O governo e as universidades e politécnicos andam num roadshow pelos países com maiores comunidades de emigrantes a tentar seduzir os lusodescendentes para virem estudar para Portugal. Na teoria, a ideia é divulgar o programa que quer atrair estudantes internacionais para o ensino superior português e "reforçar a ligação à diáspora", mas na prática passa muito também por trazer investimento para o país e ajudar a travar a quebra demográfica nas universidades do interior..Luxemburgo, França, África do Sul, Alemanha, Bélgica, Estados Unidos da América e Suíça. Estes são os países por onde vão passar as jornadas em que os emigrantes vão ser informados de que existe um contingente especial no ensino superior português para lusodescendentes, para os quais estão reservadas 7% das vagas em qualquer curso na 1.ª fase de acesso. Isto porque "o canal de divulgação da medida tem falhado", admite o secretário de Estado da Ciência e Ensino Superior..João Sobrinho Teixeira esteve em Paris no final do mês passado numa espécie de operação de charme junto dos lusodescendentes, a quem prometeu "uma atitude de grande acomodação". "Há vontade de Portugal em receber as suas comunidades, de termos cursos supletivos de português para ajudar na integração desses alunos. O que falhou até agora foram os canais de divulgação e de motivação. Há uma atitude de grande acomodação por parte de Portugal, o país que ainda é vosso, que é dos vossos pais e avós, aberto para vos dar formação.".Formação superior que muitos lusodescendentes não recebem, como percebeu o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, que esteve em Paris para vender a imagem do ensino superior português, mas também para avaliar a medida do governo. "E a ideia parece-me boa", resume António Fontainhas Fernandes. O também reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro conhece bem a realidade do interior do país, há muito ameaçado pela queda de população, e vê aqui uma oportunidade para ajudar a travar a quebra demográfica, mas também para a criação de negócios.."O emigrante comum tem uma capacidade financeira acima da média em relação a quem reside em Portugal, tem capacidade para pagar os estudos dos filhos, mas, por alguma razão, os lusodescendentes não seguem em grande número para o ensino superior. Portanto, há aqui uma oportunidade para qualificá-los e tornar esses jovens os novos empreendedores do país", defende Fontainhas Fernandes, que encontrou em França uma comunidade muito aberta para manter a ligação a Portugal. "Muitas vezes, os emigrantes só não regressam porque os filhos continuam lá. Esta podia ser uma oportunidade para promover o regresso da diáspora, que também traz espírito empreendedor às suas zonas de origem, com a criação de negócios"..Custo de vida mais baixo e ligação emocional.A segurança, o clima, o custo de vida mais baixo - apesar de Portugal até ter propinas mais altas do que, por exemplo, a França, onde um curso superior no 1.º ciclo custa 184 euros/ano - "mas também o facto de as nossas universidades já estarem nos melhores rankings mundiais", são os principais argumentos apontados por Fontainhas Fernandes para atrair os jovens lusodescendentes. A que se juntam a língua e a ligação emocional, acrescenta Pedro Dominguinhos, presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, que acredita que há potencial para "duplicar ou triplicar" o número de lusodescendentes a entrar nos cursos portugueses..Também os politécnicos, muitos ligados a cidades do interior do país, veem aqui uma oportunidade para inverter a diminuição de alunos. "O principal objetivo da medida é manter a ligação dos lusodescendentes ao país, é uma prioridade diplomática, mas a questão demográfica é também muito importante. Há um grande esforço dos politécnicos para atrair estudantes internacionais, é uma das estratégias para combater a quebra de alunos, e que tem dado frutos. A procura de alunos estrangeiros tem sido muito grande.".Mas apesar de aplaudirem a ideia do governo, os representantes de universidades e de politécnicos deixam um mesmo aviso: tem de haver continuidade nesta política, "ninguém está à espera que no próximo ano cheguem já milhares de lusodescendentes ao ensino superior português". Um pedido ao qual Sobrinho Teixeira respondeu em Paris, garantindo que esta aposta, "que faz parte da política de internacionalização, vai continuar nos próximos anos"..No final do próximo mês, as jornadas de divulgação vão decorrer nos Estados Unidos da América, na Feira/Conferência NAFSA, em Washington DC, que a Direção-Geral do Ensino Superior descreve como "um dos principais encontros internacionais dos responsáveis pela internacionalização das instituições de ensino superior e de investigação". Segundo dados do governo, o número total de estudantes de origem e residência no estrangeiro em Portugal aumentou 48% desde 2015, somando hoje cerca de 50 mil estudantes e representando cerca de 13% do total dos estudantes de ensino superior em Portugal..Explicador:.Quem pode concorrer A primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior tem 7% de vagas reservadas para emigrantes ou lusodescendentes. Podem, portanto, concorrer emigrantes portugueses ou familiares que com eles residam, como os filhos..Condições para concorrer - Apresentar candidatura no prazo máximo de três anos após o regresso a Portugal. - Diploma de curso do ensino secundário do país estrangeiro de residência ou nele obtido que aí constitua habilitação de acesso ao ensino superior e que seja legalmente equivalente ao ensino secundário português; ou a titularidade de um curso de ensino secundário português. - Residir, à data da conclusão do curso de ensino secundário, há pelo menos dois anos, com carácter permanente, em país estrangeiro. - Não ser titular de um curso superior conferente de grau português ou estrangeiro. - A candidatura é submetida online..Provas de ingresso - Realizar os exames finais de ensino secundário português para efeitos de comprovação das provas de ingresso. - No caso de ser titular de um curso de ensino secundário estrangeiro, requerer a substituição das provas de ingresso portuguesas pelos exames finais estrangeiros daquele curso.