Surto em Lisboa. Hospital Militar de Belém já começou a receber doentes com covid

O aumento de casos de covid-19 na Grande Lisboa está a levar ao limite as capacidades de internamento e pelo menos duas unidades hospitalares pediram apoio à ARS.
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O recentemente reabilitado Hospital Militar de Belém - designado Centro de Apoio Militar (CAM) Covid-19 - está desde quarta-feira (17 de junho) a receber os primeiros doentes infetados com o novo coronavírus, cerca de dois meses e meio depois de ter sido inaugurado pelo primeiro-ministro, António Costa. Três doentes foram transferidos ao início da noite de quarta-feira, mas foram chegando mais durante quinta-feira.

O surto de novos casos que está a atingir a Grande Lisboa levou a que algumas unidades hospitalares pedissem às autoridades de saúde apoio para a gestão dos doentes infetados. O DN conseguiu confirmar que alguns dos doentes recebidos em Belém foram reencaminhados pelo Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), de acordo com fontes que estão a acompanhar a situação.

O Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) também solicitou apoio à rede de saúde pois estava a atingir o limite da capacidade de doentes em cuidados intensivos. O porta-voz do CHULN confirmou ao DN essa situação, que terá sucedido na semana passada, mas garantiu "que neste momento está tudo controlado e com camas disponíveis".

O Ministério da Defesa confirmou ao DN que "após a solicitação da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARS LVT), o Centro de Apoio Militar Covid-19 começou a receber utentes do Serviço Nacional de Saúde, ontem à noite".

O DN pediu também informações à ARS LVT sobre esta solicitação, mas fonte oficial apenas respondeu que a ARS "o que faz é promover a articulação para uma resposta em rede" e que "não se pronuncia sobre doentes/utentes que estiveram e estão em unidades hospitalares".

Segundo a porta-voz do gabinete do ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, "de acordo com o protocolo estabelecido com a ARS LVT, o CAM Covid-19 tem condições para receber até 30 doentes, existindo para isso uma estrutura logística e administrativa e uma estrutura clínica em funções, com cerca de 50 militares do Exército".

Duas equipas médicas em funções

O investimento na reabilitação do antigo Hospital Militar de Belém começava a ser questionado em alguns círculos, tendo em conta que não tinha ainda recebido nenhum doente. O gabinete de Cravinho explica que "numa primeira fase o CAM Covid-19 não recebeu doentes, por inexistência de solicitações do Serviço Nacional de Saúde", mas que "agora que a sua capacidade começou a ser solicitada, funcionará como unidade de apoio de retaguarda, assumindo-se como um ativo importante com o qual as autoridades de saúde podem contar".

A mesma fonte oficial assinala que "a estrutura clínica dispõe, no imediato, de duas equipas médicas constituídas por médicos, enfermeiros e socorristas, preparadas para uma atuação permanente de 7x24h" e que "as referidas equipas são constituídas por recursos humanos tecnicamente habilitados e contextualizados com as normas de higienização vigentes, encontrando-se já treinadas e adaptadas à estrutura do CAM Covid-19".

O Ministério da Defesa lembra que "foi para servir este propósito que, em março de 2020, atendendo à situação de pandemia que também Portugal enfrentava, se decidiu edificar mais esta capacidade do MDN e das Forças Armadas," tendo, juntamente com o Exército, adaptado "esta infraestrutura para que pudesse responder à crise pandémica e a eventuais pedidos de apoio do Serviço Nacional de Saúde".

Capacidades de tratamento desconhecidas

O DN questionou também o ministério sobre as capacidades de tratamento que tinham sido ativadas, mas não obteve resposta. Na fase inicial do projeto de reabilitação o major-general Esmeraldo Alfarroba, médico pneumologista e antigo diretor desta unidade, acabou por se demitir por discordar do plano que não previa sequer reativar sequer os antigos circuitos de oxigénio essenciais aos doentes com problemas respiratórios.

Apesar de o antigo HMB ter tido todas as infraestruturas necessárias para o tratamento de doenças infetocontagiosas (como a tuberculose multirresistente), com quartos de pressão negativa (que estancam o ar e evitam contágio), ventiladores e uma unidade de cuidados intensivos, a reativação destes equipamentos não terão sido reabilitados.

A ARS remeteu para o Exército e para a administração do hospital as informações sobre essas capacidades, mas o Exército não autorizou o contacto com o diretor do CAM, o brigadeiro general Carlos Lopes. Desconhece-se, portanto, que tratamentos estão disponíveis e para que tipo de doentes.

Nas últimas 24 horas foram confirmados em Portugal mais 417 casos de covid-19 (um aumento de 1,1% em relação ao dia anterior), sendo 78% deles localizados na região de Lisboa e Vale do Tejo. Ou seja, dos 417 novos infetados, 325 vivem na Grande Lisboa.

Apesar do esgotamento da capacidade de algumas unidades em Lisboa, segundo o boletim da DGS desta quinta-feira houve uma diminuição global no país no número de internamentos: estão internados 416 doentes (menos 19 do que ontem) e, destes, 67 encontram-se nos cuidados intensivos (menos dois).

Desde 11 de de junho, aliás, que não havia tão poucas pessoas hospitalizadas por causa da pandemia. Nesse dia, estavam internados 415 cidadãos (70 em cuidados intensivos).

O próprio Hospital das Forças Armadas, em Lisboa, a unidade com equipamento de ponta que tem centralizado o apoio ao Serviço Nacional de Saúde, continua com cerca de 80 camas disponíveis, entre as quais seis para cuidados intensivos.

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