Concursos desertos e obras mais caras atrasam ferrovia

Infraestruturas de Portugal tem novo calendário para trabalhos no Ferrovia 2020. Praticamente todos os troços ficarão concluídos no prazo limite para obter fundos comunitários.
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As obras prioritárias nas linhas de comboio vão ficar mais caras do que estava previsto. A subida do preço dos materiais de construção e a necessidade de abrir novos concursos públicos para atrair candidatos explicam a opção da Infraestruturas de Portugal (IP).

A gestora da rede ferroviária nacional tem novo calendário para os trabalhos do Ferrovia 2020, inicialmente avaliados em 2,175 mil milhões de euros: quase todos os troços intervencionados apenas ficarão prontos na data limite para obter fundos comunitários.

Questionada pelo Dinheiro Vivo, fonte oficial indica que a IP "tem estado a analisar os valores base dos concursos que está a lançar, em consequência do acompanhamento que faz da variação para cima dos custos das matérias primas bem como da mão de obra".

No final de maio, a Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) já dava conta das dificuldades em lidar com a escalada de preços das matérias primas e da escassez de oferta perante tanta procura.

As próprias construtoras têm pedido mais tempo para apresentarem propostas à gestora das linhas de comboios. No Diário da República sucedem-se os avisos de prorrogação de prazos nos concursos públicos, com efeito em toda a programação das obras.

"A grande quantidade de concursos públicos simultâneos lançados pela IP, e outras entidades, tem levado a que a capacidade de resposta dos candidatos se esgote, pelo que, tendo como objetivo obter propostas adequadas, bem formuladas e competitivas, se tenham ajustado alguns prazos de apresentação de candidaturas".

Apesar do novo obstáculo, a IP garante que vai executar todo o Ferrovia 2020 até ao final de 2023. Qualquer obra que fique concluída depois de 31 de dezembro desse ano perde acesso aos fundos comunitários, que ajudam a financiar boa parte das intervenções de eletrificação, manutenção pesada e construção do troço Évora-Elvas, a maior obra ferroviária dos últimos 100 anos.

Quando o Ferrovia 2020 foi apresentado, em fevereiro de 2016, todos os trabalhos deveriam ficar concluídos até setembro de 2021. As previsões, no entanto, são sucessivamente revistas e os atrasos acumulam-se. A mais recente informação da IP aponta o final das obras para os últimos dois trimestres de 2023.

Começamos a viagem pela linha do Douro. Desde o final de 2019 que deveriam poder circular comboios elétricos entre Marco de Canaveses e Régua. A contratação de novos projetistas obrigou a mudar o calendário: no ano passado, as obras iriam iniciar-se no segundo trimestre de 2022 e terminar no final de 2023. Agora, a IP acredita que os trabalhos poderão ser concretizados em pouco mais de um ano, a começar no último trimestre de 2022.

Outra obra com quatro anos de atraso é a renovação da via entre Válega e Espinho: um dos troços mais degradados da linha do Norte deveria ter carris novos desde o terceiro trimestre de 2019, só que as últimas previsões apontam para o último trimestre de 2023 como o final das obras. Antes disso, a IP terá de terminar a intervenção no troço Espinho-Gaia, cuja conclusão passou do terceiro para o quarto trimestre do próximo ano.

Também há derrapagem do prazo das obras na modernização da linha da Beira Alta: os trabalhos entre Pampilhosa e Guarda deveriam decorrer entre o primeiro trimestre de 2018 e o início de 2020. A intervenção, contudo, só começou neste ano e apenas deverá ficar pronta nos últimos dias de 2023. Por causa das intervenções em túneis e da plataforma, o troço ficará fechado por nove meses, entre o primeiro e o terceiro trimestre do próximo ano - três meses mais tarde que previsto em 2020.

Da Cerdeira até Vilar Formoso, os atrasos são mais significativos: desde o primeiro trimestre de 2019 que os trabalhos deveriam ter ficado concluídos; as obras só agora estão a arrancar, depois da consignação, em junho, e deverão ficar prontas no terceiro trimestre de 2023.

No Oeste, está no terreno a eletrificação e modernização do troço Meleças-Torres Vedras: no calendário original, a obra deveria ter ficado pronta no terceiro semestre de 2020; no ano passado, contudo, a previsão já apontava a data final para o primeiro trimestre de 2023. O calendário mais recente aponta para o terceiro trimestre de 2023 e contempla o fecho da ligação, por quatro meses, entre o segundo e terceiro trimestres do próximo ano.

Ainda mais tarde estará pronta a obra no troço Torres Vedras-Caldas da Rainha. A IP aponta o início da intervenção para o início do próximo trimestre e o final dos trabalhos para o fim de 2023, três meses mais tarde do que estimado no ano passado.

A linha de Cascais deverá ser finalmente renovada no final de 2023, com a gestora das linhas de comboio a apertar o calendário das obras: em vez de três anos completos, a empresa prevê que os trabalhos fiquem prontos em metade do tempo, a começar no terceiro trimestre de 2022.

A IP também apertou o calendário da eletrificação da linha do Algarve, que já deveria ter catenária, segundo a previsão de 2016. Em meados deste ano, a gestora de infraestruturas prevê o troço Lagos-Tunes apenas leve sete trimestres a ficar pronto - em vez de nove. Entre Faro e Vila Real de Santo António não há mexidas.

Por as obras ficarem prontas no final de 2023, não significa que os comboios elétricos possam imediatamente entrar em circulação. A IP recorda que as fases de testes ou certificação "não estão incluídas nas empreitadas".

Será preciso aguardar pelos primeiros meses de 2024 para usufruir de ganhos de tempo e de velocidade devem-se à introdução de modernos sistemas de sinalização e da substituição dos comboios a diesel por material elétrico, com melhor aceleração. Não há mais benefícios para passageiros e mercadorias porque os troços vão manter as mesmas curvas e pendentes.

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