O investimento para reequipar as Forças Armadas vai aumentar 20 milhões de euros no próximo ano, prevendo-se que o bolo total até 2030 ronde os cinco mil milhões, soube o DN..Com a discordância do Exército, a proposta de revisão da Lei de Programação Militar (LPM) é apreciada nesta sexta-feira em Conselho Superior de Defesa Nacional. Depois de aprovada em Conselho de Ministros, deverá ser entregue no Parlamento em meados de outubro..O aumento progressivo - e significativo - das verbas disponíveis em cada ano para investimento nas Forças Armadas reflete o compromisso de Portugal, assumido no quadro da NATO, de aproximar o orçamento militar da meta dos 2% de despesas anuais com a Defesa..Politicamente, o volume de verbas em causa - e a luz verde prévia do ministro Mário Centeno - acaba por representar uma vitória do ministro Azeredo Lopes, após meses sob fogo cerrado e grande desgaste (desde logo por causa do furto de material de guerra em Tancos, em junho de 2017)..O documento ficou definido na terça-feira, primeiro em Conselho de Chefes de Estado-Maior (CCEM) e depois no Conselho Superior Militar - órgão em que o governo ouve a posição dos líderes militares..O parecer negativo do Exército resultou da posição unânime tomada na mesma manhã pelos generais, no Conselho Superior do ramo. Mas esta posição, de acordo com diferentes fontes, centra-se nas prioridades de aquisição das suas capacidades..Na base das reservas expressas pelo general Rovisco Duarte estará ainda a perceção de que a Marinha e a Força Aérea são beneficiadas nos primeiros anos dos três quadriénios da LPM (2019-2030), pois - ao contrário do que sucedia até aqui - o critério deixou de ser a repartição mais ou menos equitativa das verbas..Uma alta patente do Exército considerou natural que o ramo assuma a sua discordância com as prioridades da nova LPM nesta fase de audições do poder político, assumindo depois e sem reservas o diploma conforme for aprovado no Parlamento..Prioridade a capacidades aeronavais.Com o critério político a privilegiar a compra das capacidades prioritárias para o país, independentemente do ramo que as vai ter, o Exército acaba por ver protelada no tempo a concretização de programas que considera importantes - como, por exemplo, as componentes de apoio de fogos, apoio de combate e de serviços..A modernização das viaturas blindadas Pandur (de oito rodas) e dos carros de combate Leopard, eventualmente prevendo-se a aquisição de mais alguns destes meios pesados da Cavalaria, também deverão ser objeto de algum deslizamento no tempo.."Vai haver uma revolução na LPM", reconheceu uma das fontes, dada a importância atribuída nos próximos anos à aquisição de navios e aeronaves - até por serem projetos politicamente relevantes face ao seu impacto na economia portuguesa e a nível do emprego..É o caso da compra das aeronaves de transporte KC390 - em que partes do modelo são produzidos nas fábricas da brasileira Embraer em Évora - e de oito navios para a Marinha (seis patrulhas oceânicos, um reabastecedor e outro de transporte logístico), que poderão ser construídos em estaleiros nacionais..Os KC390 vão substituir os Hércules C-130, já impedidos de voar em muitas zonas da Europa, enquanto os navios destinam-se a modernizar a velha frota de corvetas e o reabastecedor Bérrio - além de finalmente suprir a lacuna ao nível do transporte naval..Em termos de repartição das verbas, os serviços centrais do ministério vão ficar com a fatia de leão das verbas (próximo dos dois mil milhões de euros). Isso explica-se por ficar aí centralizada a gestão das grandes compras, como os KC390 e os navios..Essa opção, aceite pelos ramos, é uma consequência de o Ministério da Defesa - leia-se o Estado - ter de negociar os valores globais dos contratos e os calendários de pagamentos anuais..Exemplo disso é o dos KC390, com diferentes fontes militares ouvidas ao longo das últimas semanas a exprimir o receio de que esse programa acabasse por retirar verbas dos restantes projetos - levando a adiar, por exemplo, a reparação do segundo submarino nos estaleiros do Arsenal do Alfeite..Curiosamente, uma das fontes interrogou-se quanto à opção de reparar os submarinos no Arsenal - porque, permitindo a modernização dos estaleiros e fazendo que as verbas envolvidas fiquem numa empresa nacional, poderá sair mais cara do que levar os navios à Alemanha..Porquê? Porque, no acordo de maio entre o fabricante alemão, a Marinha e o Arsenal, não haverá qualquer obrigatoriedade de outros países colocarem os seus submarinos nos estaleiros portugueses - ficando assim em causa o retorno do investimento na modernização da empresa..De alguma forma foi o que acabou por suceder, afetando mais o Exército. A verdade é que este ramo, à luz dos anos anteriores, acaba por não utilizar as verbas inscritas devido aos cancelamentos e atrasos sistemáticos na sua execução - como é o caso das pistolas ou da sucessora da G3..Essa realidade, que pode favorecer a retenção de verbas não usadas por parte das Finanças nos anos seguintes, deverá levar os ramos a executar a quase totalidade dos montantes anuais inscritos na LPM..É também nesse sentido, assinalaram algumas fontes, que deve ser lida a recente decisão ministerial de os ramos adquirirem material já existente no mercado e sendo os concursos realizados através da NATO..Quanto ao Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) e aos ramos, a prioridade dada aos referidos programas estruturantes acabou por recalendarizar e reorganizar a programação das compras. Contudo, os projetos e os respetivos montantes continuam inscritos na revisão da LPM, reconheceram as fontes..A atual LPM, aprovada em 2015, voltará a ser revista em 2022. A Marinha é o ramo com mais verbas, pouco mais de 1000 milhões de euros, seguindo-se a Força Aérea com mais 800 milhões e o Exército com mais de 750 milhões. No fim está o EMGFA, com pouco mais de 100 milhões - parte importante dos quais dirigidos para capacidade de ciberdefesa.