Iniciativa Educação já apoiou quase 300 alunos em todo o país

No seu primeiro ano de atividade, o projeto criado pela família Soares dos Santos criou cursos profissionais para jovens e apoiou crianças com dificuldades de leitura: "A educação é o fator essencial para o desenvolvimento", afirma o responsável, Nuno Crato.
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De 1970 para 2011, a taxa de analfabetismo em Portugal baixou de 25,7% para 5,2%, de acordo com os dados da Pordata. No entanto, há outros números que nos devem fazer pensar. "Os estudos demonstram que 20% dos nossos jovens de 15 anos, não só em Portugal mas noutros países também, têm extremas dificuldades de leitura, ou seja, não ganharam a fluência de leitura na altura própria, aos 6 ou 7 anos, e ficam assim prejudicados para o seu futuro", explica Nuno Crato, ex-ministro da Educação que atualmente preside à Iniciativa Educação, projeto lançado pela família Soares dos Santos faz nesta quinta-feira um ano.

"Aprender a ler é uma ferramenta essencial, quer para garantir o sucesso de uma carreira académica quer para participar ativamente na vida social. Uma pessoa que não saiba ler convenientemente vai enfrentar muitas outras dificuldades, não só na sua vida profissional mas também na sua vida quotidiana, seja para decifrar o percurso do autocarro seja para ler uma notícia", explica Nuno Crato ao DN.

É precisamente para evitar esse tipo de situações que a Iniciativa Educação criou o programa AaZ - Ler Melhor, Saber Mais, que neste primeiro ano ajudou 124 crianças dos 1.º e 2.º anos de escolaridade a ultrapassar os seus problemas com a leitura. "Acreditamos que com um apoio extra, de meia hora por dia, três a cinco vezes por semana, essas crianças rapidamente irão alcançar os seus colegas", diz Nuno Crato.

O programa começou por identificar zonas de intervenção e estabeleceu acordos com 32 escolas: com a ajuda dos professores e com o acordo dos pais, foram sinalizadas algumas crianças (40 na região Norte, 48 nos Açores, 14 no Alentejo e 22 na Grande Lisboa) para ter esse acompanhamento, seguindo "um método muito bem estruturado". No ano letivo passado, foram 19 os tutores que participaram neste projeto, dando apoio a um ou dois alunos de cada vez. Neste ano letivo, o programa está em expansão e o objetivo é mais do que duplicar o número de alunos abrangidos e chegar a 272 alunos (80 na região Norte, 96 nos Açores, 48 no Alentejo e 32 na Grande Lisboa).

"Os resultados foram muito bons", garante Nuno Crato, ainda que não tenha sido possível fazer uma avaliação tão rigorosa quanto estava previsto devido ao confinamento de março. "As escolas deixaram de funcionar no terceiro período e tivemos de nos adaptar, como todos. Mas conseguimos que todos alunos que acompanhamos tivessem acesso a um computador ou tablet e à internet. Assim, mantivemos o apoio individual na leitura, ainda que à distância. E também conseguimos que os jovens do ensino profissional mantivessem o contacto com as empresas."

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O SerPro é outro programa da Iniciativa Educação, mas este é destinado a jovens do ensino secundário que frequentam cursos profissionais. "Identificámos zonas do país que, por um lado, têm maior abandono escolar e, por outro, têm falta de técnicos especializados. Assim, o objetivo deste programa é facilitar a colaboração entre as escolas e as empresas para criar cursos que possam ser interessantes para os jovens e, por outro, sejam necessários", explica Nuno Crato. Por exemplo, na região de Salvaterra de Magos foi identificada a falta de técnicos de rega, no Alentejo são necessários técnicos para matadouros. "Nós temos peritos que ajudam a estruturar o curso, para que ele seja o mais eficaz possível, dentro das regras do ensino profissional. E tentamos envolver ao máximo as empresas, para que a componente prática seja realmente útil, para os alunos e para os futuros empregadores."

No total, neste primeiro ano, foram abrangidos 167 alunos dos distritos de Seia, Salvaterra de Magos, Sacavém, Lisboa, Setúbal, Moura e Lagoa. A implementação deste programa foi possível graças às parcerias desenvolvidas com as autarquias, 31 empresas, oito escolas e dois politécnicos.

O terceiro eixo da intervenção da Iniciativa Educação é o site Ed_On que tem não só variada informação estatística sobre educação como também publica periodicamente "artigos científicos e isentos sobre temas educativos", e que funciona como um recurso não só para professores como para investigadores e outros profissionais da área. Por exemplo, ultimamente têm sido publicados vários artigos relacionados com o ensino à distância e a utilização de meios digitais na educação.

No total, foram publicados até agora 56 artigos, de 23 autores de seis nacionalidades (portuguesa, americana, belga, canadiana, alemã e holandesa).

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Apesar de este ter sido um ano atípico para a educação, Nuno Crato garante que a Iniciativa está a cumprir os objetivos a que se propôs, seguindo as linhas definidas por Alexandre Soares dos Santos, antigo líder do grupo Jerónimo Martins. A ideia era fazer algo que não estivesse a ser feito por outros, ou seja, intervir em áreas onde fosse realmente necessário. "Ele também queria fazer uma diferença real na vida das pessoas, pelo menos de algumas pessoas. Não vamos pregar, dizia, vamos agir", recorda o responsável. A avaliação constante e criteriosa do programa é outro dos aspetos essenciais, para garantir a qualidade da intervenção.

"Durante muito tempo, discutiu-se: será que é a educação que causa o desenvolvimento económico ou será o contrário, o desenvolvimento económico é que permite a educação? Os estudos realizados nas últimas décadas permitiram demonstrar que é a educação que permite o desenvolvimento económico. Mas mais do que isso: é preciso que a educação seja de qualidade", diz Nuno Crato. E vai ainda mais longe: "Acredito que a educação é o fator essencial para o desenvolvimento não só das pessoas mas de um país. É a chave para o sucesso."

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