desta quarta-feira. As autarquias garantem que, numa operação conjunta da PSP, GNR e Polícia Municipal, as principais artérias dos concelhos serão patrulhadas durante a noite e a madrugada para evitar ajuntamentos.
15 doentes internados com covid no São João
No Centro Hospitalar de São João, no Porto, há agora apenas 15 doentes com covid-19 internados, respondeu o hospital ao DN. O que significa 3,4% das hospitalizações nacionais por causa da pandemia (há 441 doentes internados, no país, 72 em cuidados intensivos, segundo o boletim da DGS de terça-feira). "Existe uma redução substantiva da procura, quer em termos do serviço de urgência, quer em termos de internamento, incluindo a medicina intensiva, por isso a estratégia nesta fase é de recuperar a produção", diz o hospital, assumindo como prioridade as consultas externas, sessões de hospital de dia e as intervenções cirúrgicas.
"Paralelamente está já a ser planeada e construída a resposta para o próximo inverno, de forma a aprendermos com a recente experiência e podermos implementar um conjunto de medidas que mitiguem a exigência e a complexidade que é esperada", antecipa o São João.
Lisboa, Sintra e Loures são os concelhos mais afetados com a covid
O município de Lisboa é o mais afetado pela pandemia, somando 3191 casos de infeção. Sintra é o segundo com 2 325 casos e Loures o terceiro com 1 680. O Porto surge em sexto lugar (1 414) por causa de surtos passados.
Nas últimas 24 horas, o concelho com mais casos confirmados foi Sintra (mais 53), seguido de Reguengos de Monsaraz (46), da Amadora (43), Odivelas (43), Lisboa (41) e Vila Franca de Xira (31), de acordo com os dados recolhidos pela plataforma SINAVE, que reporta 91% do total de casos diagnosticados.
Há agora 242 concelhos portugueses com, no mínimo, três casos de covid-19 no país. O município do Redondo é o mais recente elemento da lista apresentada pela DGS, com cinco infeções notificadas. Já Lisboa, Vila Nova de Gaia, Sintra, Porto, Matosinhos, Braga, Loures, Gondomar e Amadora têm todos mais de mil infetados.
Em Portugal, nas últimas 24 horas, morreram mais seis pessoas e foram confirmados mais 345 casos de covid-19. Segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde desta terça-feira (23 de junho), no total, desde que a pandemia começou registaram-se 39 737 infetados, 25 829 recuperados e 1540 vítimas mortais no país.
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