Covid-19. Portugal tem taxa de letalidade de 3,3%. A média europeia é de 8,6%
Países que mais testam obtêm as taxas de letalidade mais baixas.

Em Portugal, morreram 599 pessoas por covid-19, desde o início da pandemia.
© Gonçalo Delgado/Global Imagens
Divide-se o número de mortes pelo número total de infetados e multiplica-se por cem. É assim que se encontra a taxa de letalidade, ou coeficiente da letalidade, de cada país. Nesta quarta-feira, segundo o boletim da Direção-Geral da Saúde, Portugal tem 18 091 casos confirmados de covid-19 e 599 óbitos. Ou seja, uma taxa de letalidade de 3,3%, que sobe a 10,7% no caso das pessoas com mais de 70 anos - as principais vítimas mortais da pandemia do novo coronavírus. Taxa inferior à Europeia, que se encontra nos 8,6%.
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No entanto, tem de ser feita a reserva: o número de infetados pode não corresponder ao verdadeiro total de casos, uma vez que estes dependem de testes positivos. Os países que mais testam encontram mais casos e, por isso, têm taxas de letalidade inferiores. "O grande problema é que nós não sabemos o número de infetados. O que nós sabemos são só os notificados. Só se encontra aquilo que se procura. Se só se apanhar os graves e os que morrem, as taxas de letalidade parecem altíssimas", alerta o infeciologista Jaime Nina, do Hospital Egas Moniz e professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical.
É o caso da Alemanha, que tem das menores taxas de letalidade da Europa - 2,7% -, mas também da Coreia do Sul (2,1%) ou da Nova Zelândia (0,64%). Países que mais tiveram em conta a indicação da Organização Mundial da Saúde de "testar, testar, testar". "A Alemanha faz mais testes num dia do que Portugal fez desde o início da pandemia até agora", diz Jaima Nina.
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"Um colega meu que está na Suécia a trabalhar na covid faz testes dia sim, dia não. Os meus colegas [do Hospital Egas Moniz, em Lisboa] que estão a trabalhar na enfermaria da covid, até agora, nenhum fez um teste. Só fazem testes se tiverem febre e tosse", continua o infeciologista.

Jaime Nina, infeciologista do Hospital Egas Moniz e professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical.
© Arquivo Global Imagens
Em Portugal, desde o primeiro dia de março foram feitos mais de 200 mil testes de despiste de covid-19 no país, informou o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, em conferência de imprensa, nesta quarta-feira. Em stock, existem mais de 35 mil testes.
António Lacerda Sales indicou ainda que a taxa de letalidade no país "é de cerca de 5,5 por cada cem mil habitantes. É uma taxa inferior à da maioria dos países da Europa. Com menor taxa estarão a Alemanha e a Áustria". A taxa portuguesa ao dia de hoje é de 3,3%, quando a média do mês de março apontava para 2,3%, de acordo com um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública.
"Nós, neste momento, estamos a classificar como mortalidade por covid todas as pessoas que falecem por covid, independentemente da causa básica. Isto quer dizer que, do ponto de vista técnico, podemos ter um número de óbitos maior comparativamente com outros países que classifiquem de forma diferente. Estamos com a malha o mais larga possível", esclareceu Diogo Cruz, subdiretor-geral da Saúde, em conferência de imprensa.
Apesar de estar a subir, a taxa de letalidade portuguesa encontra-se entre as mais baixas. A Bélgica, por exemplo, um país com uma população idêntica à de Portugal (11,46 milhões de habitantes, quando Portugal tem 10,28 milhões) e onde o novo coronavírus registou os primeiros casos confirmados na mesma altura - no início de março -, tem uma taxa de letalidade de 13,2%.
Também Itália e Espanha revelam taxas mais elevadas, o que, segundo o infeciologista Jaime Nina, pode ter que ver, mais uma vez, com a falta de capacidade de testagem. "Há uma grande subnotificação em Portugal, mas uma ainda maior em Espanha e em Itália, que já ultrapassaram os seus recursos", diz o especialista.
Ultrapassada a barreira dos dois milhões de casos de covid-19 no mundo inteiro, nesta quarta-feira, a taxa de letalidade é agora de 6,3% - abaixo da europeia (8,6%). Já a China - onde surgiu o surto no final do ano passado - apresenta 4%.
Caracterização dos óbitos em Portugal
Entre as 599 pessoas que morreram, 296 eram mulheres e 303 eram homens. A maior parte das vitimas mortais tinha mais de 70 anos e não existem óbitos declarados de pessoas com menos de 39 anos.
A nível demográfico, a maior concentração de mortes encontra-se a norte, mas a taxa de letalidade é maior na região centro por causa da estrutura demográfica. Ou seja, será onde se encontram pessoas mais velhas e onde há uma maior concentração de lares.
Só no Alentejo e na Madeira ainda não há registo de nenhuma vítima mortal.
