Rui Rio: "Cabem cá todos no PSD desde que estejam com seriedade e lealdade"
Rui Rio, no seu estilo informal, assumiu a vitória perante os seus apoiantes que encheram a sala de um hotel no Porto, com a garantia que "agora quero ganhar o País". E quase numa resposta imediata ao repto que lhe tinha sido lançado pelo candidato derrotado à liderança, mostrou-se disponível para a unidade do partido. "Um voto a mais, se eu tivesse perdido, não iria infernizar a vida a ninguém", disse em jeito de recado a Luís Montenegro, que, minutos antes, pedia unidade no PSD.
"Tal como há dois anos, cabem cá todos cá dentro desde que estejam com seriedade e lealdade", disse, sublinhando que o adversário é o PS e a geringonça e não o PSD. Mas deixou ainda claro que não voltará a repetir-se com Montenegro - apesar dos 47% que o opositor conseguiu nas diretas - o que fez quando ganhou a liderança a Pedro Santana Lopes e negociou uma lista conjunta para o Conselho Nacional do partido. "Desta vez vou ceder a todos os que se zangaram comigo nessa altura, e vai haver uma lista própria". Santana Lopes acabou por sair do partido em cisão com a liderança de Rio.
No discurso de vitória disse estar "amarrado" a três objetivos. O reforço da implantação autárquica e as regionais dos Açores que se realizam já este ano, e cujo candidato do partido à liderança do governo regional é José Manuel Bolieiro. Sobre as eleições autárquicas de 2021 deixou novamente um recado aos militantes: "Câmara a câmara não podemos escolher os amigos nem líderes de fação. Temos de escolher os melhores". Voltou a lembrar que não prometeu nada a ninguém e, por isso, "não estou preso a nada".
Rio disse querer ainda oferecer um partido mais atraente e desafiou quem lhe disse que entraria no partido se ganhasse a fazê-lo, mas também os que nunca consideraram essa hipótese, nomeadamente através da participação no Conselho Estratégico Nacional.
E por fim o desígnio de ser uma "oposição forte ao PS, mas construtiva e mobilizadora".
Minutos antes tinha sido Montenegro a fazer o seu discurso, de derrota, onde apelou à unidade.
"Não vale a pena anunciarem a minha morte política porque a notícia é manifestamente exagerada". Foi com esta frase célebre que Luís Montenegro deixou margem para protagonizar uma nova candidatura à liderança do partido no futuro. Ainda que garanta que vai voltar à condição de militante de base e estará disponível para ajudar nos próximos combates políticos do PSD.
Sem parabenizar Rui Rio pela vitória, no seu curto discurso de derrota, apelou imediatamente ao líder reeleito para que leve o partido aos sucessos eleitorais já nas regionais dos Açores deste ano e das autárquicas de 2021. O antigo líder parlamentar pediu, sem colocar em causa o resultado eleitoral, que Rio interprete os 47% que conseguiu nesta segunda volta, tal como os maus resultados do PSD nas eleições europeias e legislativas. "O partido relegitimou Rui Rio e deu-lhe uma nova oportunidade de inverter o ciclo de maus resultados".
"É tempo do PSD ter unidade. Todos temos de contribuir e acabar com a cultura de fação e as divisões insustentáveis", disse, numa farpa a Rio que sempre foi implacável com os críticos. Mas com um ricochete, já que foi o próprio Montenegro que desafiou há um ano a liderança. "A unidade começa na liderança e no líder. Rui Rio que devolva esta unidade ao partido".
Rodeado pelos seus apoiantes - casos das antigas ministras Maria Luís Albuquerque e Paula Teixeira da Cruz, da sua mandatária nacional, a líder da JSD, Margarida Balseiro Lopes, entre outros - Luís Montenegro voltou à ideia de que o partido só singrará eleitoralmente se "se constituir como uma oposição firme e exigente".. Para que "alicerce uma alternativa política diferenciadora que ofereça uma solução de governo diferente do PS e de António Costa".
Garantiu que vai ao congresso do partido no início de fevereiro expressar a sua opinião e a "ajudar o partido", disponível para o que o PSD "quiser e solicitar". Mas descartou uma candidatura autárquica.
O resultado final acabou por ser de 53,02% (16 420) para Rui Rio e de 46,98% (14 547) para Luís Montenegro. Num universo de 40628 inscritos, votaram 31295
O candidato que não passou à segunda volta, Miguel Pinto Luz, foi dos primeiros a felicitar Rio "pela vitória e por ter merecido a confiança dos militantes", no Facebook. "O PSD precisa, depois deste período de disputa interna, de voltar a ser uma opção credível e a verdadeira alternativa ao atual Governo. O PSD contará com a minha militância leal e interventiva, como sempre desempenhei.", escreve.
Mauro Xavier, a antigo líder da concelhia de Lisboa e apoiante de Miguel Pinto Luz, também já deu os parabéns ao "presidente reeleito do PSD" também no Facebook. "Enquanto apoiante do Miguel Pinto Luz estou disponível para ajudar a unir o partido!", diz.
Rui Rio saiu vencedor em Santa Maria da Feira (distrito de Aveiro), uma das grandes concelhias do partido e reforçou a votação no Porto. Somou ainda as distritais de Santarém, Faro, Guarda e Vila Real.
Luís Montenegro também conseguiu uma vitória expressiva em Barcelos (distrito de Braga). O antigo líder parlamentar também venceu nas distritais de Leiria, Viseu e de Braga e na Área Oeste de Lisboa, tal como no passado sábado. E conseguiu ganhar na maior distrital do país, a de Lisboa, que tinha dado a vitória a Miguel Pinto Luz, com uma vantagem de 1182 em relação a Rio.
Durante a tarde, os dois candidatos manifestaram-se confiantes na possibilidade de vitória, embora o recandidato à presidência do PSD e que teve a maior vantagem eleitoral na primeira volta, foi mais cauteloso. "Estou confiante, mas tenho sempre de pôr dois cenários, nunca se sabe", disse Rio aos jornalistas depois de votar na sede do PSD no Porto, acrescentando que "até poderia pôr três [cenários], mas um empate é estatisticamente difícil".
Na primeira volta, Rui Rio conseguiu 49,02% (15.546 votos) e ficou a 344 votos da maioria, e o antigo líder parlamentar 41,42% (13.137 votos). Rui Rio vai acompanhar a noite eleitoral num hotel no Porto e Luís Montenegro em Lisboa, também numa unidade hoteleira.